Quando temos de conduzir a nossa moto durante os meses de Inverno, especialmente nestes, muitas vezes somos obrigados a enfrentar a chuva. Nestes momentos, os nossos cuidados terão de ser ainda mais redobrados para evitar uma queda. Porém, a quantidade de água que se acumula na superfície de asfalto pode tornar-se de tal maneira elevada, que as motos podem sofrer do fenómeno aquaplaning, também conhecido como aquaplanagem.
Algo que, como podemos ver na foto de abertura deste artigo, não representa qualquer problema para o “daredevil” Robbie Maddison, que já conduziu a sua moto sobre a água! Mas isso foram condições especiais. Por isso regressemos ao tema que nos trouxe aqui.
Conduzir debaixo de chuva obriga-nos sempre a estar com mais atenção a possíveis perdas de aderência, tanto do pneu dianteiro como do traseiro.
Nas motos mais modernas, e quase de todos os segmentos e cilindradas, os fabricantes utilizam atualmente um conjunto de ajudas eletrónicas à condução que ajudam os motociclistas a desfrutar da sua moto, mesmo à chuva, beneficiando de maior segurança.
Entre as ajudas eletrónicas mais importantes para conduzir uma moto à chuva podemos referir o modo de condução Rain (chuva), que “suaviza” a entrega de potência ou até reduz mesmo a potência disponibilizada pelo motor, ou ainda o controlo de tração que ajuda a recuperar o controlo da moto em aceleração impedindo a roda traseira de derrapar, ou ainda os mais atuais sistemas de ABS, alguns deles com níveis de intervenção específicos para chuva.
Mas, por vezes, nem todos estes sistemas eletrónicos conseguem evitar uma queda quando entramos em aquaplaning.
Como primeira noção ao abordar este tema de segurança, convém recordar que a água é um elemento que não se pode comprimir nem reduzir o seu volume. Por isso, a única forma de retirar a água da superfície do asfalto é através dos rasgos no piso do pneu.
O aquaplaning (ou aquaplanagem) acontece quando o volume de água que se acumula imediatamente à frente dos pneus é superior à capacidade de drenagem dos rasgos e canais de escoamento do pneu. Isto faz com que a moto (ou outro veículo) se eleve em relação ao asfalto e começa a deslizar, como se estivesse a flutuar, sobre uma camada de água que fica entre os pneus e estrada.
O pneu poderá perder o contacto total ou parcial com o asfalto.
De acordo com os especialistas, uma das suas principais causas do aquaplaning está associada ao desgaste dos pneus. Quanto mais gastos estão os pneus, menos profundos são os rasgos do piso, e mais difícil fica para o pneu conseguir expulsar a água acumulada.
Quando este fenómeno acontece numa moto, entramos num momento crítico para a condução. Relembramos que o ponto de contacto entre a moto e a estrada é uma área dos pneus equivalente ao tamanho de um cartão de crédito. Pontos de contacto extremamente pequenos. E se esses pontos de “ancoragem” desaparecem, ainda que momentaneamente, uma queda poderá ser inevitável devido a instabilidade causada pelo aquaplaning.
O que é que tem influência para que aconteça o fenómeno de aquaplaning?
Nem sempre que conduzimos com piso molhado sofremos aquaplaning. Ou melhor, o risco nem sempre é o mesmo. O risco de sofrer deste fenómeno aumenta (ou diminui) de acordo com diversos fatores.
O primeiro grande fator a ter em conta aqui, é a velocidade. Os pneus que compramos para uma moto que circula em estrada têm uma limitação que se refere à sua composição. O composto de borracha deverá ser capaz de funcionar em diferentes condições, diferentes temperaturas, diferentes superfícies. Mas também deverá ser capaz de resistir ao desgaste do passar dos quilómetros.
Os fabricantes de pneus utilizam sílica nos diferentes compostos que utilizam nos pneus das motos. A sílica é um mineral arenoso que é incorporado nos compostos de borracha dos pneus denominados “premium”, e oferece maior aderência em condições de chuva e frio. Contudo, mesmo os melhores pneus mais ricos em sílica não permitem evitar todos os perigos do Inverno.
Os pneus com elevada percentagem de utilização de sílica conseguem funcionar melhor quando o piso está molhado, mas quando a velocidade a que circulamos é demasiado elevada, nem mesmo estes pneus específicos conseguem funcionar a 100%. Até mesmo os pneus de chuva específicos para uso em competição, como os de MotoGP, super macios, nem sempre conseguem evitar situações de aquaplaning.
Outro fator a ter em conta e que tem influência no aquaplaning, é a profundidade dos rasgos do pneu.
Se for um pneu novo, provavelmente estará mais capaz de escoar a água acumulada na superfície de asfalto. Isto porque os rasgos do piso estão novos, são mais profundos, conseguido assim “afastar” a água, abrindo caminho para que a borracha do pneu entre mais facilmente em contacto com o asfalto.
Temos também de realçar que a pressão dos pneus da moto também tem influência no surgimento de uma situação de perda de aderência por aquaplaning. Quando a pressão está mais baixa, logicamente aumenta a superfície de contacto entre pneu e asfalto.
E, claro, temos também de ter em conta o volume de água acumulado no asfalto. Uma coisa é uma camada de água fina, outra coisa é passar por cima de uma zona onde a água está mais acumulada, criando um “lençol” ou uma poça, o que naturalmente influencia o fenómeno de aquaplaning.
E é possível evitar o aquaplaning numa moto?
A resposta mais curta e direta a esta pergunta é, não, não é possível evitar o aquaplaning. Pelo menos no sentido de evitar a 100% sofrer deste fenómeno. O que é possível, isso sim, é minimizar a possibilidade de sofrer uma situação de aquaplaning.
Temos de partir do princípio que em caso de condução de moto em dias de chuva, devemos sempre modificar a nossa forma de conduzir a moto. Logicamente o principal será reduzir substancialmente a velocidade. A velocidades mais baixas os pneus conseguem superar / quebrar mais facilmente a barreira de água que os separa do asfalto.
Circular com a pressão dos pneus adequada, porque a mais ou a menos resulta sempre na alteração das características de aderência do pneu, não deixar que os rasgos dos pneus ultrapassem a altura considerada mínima, pois a sua capacidade de escoamento da água fica irremediavelmente comprometida, são outras dicas que lhe podemos dar.
Se sentir que entrou em aquaplaning, não entre em pânico! Por norma esta situação dura apenas alguns segundos.
Este é o momento de mostrar o seu sangue frio. Evite acelerar ou travar bruscamente quando sentir que a moto está em aquaplaning. Controle a direção com movimentos suaves, tentando apontar sempre para o denominado “ponto de fuga”.
Se possível, desacelere ligeiramente. A moto deverá perder a velocidade suficiente para que os pneus consigam escoar então a água acumulada na superfície do asfalto, e assim recuperam a aderência, deixando a moto de parecer que está a “flutuar” sem controlo. Isso será suficiente para você recuperar o controlo da moto e prosseguir a sua viagem rumo ao destino, de forma segura, evitando uma queda que parecia ser inevitável.
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