As viagens de moto de longa duração são momentos de verdadeira introspeção para o motociclista aventureiro que se “faz à estrada”. E isso torna-se ainda mais verdadeiro no caso de Miguel Rodrigues, que aos 57 anos e aos comandos da sua Honda Africa Twin, com a qual já percorreu mais de 150.000 km, decidiu explorar as magníficas paisagens da Austrália para celebrar os 500 anos da chegada de Cristóvão de Mendonça ao continente do Hemisfério Sul.
Nesta viagem Austrália 360°, que teve início no passado mês de abril, o motociclista luso descreve os seus dias em cima da sua Africa Twin em formato de diário de bordo, de forma a salientar que esta é uma viagem solitária, tendo apenas a sua consciência como companhia.
Aqui ficam mais diários de Miguel Rodrigues na viagem Austrália 360°
07 maio, sábado – Karratha a Exmouth – 520 km
Que remédio tiveste se não fazer um dia de etapa rápida, por não haver onde parar! Somente 2 bombas de gasolina no trajeto que te levou 5h de caminho.
A paisagem continua muito árida, entre o lunar e o dunar, salpicada por térmitas em todo o horizonte. De tal forma que, quando avistas Exmouth, mais te parece um oásis no deserto. Não deixa de ser estranho que uma terra que dista largas centenas de quilómetros de qualquer cidade com dimensão, atraia tanta gente, mesmo no outono. Mas percebes que as boas infraestruturas a apetrecham bem para o turismo.
Outra estranheza saborosa: Miguel, podes mergulhar à vontade, aqui não é crockante e não precisas de ser crockwise!
Aproveita bem as 3 noites reservadas para desfrutar do melhor que este sítio tem para oferecer.
Leia também – 1ª parte do diário da viagem Austrália 360° por Miguel Rodrigues
10 maio, 3ª feira – Exmouth a Denham
Depois de 3 dias de repouso, a moto estranhou a etapa de hoje onde lhe impuseste 680 km, de península a península, com a mesma paisagem monótona – apenas quebrada pela curiosidade de um topónimo familiar numa localidade de nome Rio Tinto, escrita da mesma forma que em português.
Mas Denham reservava-te uma surpresa: no check-in do motel cruzas-te com um viajante de moto a que se juntou um outro. Apesar de não se conhecerem, cruzavam histórias enormes e diferentes, e iguais e deliciosas, pondo-te a ti a ouvi-las como um menino! Dois motards (afinal existem aqui!!!) a viajar há meses e sem fim à vista.
Ficas aqui dois dias, não te esqueças de visitar o lado oposto da península – Monkey Mia é famosa pela proximidade dos golfinhos na costa e onde eles vêm comer à mão!
As motos aproximam as pessoas e lançam pontes para conversa. O Russel viaja num sidecar Suzuki GSX 1400 cc, e o Calvin numa Suzuki DR 650. Foi excelente estarem no mesmo hotel, pois proporcionou-te uma partilha de experiências muito animada, trocando impressões sobre itinerários e pontos de interesse. Ambos vão pontuando as sugestões com exclamações de “Amazing!!!” e “Wonderful!!!” que te marcam o mapa a fosforescente vivo! Isto é gente muito experimentada nesta geografia e isso é precioso para a tua viagem.
Dia bem preenchido e de grande convívio em Monkey Mia.
Para amanhã as previsões são de muita chuva, mas não há como evitá-la e sais para Geraldton.
Pronto, Miguel, desabafa lá! Muito tens falado da dimensão macro deste país-continente, da sua economia pujante e outros aspetos que te parecem interessantes. Mas não podes deixar de falar da dimensão micro: o raio dos mosquitos parecem colocar a Austrália no topo do ranking dos países com mais bicharada desta espécie. É insuportável a quantidade de insetos em todo o lugar!!!
Leia também – 2ª parte do diário da viagem Austrália 360° por Miguel Rodrigues
12 maio, 5ª feira – Denham a Geraldton – 430 km
Sais de Denham com alguma pena, pois deixas para trás dois companheiros com quem te identificaste bastante. Mas as viagens são feitas de perdas que se revelam ganhos na memória!
As previsões climatéricas são reforçadas por alertas na app da meteorologia australiana, com indicação de fortes chuva e vento para o dia de hoje. Isso faz-te acordar cedo, mas não te adianta partir demasiado cedo pois só poderás fazer o check-in a partir das 15h30.
Quando despertas ainda não começara a chover e decides aproveitar o máximo de tempo seco que puderes. Fazes assim 300 km somente com uns pingos, mas sem a tal intempérie anunciada. Apenas na última hora de viagem, e já com a meta à vista, foste abençoado por uma forte chuvada que trouxe um duplo alívio – a descida da temperatura em 10 graus e muito menos moscas!!!
Olá Geraldton! Terás certamente os teus encantos de cidade costeira, mas o tempo que faz convida a ficar resguardado e ter a esperança que amanhã melhore para a etapa que te levará finalmente até Perth.
Leia também – 3ª parte do diário da viagem Austrália 360° por Miguel Rodrigues
13 maio, 6ª feira – Geraldton a Perth – 430 km
Tens em atenção o pedido que te fizeram de Perth para chegares só depois das 16h00 e optas por um trajeto em modo muito lento para queimar tempo. Em boa hora o fizeste, pois, ao ires por uma estrada mais junto à costa, deu para visitares o Deserto de Pináculos em Cervantes. Compreensivelmente é muito visitado nesta região, pois é um local invulgar e de grande beleza. Não deste por perdido o tempo que decidiste perder…
E chegas finalmente à almejada Perth! É aqui que terás o momento mais alto com a comunidade Portuguesa, em Freemantle. E será a partir de Perth que iniciarás a última etapa da viagem, com passagem por Ayres Rock, Adelaide, possivelmente Canguru Island e Melbourne. Ainda vais ter uns 6500 km até à “meta”.
Entretanto, e até ao dia da cerimónia planeada com a comunidade Portuguesa, vais espreitar o que houver para ver na região.
Leia também – 4ª parte do diário da viagem Austrália 360° por Miguel Rodrigues