A 9ª etapa do Dakar 2021 prometia algo de diferente em termos de cenário para todos os participantes no Dakar. Um “loop” entre Neom e Neom com 465 km de especial, a segunda mais longa de todas que iria levar os concorrentes até bem perto do Mar Vermelho serpenteando entre desfiladeiros rochosos, leitos de rios seco e muita pedra.
Foi também uma etapa que estava conotada com uma enorme carga emocional para todos, dado que foi neste mesmo dia que, há precisamente um ano, Paulo Gonçalves perdia a vida.
Toda a caravana homenageou Paulo Gonçalves levando um pequeno autocolante com o número 8, conjuntamente com outro tipo de gestos que honraram a memória do saudoso piloto da Hero.
A etapa 9 ditou também a sorte a Toby Price, o australiano tinha sido autor de uma etapa de antologia ontem quando chegou ao fim da maratona com um pneu traseiro reparado graças aos seus dotes de “McGyver”, mas ao km 155 uma queda atirava Price ao chão. O piloto da KTM era levado para o hospital em Tabuk onde se confirmava a fratura de uma clavícula que obrigava ao abandono do vencedor do Dakar em 2016 e 2019.
A KTM perdia assim o seu trunfo na prova e a Honda tinha um dia praticamente perfeito com os seus quatro homens a andarem todos eles ao ataque, por forma a segurar a liderança na etapa e na geral. No final do dia eram quatro as Honda nos cinco primeiros lugares com Kevin Benavides fazer uma prova brilhante num dia também recheado de emoções depois de ter sabido que o seu irmão Luciano foi obrigado a abandonar a prova por queda.
O chileno “Nacho” Cornejo está a ser a surpresa deste Dakar depois de mais um dia com um resultado brilhante dado que saiu na frente e conseguiu gerir os ataques dos seus adversários que a certa altura passaram a ser os seus colegas de equipa. Cornejo lidera a geral neste momento com 11m24s de diferença para Benavides.
Sam Sunderland que fechou o dia na 4ª posição não teve um dia fácil. Confrontado com a queda do seu colega de equipa Toby Price, Sunderland foi obrigado a parar mas quando retomou a corrida sofreu uma queda depois de embater numa pedra que lhe destruiu os instrumentos de navegação, sendo obrigado a seguir até ao final atrás de outros pilotos.
Quanto aos portugueses Joaquim Rodrigues não escondia a emoção no final da etapa, uma etapa extremamente difícil e complicada onde não conseguiu deixar de pensar em Paulo Gonçalves. Porém “J-Rod” mostrou uma força notável e concluiu os mais de 450 km da etapa na 13ª posição.
O seu colega de equipa, Sebastian Bühler, também teve um dia repleto de percalços quando partiu a torre dos seus instrumentos de navegação sendo obrigado a seguir até ao final a navegar à vista para concluir a etapa na 24ª posição.
Uma odisseia foi por aquilo que passou Rui Gonçalves na etapa de hoje. Depois da forte queda que sofreu ontem que lhe destruiu a moto, o piloto da Sherco era aconselhado pela sua equipa a trocar de motor para evitar problemas. Porém essa troca não resultou dado que a Sherco de Gonçalves recusou a colaborar, em inúmeras ocasiões, com problemas de alimentação levando a que Gonçalves tivesse que parar por diversas vezes. No final seguiu até ao “bivouac” a uma velocidade reduzida.
Jose Ignacio Cornejo (CHI) Honda: “Hoje foi uma etapa muito dura, com muitas pedras e muito longa. Comecei em primeiro e a ideia era abrir o mais rápido possível para que os meus adversários não fossem capazes de reduzir a diferença na classificação. O Toby Price, que saiu atrás, infelizmente caiu. Esta é daquelas notícias que nunca queremos ouvir – espero que não seja nada sério. No que diz respeito à etapa, como andei na frente praticamente todo o tempo, tive um dia muito longo e mentalmente difícil. Agora é hora de descansar e de me concentrar na etapa de amanhã.”
Kevin Benavides (ARG) Honda: “Podemos dizer que hoje foi uma especial muito difícil. Faz hoje um ano que morreu o meu amigo Paulo Gonçalves. Tentei fazer a melhor etapa possível e a vitória de hoje é dedicada a ele. Estou feliz com o trabalho realizado, mas também estou algo triste, pois no final da etapa soube que meu irmão tinha sofrido uma queda e que está lesionado. Entretanto já me disseram que ele está bem, o que me acalmou, mas mesmo assim foi um dia estranho. Faltam mais três dias e tudo pode mudar a qualquer momento, temos que nos manter focados até ao final.”
Joaquim Rodrigues (POR) Hero: “Faz um ano hoje que tudo aconteceu aqui no deserto e esta manhã foi muito duro para mim. Na ligação, as emoções começaram a tomar conta de mim e eu não sabia se iria conseguir arrancar hoje…. Arranquei, mas foi uma batalha muito difícil dentro de mim para tentar chegar ao fim, pois a etapa era muito perigosa. Passei pelo Toby Price, que estava caído, depois passei pelo Luciano Benavides que também estava caído, e então é que as coisas pioraram. Tentei me segurar para chegar ao final e fazê-lo pelo Paulo. Agora faltam três etapas para chegar ao fim.”
Sebastian Bühler (GER) Hero: “Hoje foi um dia muito complicado, por volta do km 280 a minha torre de navegação partiu e fiquei sem instrumentos até ao final da etapa. Apanhámos muitos perigos e o objetivo de hoje foi só́ mesmo chegar bem ao final. Dia difícil, também por fazer hoje um ano em que perdemos o nosso grande amigo Speedy.”
Rui Gonçalves (POR) Sherco: “Dia muito difícil e longo hoje, acordei muito dorido da queda de ontem e tive problemas mecânicos ao longo do dia que me obrigaram a parar e a reparar a moto ao km100, conseguindo chegar mais ou menos ao km 400 e depois os últimos 50km foram duros pois a minha mota não passava dos 30km/h.
Fiz tudo que pude para conseguir trazer a mota até ao fim pensando no Paulinho que tenho a certeza que nunca desistiria, também gostaria de enviar um grande abraço ao Joaquim Rodrigues, sei que hoje foi um dia difícil para ele.”