Rui Gonçalves faz parte de um grupo de pilotos nacionais que praticamente dispensa de apresentações. Atleta ao mais alto nível no Campeonato do Mundo de Motocross durante dezassete temporadas consecutivas, foi vice-campeão do mundo de Motocross em 2009, foi múltiplas vezes campeão nacional de motocross mas acima de tudo é um piloto reconhecido pelo seu extremo profissionalismo, pela sua dedicação e pela forma como encara todos os seus desafios. Rui Gonçalves irá em 2021 fazer a sua prova de fogo no Dakar, aos 35 anos de idade, aos comandos de uma Sherco oficial da equipa TVS. Será uma primeira e nova experiência para Gonçalves que vê na navegação a principal dificuldade partindo para a prova com objetivos bem definidos: aprender ao máximo e chegar ao fim.
Motojornal: Rui, este será o teu ano de estreia no Dakar considerado por todos como o maior desafio motorizado de sempre. Quais são as tuas ambições?
Rui Gonçalves: Sim é verdade que é um grande desafio, sendo a minha estreia neste ano atípico não conseguimos fazer nenhuma prova no deserto, nem os testes que tínhamos previsto em Marrocos foram possíveis realizar. Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes mas vamos com o objetivo de aprender ao máximo e chegar ao fim.
MJ: 2020 foi um ano muito estranho para todos e certamente para um piloto como tu. A falta de treino em provas de navegação devido à pandemia trouxe-te certamente algumas dificuldades. Como conseguiste compensar esta ausência de provas?
RG: É verdade que foi difícil encontrar soluções para a falta de provas no Rally, tentei aproveitar alguns treinos em Portugal na areia e alguns roadbooks, embora saiba que é totalmente diferente das condições que vou encontrar no Dakar, no entanto foi o que foi possível fazer.
MJ: Foste piloto do Mundial de Motocross durante 17 anos e sem dúvida um exemplo de profissionalismo enquanto atleta. Quais são os benefícios que um piloto de motocross como tu consegue transpor para um evento como o Dakar?
RG: Tal como referiste durante a minha carreira tentei sempre ser o mais profissional possível, mas honestamente neste momento apenas com uma prova realizada conseguir indicar quais poderão ser as vantagens que eu tenho do Motocross não é fácil. Cada treino é sempre uma avalanche deinformação nova, uma modalidade totalmente diferente do que eu estava habituado, o Rally requere experiência, algo que só se consegue adquirir fazendo provas.
MJ: Quais têm sido os maiores desafios que encontraste para conseguir guiar uma moto mais pesada e rápida que a tua moto habitual, e ainda por cima a navegar?
RG: O Rally em si já é um desafio e andar numa mota muito mais pesada e mais rápida é desafiante mas o mais difícil é andar rápido, e a navegar.
MJ: Em termos de preparação física que alterações tiveste que fazer ao teu plano habitual para te preparares para o Dakar?
RG: O Dakar requer uma preparação completamente diferente da que estava habituado no MXGP, primeiro porque tudo fica concentrado durante duas semanas e a preparação requere muitas mais horas de treino mas com uma intensidade diferente, também o nível de concentração é muito elevado no Rally, concentração que temos de manter ao longo do dia.
MJ: Irás estrear no Dakar um novo motor na tua Sherco bem como um novo conjunto de suspensões. Como correram os testes destes componentes e que melhorias trouxeram à tua moto?
RG: Juntamente com a equipa tinhamos planeado mais testes e treinos para conseguir ainda mais informações ainda mas tal não foi possível. O que fizemos termos de testes foi bastante positivo, com as suspensões que acabam por ser uma boa opção para o futuro e as novas alterações nos motores que têm funcionado bem.
MJ: Como é o teu relacionamento com os outros colegas de equipa principalmente com o Santolino que já tem mais experiência que tu nesta prova?
RG: Tenho uma relação super boa com os dois, é óbvio que com o Lorenzo tenho estado mais tempo, fomos juntos testar a França e treinar em Espanha e cá em Portugal, vamos trocando ideias e, como é normal, tento sempre aprender com todos os pilotos que têm mais experiência do que eu no Dakar.
MJ: O David Casteu é o Director da Equipa da Sherco e também ele um piloto com uma enorme experiência no Dakar. Que benefícios tens em ter uma pessoa como ele na tua equipa?
RG: O David tem muita experiência de Rally e Dakar, já participou muitas vezes, andou a lutar pelos lugares da frente e conheceu um pouco de tudo neste tipo de provas, é sempre bom ter alguém como ele para que nos possa ajudar e aconselhar.