Xico Patife, o Salteador
Em tempos escrevi-vos sobre Reis, o Cubista.
Tratava essa prosa de um dos nossos brilhando bem alto, um endurista de gabarito mundial, e na altura foi um prazer escarafunchar e descobrir caminhos por onde brilham outros heróis.
Pois bem, por estes dias deu-se nova investida a outros mundos, nestes fins-de-semana em que o MotoGP nos dá alforria aos horários, largando-nos liberdade em cima da sexta, sábado e domingo, a pessoa anda tão embrenhada em modo moto que acaba por ir dar um giro para dar ao corpo aquela adrenalina a que o habituou.
Se no caso de grande parte dos leitores a coisa se faz montando em sua amada de rodas e ‘ala que se faz tarde’, já por aqui é mais leituras em torno de quem é quem e vai aparecendo nas cercanias da estrada que leva ao cume.
E onde fui desembocar então por estes dias?
Em boa verdade fui em passeio por links e páginas que ligam a páginas, neste mundo em rede por onde fomos aprendendo novas viagens, andava distraído pesquisando pequenos novos campeões quando dou de caras com a redacção de um Grande Pequenote, dissertando acerca do mundo onde entrou e por onde pretende ficar com a certeza infinita que cabe na cabeça de uma criança a caminho de rapaz, pelos vistos bem influenciada e apoiada.
Pelos vistos, porquê, questionar-me-ão!
Por isto … Cristiano Fernandes.
Decacampeão Nacional de Supermoto.
Assim dito a frio até custa a trocar por miúdos, mas é isso, dez vezes campeão nacional é obra senhores leitores, o Piloto do Oeste como percebo que alguns lhe chamavam, saltava forte, alto e longe pelo que descortino, levava a moto em rédea bem apertada por montes, vales e montanhas, que é como quem diz pelas pistas de terreno de tudo e mais alguma coisa que lhe punham pela frente.
É pois o Wild Fernandes versão filho quem por acaso desencanto em suas letras e mensagem, nisto de letras a coisa pia mais fino e toca-me mais fundo, mas o que nos escreve o pequeno Patife?
Reza assim o que me fez sentar e apreciar:
‘Mas é a minha paixão. A Nossa paixão. Uma luta constante contra o relógio. Contra os elementos. Contra os outros. Tenho o talento natural e a força de vencer, o resto vem deste velhote aqui na foto, as horas a preparar a moto, os kms na estrada, na pista, o coração apertado, o marketing para conseguir apoios. Estamos e estaremos cá para o que der e vier. ‘
Gosto.
Gosto do que leio e adivinho, prossigo em minha curiosidade.
Com ano e meio desenrascava-se nas pequenas bicicletas de equilíbrio, sem rodas nem pedais, seis meses depois era vê-lo ‘dropar’ as rampas do Skate Park em Torres Vedras, um menino de dois anos fazendo de Harry Potter em sua vassoura de duas rodas, voando nos obstáculos, no sonho e na liberdade infinita que cabe na gente daquele tamanho.
Chegou então um motor para dar mais cor à festa, da bicla saltou para a sua primeira moto, com quatro anos competiria pela primeira vez no Troféu Yamaha, que repetiria por três vezes melhorando sempre a sua classificação.
Andou já por Espanha, onde venceu uma prova que disputou na classe 50cc, por lá treina, por lá e por França, Bélgica e Holanda, terras de onde vêm os mais conceituados petizes e graúdos a nível mundial, e é disso que gosta o Chico Patife, de os olhar nos olhos e de com eles correr a saltar montes e desafios, chegam a andar lá pelos cinco metros, chegam a disparar quinze ou vinte metros em frente, ah miúdo dum raio, dito e escrito assim parece fácil, mas onde foste tu desencantar essas mãozinhas?… ao papá, já sei, mas deu-me vontade perguntar na mesma.
Este ano seria o da estreia no Campeonato Nacional, na classe infantis 50cc, mas o obstáculo que não se ultrapassou chama-se pandemia e a prova não se realizou.
Pois é, e o futuro?… esse quer-se ambicioso, quer o filho e quer o pai, tentam ambos que assim seja, em terra de poucos apoios, em geografias escondidas que parecem aferrolhar as esperanças e os sonhos de todos e de cada um, mas não, não será assim, o caminho vai ter de ser encontrado e o destino terá de ser um desses Campeonatos onde todos os sonhadores saltadores se esfarrapam, se enlameiam, se soltam voando, onde buscam a selvagem liberdade trazida na equação improvável que leva homens e mulheres a voar com asas feitas de coragem e pundonor.
Braaapppppp, como diria o Fausto Macieira.
Na tal página das redes sociais onde aterrei quase por acaso, a página deste Chico do Oeste que será Chico do Mundo, nessa página que me fez sentar e preparar um café para a ler com olhos de ler, terminava assim aquela publicação:
‘Estamos e estaremos cá para o que der e vier. Para as vitórias, para as derrotas, para os problemas e para as soluções. Sempre com a garra de um Fernandes, prontos para fazer história. Obrigado a todos os que nos apoiam nesta aventura que ainda está apenas a começar…’
Leio, releio e volto a gostar, moço que sabe o que quer, que saberá lamber as feridas e prosseguir, que se sabe de sangue de campeão, que se atira para fora de pé e nada forte na correnteza, quase dá vontade de seguir com ele, quase vos desafio a fazê-lo… e no fim, desfia todos aqueles que ainda estão na luta e que ajudam a que se transponham os obstáculos que a cada dia se levantam no trajecto de um campeão, os patrocinadores da alma nunca perdida.
Francisco Fernandes, o #113, tirando o cem só pode ser mesmo sinal de sorte, de sorte e do ano de nascimento, o Patife é um menino a fazer-se grande, inventa obstáculos para os superar com o skate, com a bicla ou com a trotinete, que isto é bicho bom de rua e de ar livre.
Por mim, não sendo especialmente mandatado para dar conselhos, ainda assim me atrevo, fixem este nome.
Busquem Francisco Fernandes e sigam-lhe os dias no Facebook.
E preparem uma bandeira, uma bandeira que reze assim:
Xico Patife.