Se há modelos que levam ao extremo a ideia de moto de competição que pode circular em estrada, então a nova Ducati Panigale V4 R será o melhor exemplo disso. Renovada para enfrentar as pistas e a estrada durante a temporada 2023, a novidade de Borgo Panigale apresenta-se como a mais selvagem das superdesportivas. E para isso conta com nada menos do que 240,5 cv de potência! Mas sobre a performance já falaremos mais adiante.
Estrela do quarto episódio da série Ducati World Première, um conjunto de eventos online criados pela marca italiana para revelar as novidades do próximo ano, a nova Ducati Panigale V4 R é uma moto que serve de base de homologação da moto usada no Mundial Superbike.
E com bons resultados. Basta referir que Alvaro Bautista lidera o campeonato derivado de motos de produção em série, estando a lutar pela conquista de um título em Superbike no qual já tinha sido protagonista em 2019, então na estreia da primeira geração da Panigale V4 R em formato de competição WSBK.
Por essa razão é um modelo muito especial dentro da gama Panigale V4, apresentando características únicas e que a tornam numa moto particularmente eficaz numa utilização extrema em pista.
A primeira ideia que convém reter quando pensar na Panigale V4 R, é que esta moto “bebe” de toda a experiência e sabedoria conquistada pela Ducati Corse, tanto no campeonato protótipos MotoGP, como também nos desenvolvimentos de tecnologias e componentes no Mundial Superbike.
Uma demonstração deste aproveitamento de soluções de competição é o renovado motor V4 Desmosedici Stradale R.
Ao contrário do Desmosedici Stradale que encontramos por exemplo nas Panigale V4, V4 S ou até na V4 SP2, este motor quatro cilindros em V apresenta uma cilindrada de 998 cc, sendo agora capaz de atingir uma rotação máxima de 16.500 rpm em sexta velocidade (16.000 nas outras mudanças) e entregar uma potência máxima de 218 cv às 15.500 rpm (homologação Euro 5), um valor que a torna na referência ao nível das motos desportivas com a mesma cilindrada.
Mas para cumprir com as regras da homologação Euro 5, o novo Desmosedici Stradale R, apesar de todas as melhorias, disponibiliza uma performance ligeiramente reduzida em comparação com a versão anterior, devido às limitações geradas pelo sistema de escape na sua versão de série para uso em estrada.
O potencial pleno deste motor, no entanto, expressa-se em pista, ao instalar o escape de competição desenvolvido em parceria entre a Ducati Corse e a Akrapovic, que permite atingir os 237 cv, uma potência de mais 3 cv que o seu antecessor em especificação “race”.
Porém, e tal como referimos de início neste artigo, a nova Panigale V4 R atinge os 240,5 cv! Mas como é que o faz?
Para chegar a essa performance extrema, e para além do sistema de escape completo em titânio e para uso exclusivo em pista, a Ducati recorre a um óleo de motor específico, fabricado pela Shell de acordo com uma formulação específica da Ducati Corse.
O novo óleo de performance garante uma redução de 10% na fricção mecânica e leva a um aumento na potência máxima em 3,5 cv, que sobem para +4,5 cv no limitador. A formulação deste óleo é baseada no uso de aditivos de competição, específicos para motores de elevadas rotações com embraiagem a seco.
E por falar em embraiagem a seco, este componente foi também ele redesenhado para 2023. Está mais leve em 800 gramas, e O diâmetro e comprimento axial foram reduzidos (-24 mm).
Ainda no motor V4 de Borgo Panigale, e mais propriamente no seu interior, encontramos muitas mais novidades que ajudam a Panigale V4 R a ser a superdesportiva mais selvagem da gama e uma das mais entusiasmantes do mercado.
Em termos mais técnicos, destacamos que pela primeira vez numa moto de estrada são utilizadas bielas em titânio “gun drilled”, que são perfuradas longitudinalmente ao longo da biela (furos de 1,6 mm de diâmetro). Esta solução, que permite a passagem de óleo desde a cabeça ao extremo menor, melhora a lubrificação e fiabilidade em condições extremas.
Os pistões do motor Desmosedici Stradale R têm saias caracterizadas por um tratamento DLC (Diamond Like Carbon) na superfície, uma solução usada na competição em MotoGP e na Fórmula 1, que reduz a fricção entre o pistão e a camisa do cilindro, e é aplicada pela primeira vez num motor de estrada. Os pistões também têm uma nova geometria que os torna 5 gramas mais leves (igual a 2% do seu peso), reduzindo assim as forças de inércia, em benefício da fiabilidade.
As outras alterações envolvem um perfil mais agressivo das árvores de cames da admissão, caracterizado nesta versão por uma maior elevação (1 mm) e conjugado com novas trombetas de comprimento variável, reduzidas em 5 mm na sua configuração curta. Esta modificação melhora o “respirar” do motor em altos regimes e aumenta assim a potência máxima na configuração com escape de competição.
Para que o piloto ou condutor consigam explorar todo o potencial extremo do motor, a Ducati adota também um conjunto de relações de caixa que têm como objetivo a performance em circuito. As duas primeiras e a sexta relação foram alongadas, em particular a 1ª que está agora 18% mais longa, permitindo ao piloto fazer uma gestão da potência do motor nas travagens e acelerações.
Na ciclística uma moto especial como é o caso da Ducati Panigale V4 R apresenta detalhes exclusivos, sempre com foco na performance em pista.
Desde o quadro Front Frame fabricado em alumínio, passando pelo monobraço oscilante que permite o ajuste do pivot em quatro posições, sem esquecer a forquilha pressurizada Öhlins NPX25/30 que vê aumentar o seu curso em 5 mm comparativamente à anterior “R”, combinada com o amortecedor Öhlins TTX36 cuja distância central passa de 312 a 316 mm e com um ajuste base do pivot do braço oscilante para a posição +1, aumentando a altura da traseira em 20 mm, ou ainda as magníficas jantes Marchesini de alumínio forjado.
Todos estes elementos foram selecionados pela Ducati de forma a garantir que o condutor da Panigale V4 R tem controlo total sobre o conjunto e faz os melhores tempos por volta. Refira-se, no entanto, que apesar de ser uma moto especificamente desenvolvida para explanar todo o seu potencial em pista, a Panigale V4 R é também uma moto de estrada. E o aumento do curso da suspensão dianteira permitirá ao condutor obter uma melhor leitura do asfalto, sem que isso comprometa a agilidade e rapidez nas trocas de direção.
Para acompanhar todas as novidades do motor e alterações da ciclística, a nova V4 R recebe também um completo e renovado pacote eletrónico.
Neste particular destacamos a expansão e evolução dos Power Modes, o novo display “Track Evo” no painel de instrumentos, mapas de motor com calibragem dedicada para cada uma das mudanças, refinamentos ao Ducati Traction Control e ao sistema de acelerador eletrónico, mas também à adoção da estratégia Engine Brake Control EVO 2, à nova estratégia para o Ducati Quick Shift e à atualização do comando da ventoinha de arrefecimento.
Os parâmetros de operação da moto podem ser visualizados de forma mais eficaz graças aos novos grafismos do painel de instrumentos, que diferem graças a uma distribuição revista das funções das luzes de aviso fora do ecrã. Nesta área, a mais importante alteração na Panigale V4 R, já introduzida na V4 S, diz respeito à interface, que evolui com a inclusão de um novo Info Mode, desenvolvido pelos pilotos de MotoGP e designado “Track Evo”, que é adicionado aos já existentes “Road” e “Track”.
Ao nível da eletrónica, a Ducati preparou ainda algo mais especial, permitindo ao proprietário que queira explorar a moto em pista, a aquisição do software opcional Ducati Performance DTC EVO 3. Este modo é específico para uso em pista e pneus slick ou de chuva. Com este modo ficará também ativo um mecanismo que ativa a luz de presença traseira, de forma intermitente, em condições de chuva, tal como exigem os regulamentos de competição.
Outro pacote, mas o aerodinâmico, foi também revisto para 2023. A Panigale V4 R conta com novas asas de dois elementos (principal + flap), que garantem a mesma carga aerodinâmica, mas são agora mais compactas e finas (respetivamente em 40% e 50%). Para melhorar o arrefecimento do motor, estabilizando a sua performance num uso extremo em circuito, a carenagem foi modificada no desenho dos extratores na zona inferior, e cumpre com as regras do Mundial Superbike. Também na parte inferior, do lado esquerdo, existe uma entrada de ar para arrefecer o sensor do Ducati Quick Shift.
Como última nota de destaque, temos de referir o esquema de pintura exclusivo desta variante R, inspirado no MotoGP, que integra placas brancas com o número “1” em evidência. E, pela primeira vez, a moto será produzida numa série numerada, com o número progressivo e o nome do modelo exibido na mesa de direção em alumínio.
Quanto a preço, a Ducati Portugal ainda não confirmou qual será o valor a pagar para ter uma nova Panigale V4 R na garagem. Fique atento a www.motojornal.pt pois iremos atualizar este artigo com essa informação assim que possível.