Muitos motociclistas já ouviram falar de condução defensiva, que, na verdade, podemos definir em grande parte como sendo uma condução preventiva. Este estilo de condução tem por base a capacidade do motociclista em antecipar o perigo, ou antecipar potenciais situações perigosas que possam terminar num indesejado acidente.
Claro que nos casos de situações potenciais de perigo, não significa que é inevitável que algo aconteça.
Mas existe o potencial para que algo aconteça connosco quando desfrutamos da nossa moto, e por isso convém perceber e conhecer as diferentes técnicas e dicas que integram uma condução preventiva, pois isso pode sempre ajudar a evitar lesões e acidentes com consequências graves.
Mas antes, precisamos de saber em concreto o que é este tipo de condução. Certamente que já ouviu alguém dizer ‘Mais vale prevenir do que remediar’.
Esta frase tantas vezes dita, e, para sermos honestos, muitas vezes ignorada, funciona quase como um mantra para todos os motociclistas que praticam condução preventiva.
Quando conduzimos a nossa moto em ambiente urbano ou mesmo em estradas mais abertas, e em particular os motociclistas com menos experiência, devemos ter em conta a todos os momentos de que não somos os únicos utilizadores da estrada em que circulamos. Daí ser tão necessário prevenir para não ter de remediar.
Saber ler a forma como outros veículos se estão a posicionar à nossa volta, antecipar que uma pessoa (ou animal) pode surgir do outro lado da curva ‘cega’ e que não o conseguimos ver até ser inevitável o acidente, perceber que um movimento de cabeça por parte do condutor do automóvel à nossa frente pode indicar que este vai realizar uma mudança de trajetória, mesmo sem fazer a obrigatória indicação com o intermitente, utilizar a nossa audição para ouvir um carro ou outra moto perto de nós.
Tudo isto faz parte da condução preventiva em oposição a uma condução mais agressiva, que nos coloca mais facilmente perante situações de risco e apenas a poder reagir a qualquer imprevisto.
A experiência que vamos acumulando com o passar dos anos (e quilómetros) em cima de uma moto permite obter, de forma quase inconsciente, algumas técnicas que ajudam a adotar uma condução preventiva e antecipar situações de perigo que possam aparecer ‘à nossa frente’ de forma inesperada. Nesses momentos temos de reagir e atuar de forma a minimizar os riscos.
É sempre importante manter um nível de concentração muito elevado. Não fixar a nossa visão num local em exclusivo. Conseguir abranger com a nossa visão uma área alargada permite-nos obter uma ‘imagem’ mais fidedigna do que acontece à nossa volta.
E isso não significa apenas ver em frente ou para os lados. Significa, também, que devemos utilizar os espelhos retrovisores da nossa moto de forma a podermos perceber o que está a acontecer imediatamente atrás de nós. Conseguimos assim, lendo as informações de diversos pontos na estrada, uma visão praticamente de 360 graus.
E até mesmo a nossa audição ganha uma importância maior.
Hoje em dia com os intercomunicadores que aplicamos nos capacetes, podemos ouvir música ou fazer chamadas telefónicas. Adeque o volume do som de forma a permitir ouvir o que acontece à sua volta. Um volume de som muito elevado pode ser tentador, mas impedirá ouvir o automóvel ou moto que está muito perto de si num ângulo morto.
Tentar que o campo visual seja o mais amplo possível é o grande objetivo. E para isso não devemos circular demasiado perto de outros veículos, principalmente os de maiores dimensões, como por exemplo carrinhas ou camiões, que obstruem o campo visual de forma inegável.
Se praticarmos uma condução preventiva, que antecipa as situações de potencial perigo, estaremos a ganhar tempo para poder reagir ao inesperado. Esta forma de abordar a condução de uma moto não se baseia exclusivamente na nossa habilidade ou talento para controlar uma moto, mas sim na nossa capacidade de leitura e antecipação.
OS PRINCÍPIOS DA CONDUÇÃO PREVENTIVA
A verdade é que existem situações que são impossíveis de antecipar e, ao serem provocadas por outros, nem mesmo os motociclistas mais experientes ou com técnicas de condução apuradas conseguem evitar.
No entanto, existem algumas regras ou princípios que podem ajudar a contribuir para uma condução mais eficaz, mais segura, e que ajudam a ultrapassar os perigos que podemos ter pela frente.
Conforme referimos, manter a concentração no nível máximo é um bom princípio a adotar. Hoje em dia, e isso é possível perceber nos mais diversos momentos do nosso quotidiano, é possível que qualquer pessoa seja distraída com momentos que, por mais insignificantes que pareçam, acabam por nos desconcentrar da nossa ‘missão’ que, neste caso, é conduzir a moto de forma mais segura. Estarmos concentrados no tráfego, no que nos rodeia, aumentará a capacidade de podermos reagir atempadamente aos imprevistos.
Pensar em situações potencialmente perigosas que possam vir a acontecer é uma boa forma de nos anteciparmos a elas. Manter a nossa visão o ‘mais à frente’ possível significa que muito antes de nos aproximarmos de um perigo na estrada, já sabemos onde esse perigo se encontra, e podemos desviar de forma segura ou inclusivamente parar a moto caso seja necessário.
Conservar as distâncias de segurança para os veículos que seguem perto de nós. Esta distância de segurança deverá aumentar, ou melhor, deverá adaptar-se de acordo com a velocidade a que circulamos. E em caso de condições climatéricas adversas, em que a aderência do asfalto esteja comprometida (chuva), essa distância de segurança deverá ser ainda maior.
Convém também não circular demasiado devagar.
Sempre tendo em conta os limites de velocidade impostos pelo Código da Estrada, confirme que não circula tão devagar que está a importunar a fluidez de tráfego.
Porque os perigos na estrada podem não aparecer apenas à nossa frente, mas também aparecem atrás de nós. E se circularmos a tão baixa velocidade em comparação com os restantes veículos, criamos uma diferença de velocidade que, em casos mais extremos, pode levar a embates.
Conheça as capacidades e limitações da sua moto. E as suas limitações também!
Existem iniciativas como os cursos de condução adaptados a diferentes cenários (estrada, pista, off road) onde, por intermédio das indicações de instrutores certificados, obtemos (novas) técnicas de condução que nos deixam melhor preparados para reagir, mas, principalmente, para conhecermos as nossas limitações.
QUANDO DEVE LEVAR AO EXTREMO A CONDUÇÃO PREVENTIVA?
Já referimos que quando conduz a sua moto e quer adotar uma condução preventiva, conseguindo assim antecipar os perigos ou situações de perigo, deve estar sempre com a sua concentração no máximo e estar sempre consciente do que está a acontecer ao seu redor.
Porém, existem momentos de condução em que temos de elevar o patamar de condução preventiva.
Por exemplo, quando alteramos a trajetória em que circulamos numa estrada de diversas vias no mesmo sentido (ex.: Autoestrada), verificar o que se passa à nossa volta é imprescindível. Utilizar a visão quer para ler o que está à nossa frente, mas também para visualizar, através dos espelhos, o que está atrás de nós.
Aliás, para maximizar a nossa visão periférica, podemos rodar rapidamente a cabeça para os lados, dependendo do local para onde nos queremos movimentar, de forma a ver melhor o que está ao nosso lado ou traseira. Estamos com isto a reduzir ou eliminar o denominado ângulo morto, onde por vezes se ‘escondem’ outros veículos que não nos apercebemos que ali estão até ser tarde demais.
E a visão periférica é aqui muito relevante. Antes de utilizar a manobra de alteração de trajetória, por exemplo ultrapassar um veículo à nossa frente, é obrigatório ativar o intermitente, perceber se temos condições para realizar a manobra em segurança, e então sim, realizar a manobra.
No caso de uma ultrapassagem em estradas de dois sentidos temos de garantir que existe espaço livre à nossa frente para poder completar a manobra com segurança. O que dissemos anteriormente – olhar para os espelhos e utilizar os intermitentes para sinalizar a manobra – é aqui também fundamental.
Convém destacar que é importante manter um certo espaço livre entre a nossa moto e o veículo que estamos a ultrapassar. Nunca se sabe quando é que esse veículo altera a sua trajetória, e se mantemos mais espaço livre entre nós e ele, temos maior margem de segurança e possibilidade de reagir a imprevistos.
E não conte com os sistemas eletrónicos de deteção de veículos no ângulo morto. Estes sistemas, amplamente usados nos automóveis ou camiões, estão agora também a ser introduzidos nas motos. Mas são falíveis, principalmente no que diz respeito a detetar motos, por serem veículos de dimensões muito compactas.
Nas rotundas com diversas vias, ter em atenção que existem muitos condutores que tentam ‘cortar caminho’ percorrendo a rotunda pelo seu interior, optando por sair da rotunda no último momento.
Olhar pelos espelhos é uma forma que temos para controlar qualquer veículo que se aproxime vindo do lado interior da rotunda.
Nos cruzamentos ou semáforos, é aconselhável optar por ficar do lado direito da via antes de parar por completo. O objetivo é não ficar parado a meio da via. Isto pode evitar que ocorra uma colisão provocada por outro veículo, cujo condutor, distraído, não trava a tempo. Existindo mais espaço livre na via porque nos encostamos à berma direita, o condutor do outro veículo, caso tenha capacidade de reação para isso, pode evitar a colisão connosco.
E mesmo que num cruzamento tenhamos a prioridade ou o semáforo esteja verde, e por isso podemos avançar, mais uma vez devemos estar sempre atentos ao que acontece à nossa volta. Olhar para os dois lados antes de arrancar poderá evitar dissabores, e também garantir que temos espaço livre para atravessar o cruzamento e entrar na nossa via no sentido que pretendemos seguir, evitando ficar parados no meio do cruzamento, o que potencia eventuais situações de colisão lateral.
Outra situação em que a condução preventiva deve ser levada ao extremo é em meios urbanos, nomeadamente nas passadeiras, em que os peões têm prioridade (a não ser quando o semáforo dos peões, caso exista nessa passadeira, esteja vermelho).
Ao aproximar de uma passadeira reduza significativamente a velocidade da moto, prestando especial atenção aos peões que estão a correr em direção à passadeira, por exemplo a praticar desporto, pois muitas vezes vão a correr completamente distraídos e sem a noção de que uma moto se aproxima.
Nos meios urbanos, onde habitualmente encontramos automóveis estacionados ao lado da via, ou temos de ultrapassar veículos que param por alguma razão, temos de antecipar que à frente desse veículo poderá estar alguém a atravessar a estrada e que não conseguimos ver até ser tarde demais.
Nestas situações é necessário conduzir com cuidados redobrados, e caso o veículo a ultrapassar seja um autocarro ou camião, que pelas suas dimensões maiores ‘escondem melhor’ o que acontece mais à frente, aí todos os cuidados são poucos. Muitas vezes pessoas que saíram do autocarro a correr para atravessar a estrada à frente do autocarro sem olharem para perceber se é seguro.
Em caso de sermos obrigados a parar na estrada, devemos chegar a moto o mais para a direita ou para a berma possível, e, em caso de a moto possuir essa função, utilizar os intermitentes para sinalizar a nossa presença na via. Se estivermos em grupo, não devemos parar lado a lado.
O ideal será para uma moto atrás da outra, sempre tendo em conta que devemos estar o mais para a direita possível. Quando saímos da moto nestas situações, ter em atenção aos veículos que circulam na nossa direção e que podem não estar a contar que vamos sair da moto.
Por último, em caso de condições climatéricas adversas, como situações de piso molhado devido à chuva. Nestes casos os pneus da nossa moto terão aderência reduzida, e a distância de travagem aumenta por causa disso. Será preciso percorrer mais metros antes da moto parar por completo em segurança.
E se estiver a chover muito, a nossa visibilidade reduz drasticamente. Tenha em conta que os restantes condutores também estarão a sofrer dos mesmos males.
Para prevenir e otimizar a nossa segurança nestas situações, devemos usar colete refletor, ou pelo menos um blusão e um capacete com cores vivas, que nos tornam automaticamente mais visíveis aos olhos dos outros condutores.
Estes equipamentos são também importantes nos momentos de condução noturna, sendo certo que aí a aderência dos pneus não é reduzida nem a distância de travagem.
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