Crónica João Pais #42

João Pais, cronista

Venham mais três

De uma assentada que eu vejo já.
Assim parecido cantava Zeca, alertando consciências.
Andamos que nem podemos, esta rotina do esconde e foge pegou no ano de 2020 e esfrangalhou-o sem dó nem piedade, se dantes doseávamos a adrenalina numa cadência que deixava o corpo respirar e absorver, agora é um ver se te avias, ora se passou meio Verão castigador que nem vê-las para agora nos aparecerem aos borbotões, chegam a ser três de enfiada e não há queixas, com isto está aí Le Mans à porta e com chuva, dizem-nos.

Na classificação andamos na mesma inconstância avassaladora, parece que não temos sossego, se parecia inclinada a coisa para Quartararo surge agora Mir de faca na liga, dois meninos que andavam tapados pelo papão Marc Marquez que agora estraçalham a ceia real sem dó nem cerimónias.

Logo seguidos esses dois pelos reis daquele célebre refrão, ‘rola a mota, você diz que rola que rola, você diz que rola na mota, na mota você não rola’, não sei se canta mesmo assim a melodia mas andarão lá perto os dizeres lá isso andarão, Viñales e Dovizioso ameaçando que isto e mais aquilo mas depois nem meio isto nem viste aquilo, vendo chegar perto de si Morbidelli, Miller e Nakagami, um trio com sede ao pote, e logo de enfiada, com poucos degraus na escadaria, Oliveira liderando um quarteto que inclui os parceiros kamikaze da KTM, Pol e Brad, mais o histórico e mui respeitável Valentino, que se não é este ano para o ano é que vai ser na Petronas, cá estaremos para ver, vocês vão ver.

E ainda, como escutávamos ansiosos no saudoso programa Um, Dois, Três (haja alguém que ainda lembre o pregão), e ainda um Bagnaia com baterias recarregadas chegando com um brilhozinho nos olhos, mais Zarco, esse senhor montanha russa que ora quase chega, ora quase fica em pista, maior parte das vezes colectando azarado na sua roda.

E é neste estado de definida indefinição que chega mais uma rodada, um copo de três, chamemos-lhe assim, aprés Le Mans nos marchamos à Aragón, e agora a coisa pia mais fino, a KTM desempoeirou-se, chegou-se aos da frente, já pedimos a Q2 directa e apostamos em num TOP 10 sem gaguejar, mesmo P5 já não nos envergonha pedir, se chove em França é bom porque o Miguel é bom de barbatana, se não chove é bom na mesma porque o Miguel sabe da poda, que graúdos andamos neste soufflé de pandemia que nos serviram.

Por cá pelo burgo e arredores continuamos com a sementeira, Ivo e Pedro vão a Espanha desfilar dotes, Martim Marco também, Fragoso prossegue sua evolução a nível mundial nas SSP300 enfrentando a chuva e os melhores, em Portimão Carlota Carochinho e Pedrinho (Pedrão?) Matos trataram de conservar o doce sabor da vitória, por ali com Lourenço Vicente, Rafaela Peixoto e Martim Jesus subindo os três degraus da glória, com Bárbara Magro na luta.

Ando por aqui e por ali em busca de novas para vos trazer, tropeço em Cartaya, estreia mundial na minha geografia motociclista, de lá me chegam imagens de quem treina duro, Salo55, Afonso Almeida e Capote76, num Team Dias que parece saber apostar, ai Jesus nosso senhor como irei eu fixar e acompanhar tanto nome, certo de que neste parágrafo alguém deixei de fora, bom sinal eles são muitos, mau sinal por vezes a informação é tão dispersa que perdemos o fio à meada, o Kiko Maria quase a regressar, e nós cada vez mais a sentir que valemos a pena, vale a pena estar lá com esta gente toda, segui-los, consumir sua informação, tornarmo-nos no exército que na sombra desafia a ousadia de patrocínios, venham de lá minha gente empresária, está um mundo prontinho para dar retorno à vossa aposta.

É hoje terça-feira, num aprendizado de feiticeiro já sei contar os dias da semana de modo a custar menos, depois de amanhã já temos conferência de imprensa, isto assim dito até parece que já começou, depois vem a sexta-feira que nos trará uma certa classificação de Oliveira, se for boa estamos em grande, Vive la France, se a coisa não correr bem de imediato se perfilarão dois exércitos, o do ‘ isto assim não vai lá ‘ contra o ‘ tenham calma que ainda falta amanhã’, é gente amiga e do mesmo bairro oitentaioitista, mas que sofrem de maneiras diferentes, cursaram seus saberes em faculdades diferentes, uns vão ao Cabo da Roca ao domingo, outros passeiam em paisagens melancólicas numa beleza de solidão ímpar, o único desgraçadinho que não senta em duas rodas é o vosso escriba que já se esqueceu de sua primeira paixão no género, uma Gilera 50 Trial que ainda lhe encantou umas tardes de Verão nos idos de 70 do século passado, mas que agora é mais bolos.
Bolos e teclas.

Pois bem, venha de lá então essa trilogia franco-hispânica, que Le Mans e Aragão tragam mais glória ao nosso Falcão, parecendo que não ajuda e não é pouco, neste tempo em que se o vizinho anda de máscara é dos esquisitos, se não anda é dos atrevidos, isto chega a parecer as qualificações do Miguel, a pessoa já nem sabe se vira a Norte, se ruma a Sul ou se nem uma coisa nem outra.

Nos entretantos, Portimão vai-se engalanando de vedetas, chegam os pilotos de teste, chegarão os pilotos de corrida mas com motas assim tipo normais mas ‘em especialmente bom’, num tirinho arribará a F1 e logo de seguida a malta já só se imagina pela A2 abaixo, pela Via do Infante, pela 125, vai ser uma romaria de esperançosos, de bardos cantadores da glória lusa, trajando azul e laranja como se as cores da bandeira nacional fossem, ai Miguelito, como te chama a Dina que percebe de motas a rodos e que é algarvia, ai o que tu nos arranjaste de emoção, bem podemos cuidar dos novos que tanto querem seguir-te o caminho.
Como?
Seguindo-os, minha gente, seguindo-os que eles andam por aí.
E nós com eles.