Editorial Revista Motojornal Nº1474
Paulo, Paulo, Paulo! Que partida nos pregaste! Partiste de repente e sem aviso. Seguiste a tua viagem da mesma forma determinada com que sempre nos habituaste! Apanhaste-nos a todos desprevenidos. Os nossos heróis não morrem! É o que queremos acreditar, mas de tempos a tempos, a vida encarrega-se de nos chamar à razão, de nos colocar na pequenez à qual pertencemos.
Recebo a notícia de “xofre”, como se um toiro bravo estivesse a encarar! A carregar sem contemplação sobre um ser que o desafia! Eras apelidado, carinhosamente, de toiro bravo, graças à tua capacidade física, como poucos conheci. Por isso, para nós eras daqueles que jamais esperávamos ver com uma lesão grave, quanto mais partir.
A notícia bateu-me como uma marreta, de tal forma que me deixei cair, sentado, prostrado, em cima da cama a pensar em tudo e a não pensar em nada. Só a parede branca, o espelho perfeito de (mais uma) alma perdida. Não acredito! Não pode ser verdade! Recupero a compostura (possível) e corro para a televisão! Vejo o teu sorriso, mas não penso. Ouço frases feitas e elogios rasgados, como determina a ocasião, mas de nada valem… Tomo consciência de que te perdemos!
E a entrevista que estávamos a preparar para fazer agora em Esposende? Não importa, conversamos agora sobre outros assuntos, sozinhos! Podes vir cá de vez em quando para nos abraçar? Abraça a tua família que tanto precisa! O “Quim”, cuja imagem nos fez parecer o deserto pequeno para tamanho sofrimento. Não quero acreditar! Partiste mesmo. Um atleta exemplar, que viveu para competir, fazer o que mais gostava e que com isso conseguiu dar à família todo o conforto que precisavam. Orgulho imenso, é o que sentimos por ti! Um país inteiro! O mundo inteiro não esquece o teu altruísmo. Preferias perder, mas ajudar!
Continuaste a perseguir os teus objectivos, vencer um Dakar! Eras a minha aposta para este ano! Foi o teu ano! Na Hero, marca que agora, mais que nunca, faz sentido ficar para sempre ligada a ti! Confesso-te que o choque se instalou em mim no domingo, esse fatídico dia 12 de Janeiro que te guiou à tua viagem final. À tua última especial!
No dia seguinte, a caminho da redacção, vinha a ensaiar, precisamente este texto, sem saber bem o caminho a tomar com a retórica! Dentro do meu capacete, o uivo do vento e o tom pesaroso do motor da minha moto, fizeram com que de repente e sem aviso, tal como partiste, os meus olhos ficassem cheios de lágrimas e descarreguei toda a tristeza e incompreensão que tinha dentro de mim. Foram longos os minutos que me vi a descomprimir e a começar a compreender tudo o que se passou, tudo o que aconteceu.
Partiste demasiado cedo! Mas ficas em mim, em nós, no mundo do desporto motorizado! Vamos continuar a falar e cá esperamos o teu abraço de conforto para os tempos difíceis que se avizinham. Ajuda-nos, acompanha-nos e espera-nos aí numa duna celestial, que um dia voltaremos a conversar! Para te fazer a entrevista que estava a preparar.
Um abraço Speedy!