Entrevista Jorge Viegas Presidente FIM – 1ª Parte

Esta é talvez a conversa mais importante do ano de 2019. Jorge Viegas foi eleito como o primeiro presidente da FIM português e, como é seu hábito, desde cedo ‘arregaçou as mangas’ e deitou mãos à obra. Num trabalho em duas partes, fiquem a saber um pouco do que se passa nos bastidores da Federação Internacional de Motociclismo e quais os projetos no novo homem forte da entidade máxima do motociclismo mundial. Tudo bem temperado com o picante que só Jorge Viegas sabe ‘temperar’ os seus pensamentos e declarações!

TEXTO FERNANDO PEDRINHO MARTINS • FOTOS HELLOPHOTO – MIGUEL ARAÚJO/ARQUIVO JORGE VIEGAS

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Por fim… Presidente!

Há muito que andávamos desencontrados do primeiro presidente português da entidade máxima do motociclismo mundial, a FIM. Depois de várias tentativas, quase todas fora do país, conseguimos ‘agarrá-lo’ durante a etapa lusa do Mundial de Superbike, no sempre espantoso Autódromo Internacional do Algarve. Fomos recebidos na grandiosa ‘hospitality’ da Federação Internacional de Motociclismo, ‘abrimos o livro’ e fomos à descoberta da percurso que levou o algarvio até aqui e que planos tem para a organização e para o desporto mundial.

Jorge, parabéns pela tua eleição como presidente da FIM. Finalmente conseguiste depois de várias tentativas… Não foram várias, esta foi apenas a segunda (risos).

Depois de três mandatos do Vito Ippolito, conseguiste! Sim… isso é uma história que dá para escrever três livros (risos). A maior parte das pessoas não tem a noção, embora as coisas tenham mudado muito nos últimos anos – graças a uma série de figuras que, no desporto, conseguiram ascender a cargos internacionais – de que um português não é visto da mesma maneira que um francês, um italiano ou um inglês e, portanto, é preciso que sejas o melhor, ou que tenhas mais apoios. Como sabes, eu tenho uma carreira bastante longa na FIM, fiz um pouco de tudo na organização, e para mim este é um cargo a que sempre ambicionei, para poder fazer coisas úteis e que não estavam a ser feitas. Trabalho como nunca trabalhei na vida, mas adoro aquilo que faço. Mas não foi nada fácil, o processo eleitoral tem toda uma história que não vale a pena estar a falar… eu olho mais para a frente. Tenho uma sensação muito positiva… havia coisas que eu sonhava há muitos anos implementar na FIM e que agora consigo fazer: tenho o poder para as fazer acontecer! Isso é uma coisa que nem sempre acontece, a pessoa quer fazer coisas mas pelos mais variados motivos não consegue. Ali não: eu tenho conseguido pôr em prática uma série de projetos e ideias que já tinha… e ainda tenho muitos mais.

Jorge Viegas com a actual Direção das FIM em Genève onde agora vive

‘Limpar a casa’ E já te vou perguntar por eles… A primeira coisa que eu fiz foi ‘limpar a casa’! Despedi o diretor geral, o diretor geral adjunto e o diretor de ‘marketing’, pois só criaram problemas, não resolveram assuntos… mas também não vou entrar em pormenores. Fizeram muito mal à FIM em conjunto com o anterior presidente. Depois disso, contratei o Toni Skillington para diretor geral, que era o antigo presidente da Comissão de Motocross; uma das diretoras passei a diretora geral adjunta – e tem feito um trabalho magnífico na parte administrativa; recuperei o Jean- Paul Gombeaud, que tinha sido despedido e fui buscá-lo para diretor desportivo; a Isabelle Larivière, havia sido despedida três dias antes da eleições, recontratei-a para diretora de comunicação, pois faz um trabalho excelente e é uma pessoa que toda a gente adora. No fim de contas, reconstituí a equipa, criei um departamento novo, o das Relações com as Federações e com as Uniões Intercontinentais, contratei a Nita Korhonen – o pai dela, o Penti Korhonen, foi piloto na minha altura – como diretora do departamento e está a fazer um excelente trabalho. Ah, e isso vocês nem imaginam… a FIM que é uma federação internacional de motociclismo, logo bastante técnica, ou tecnológica se preferirem, não tinha um único engenheiro nos seus quadros. O diretor técnico é uma pessoa bastante experiente e competente, mas não é engenheiro. Neste momento já temos três engenheiros, o último entrou no dia 2 de Setembro, e era o diretor técnico da SERT (n.d.r. ‘Suzuki Endurance Racing Team’). Foi quase como os jogadores de futebol, pois várias equipas o queriam contratar. Juntou-se a mais dois engenheiros novos que também entraram recentemente. E isto porque a FIM tem que se preparar para o futuro, para a transição energética e tudo o que vem associado.

E a nível político? Houve eleições e para além de mim foram eleitos os membros da direção, alguns dos quais passaram a vice-presidentes. Tenho uma direcção fantástica, acho mesmo que é a melhor eleição de sempre da FIM, e tenho um ‘staff ’ muito competente. Só para terem uma ideia, a FIM é composta por 40 funcionários que trabalham na Suíça, onde estou e vivo: agora sou um emigrante devidamente credenciado (risos). Depois há outros cerca de quarenta funcionários que trabalham a partir de casa e vão aos eventos, como é o caso dos comissários que vão aos grandes prémios… eu costumo dizer que o Franco Uncini é o meu funcionário de ouro… e cerca de mais 300 funcionários não remunerados, que são toda esta gente que tu vês aqui como o Armando Marques, o Manuel Marinheiro, o Gonçalo Moraes Sarmento – só portugueses são uns oito ou nove. O Pedro Mariano é diretor permanente do Mundial de Enduro, o Rodrigo Castro é diretor permanente do ‘Sidecar-cross’, o Nuno Trêpa Leite é o diretor do mototurismo, todos pagos pela FIM. E mais uma série de gente não remunerada, como o Manuel Marinheiro. E aqui há uma coisa que gosto de referir, porque em Portugal há legislação que permite que os presidentes de federações sejam remunerados. Eu, tal como o Manuel, nunca recebemos um tostão, muito pelo contrário, ajudámos muito a Federação, mas isso é tema para outra conversa.

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