Texto: Domingos Janeiro. Fotos Pablo Silván e Ducati.
Por ocasião da recente apresentação da Ducati Hypermotard 950/SP na Gran Canária, estivemos à conversa com o homem forte da Ducati Ibérica, sobre o passado, presente e futuro da marca italiana no nosso país. Este Engenheiro de mecânica e electrotécnica automóvel, trabalha para a Ducati há 21 anos e sempre se ocupou das relações com a imprensa. No início da sua carreira na marca italiana, Pablo foi também responsável pelo departamento técnico da Ducati Espanha e Portugal, com a responsabilidade da formação técnica da rede de concessionários, pela logística, garantias e homologações. Com este passado, empenho e paixão, em 2004 passou a ser Chefe do Departamento Ducati, assegurando a gestão directa das vendas, marketing e desenvolvimento/relação com a rede de concessionários. Sem fundamentalismos, transmite uma alegria contagiante pelo trabalho que faz e, pelo qual, é extremamente agradecido e apaixonado. Quando a paixão, profissionalismo e talento se juntam, dá este resultado, o sucesso!
Motojornal (MJ) – O que significa a Hypermotard para a Ducati?
Pabli Silván (PS) – A Hypermotard é uma moto que se enquadra no segmento o qual chamamos “O Universo Vermelho” o Universo tradicional da Ducati, onde a marca italiana sempre assumiu uma posição confortável, de destaque e com o qual sempre nos identificámos. É por isso que o lema da Ducati é “Style, Sophistication and Performance!”. O mundo motociclista contém essa parte de rendimento, de adrenalina , que desde o nascimento da primeira hypermotard que surpreendeu e causou sensação precisamente por oferecer tudo isso num só modelo. O design sempre foi outro trunfo deste modelo. É um segmento não só atractivo para os amantes do estilo supermoto, mas também para os amantes do estilo naked, é uma alternativa às naked tradicionais, para o dia-a-dia, para desfrutar de uma moto ágil, com imagem impactante, mas que te permite dar uma escapada a uma estrada de montanha para fazer umas curvas mais apertadas. Por isso continua a fazer sentido estar na gama e por isso continuamos a melhorar o conjunto.
As vendas justificam o investimento?
É verdade que não é dos segmentos com mais vendas, mas também não gostamos de olhar para os segmentos como “arquivos segmentados” onde só vão os interessados nesse segmento específico. Gostamos de olhar para um mercado aberto, onde os gostos se cruzam e onde os motociclistas circulam entre segmentos. Este modelo é uma alternativa muito interessante às naked e quem a testa fica rendido.
O supermoto atravessa dias difíceis. Isso aliado ao preço não pode ser um problema?
Não. O conceito supermoto continua muito presente e pensamos que se vai manter assim por muito mais tempo. Em relação ao preço, se pensarmos em termos de posicionamento, com a elevada cilindrada, potência e tecnologia que coloca à disposição do utilizador fica justificado. É uma moto particular e inigualável. Na Ducati, temos uma gama muito ampla e com motos substancialmente mais caras…
O motor da Hypermotard, é o mesmo utilizado na Multistrada 950?
A base é a mesma, mas com muitas alterações. É uma grande evolução, com novos pistões, novos corpos de injecção, novo sistema de gestão electrónica, novo Hardware, novo Software electrónico. É um grande avanço. A Multistrada anterior já era uma evolução do motor da Hypermotard e agora, o bloco ganha novas especificidades. Mas sim, a base é a mesma.
Como se posiciona a Hypermotard no mercado português?
Portugal sempre foi um mercado, tradicionalmente, apreciador de motos trail. As motos altas sempre estiveram muito presentes no mercado português. A experiência que temos com as Hypermotard anteriores é que há um segmento de utilizadores que gostam particularmente da postura desta moto, porque gostam das motos de campo, da posição de condução alta e revêm essas qualidades na Hypermotard, que é uma das motos com mais curso de suspensão da Ducati. Por isso, continuamos a ver grande potencial no mercado português para este modelo.
Qual é o modelo mais vendido da Ducati em Portugal?
Mais do que uma moto em concreto, estamos essencialmente focados no global. Mas posso dizer-te que o modelo mais vendido da Ducati em 2018 foi a Multistrada 950 com um total de 49 unidades, seguindo-se a Panigale V4 e a Multistrada 1260, ambas com 45 unidades. Também se vendeu bem a gama Scrambler e as Monster, estas últimas, sempre uma família de sucesso e que em Espanha foi mesmo a mais vendida em 2018. A nível global, a Multistrada é a família com mais sucesso de vendas na Ducati. Proporcionalmente, vendemos mais Panigales em Portugal do que em muitos outros mercados. Para nós, Portugal é um mercado do qual gostamos particularmente porque dá valor ao conteúdo das motos e gostam, particularmente de as personalizar. Por isso não é só interessante pelas motos que se vendem, mas também pelo volume de venda em vestuário e acessórios.
Que balanço fazes de 2018?
A nível mundial, o volume de vendas total da Ducati caiu, especialmente no mercado americano, mas no caso Ibérico, foi um ano muito positivo. O nosso concessionário do Norte tem feito um trabalho fantástico, com resultados muito bons, com grande dinâmica e proximidade com os clientes; em Lisboa temos também um serviço muito bom e aproveito para dizer que este ano será inaugurado um espaço próprio da Ducati no centro de Lisboa. Será um espaço de referência em Lisboa e arrisco mesmo a dizer, que será mesmo o melhor stand de motos na capital portuguesa. O José Lucas, proprietário da Ducati Lisboa, tem feito um brilhante trabalho com a Ducati, é um “Ducatisti” apaixonado e faz parte da família. Com esse novo espaço estamos convencidos que vamos ter um novo impulso de vendas em Lisboa. Continuamos empenhados em abrir um novo espaço no Algarve. Em 2018, crescemos 12,4% no mercado português.
Com a chegada da nova Panigale V4, vai motivar a alteração aos regulamentos dos diferentes campeonatos de Superbikes na Europa e no Mundo? Estão receptivos à moto, ou há questões a resolver?
No campeonato do mundo de SBK, a Panigale V4 R não tem qualquer problema. Mas é verdade que há campeonatos que mantêm o conceito, antigo, das Superstock. Mas o campeonato Superstock já não existe. Nesse regulamento eram impostos limites ao preço das motos, que tal como estava, impossibilitada que a nossa V4 R possa competir em deter- minados campeonatos. Mas a realidade é que os campeonatos nacionais com mais êxito actualmente, já não se regulam pelas Superstock, como acontece no competitivo campeonato inglês, que tem um regulamento diferente e onde podemos competir, sem qualquer problema. Queremos que sejam feitas alterações aos regulamentos mais antigos e estamos em contacto com as federações para que efectivamente a moto seja homologada para competir em todos os campeonatos.
Com a compra da Ducati pela Audi, achas que vão haver alterações profundas na marca?
Eu gosto de dizer que não mudou nada e mudou tudo! Parece contraditório, mas não é! Não mudou nada, porque o conceito moto Ducati continua a ser o mesmo, a inovação, o carácter desportivo, a paixão e a identidade. Mantém-se tudo inalterado e funciona como antes, com a tecnologia e fabrico a serem cem por cento italianos. Quando te digo que mudou tudo, é porque na verdade mudaram muitas coisas, principalmente na forma de trabalhar, os processos, o acompanhamento, os procedimentos, o foco, uma maior atenção e cuidado em determinados aspectos. Tornou-se num cocktail muito interessante. Por um lado, há uma parte emocional e por outro, uma parte racional. Na Ducati, a parte emocional sempre se destacou sobre a parte racional e o segredo está em conseguirmos manter a parte racional equilibrada com a emocional. Por exemplo, a manutenção de uma Ducati está mais baixa que nunca e antes isso não era algo prioritário e hoje é, por isso aumentamos os intervalos de manutenção para os 15.000 km, as revisões mais importantes a cada 30.000 km, isso já é regra padrão dentro da Ducati. Está tudo mais organizado e estruturado, foram criados novos departamentos de qualidade e implementados controlos de qualidade nas próprias linhas de montagem. A verdade é que alterou muito as coisas. O próprio seguimento ao nosso trabalho individual mudou de sobremaneira.
Mas é uma convivência saudável?
Sim, sim. É muito interessante, porque às vezes se queres comprar um veículo emocional tens que ficar privado de uma boa assistência. Na Ducati continuamos a ter veículos muito emocionais, com grande destaque na competição, evoluídos, apaixonantes e com tecnologia única no mercado, ao mesmo tempo que é uma marca sólida, com um grande e reconhecido percurso, com números positivos, com recursos próprios, à parte de tudo o que representa o Grupo Volkswagen. Tudo isto dá tranquilidade aos clientes da Ducati.
Vamos ver edições especiais da Ducati com referência à Audi?
Não. A Ducati mantém-se independente da Audi. A Ducati continua a exibir com orgulho a sua italianidade e não há uma intenção futura de misturar as coisas, ainda que possam haver, pontualmente, algumas sinergias, como por exemplo, a Audi Sport vai ser um dos patrocinadores da equipa de MotoGP.
Nota-se uma grande cooperação entre Ducati e Audi no que diz respeito aos novos sistemas de conectividade entre veículos. Essa será a parte mais visível da cooperação entre as marcas?
Sim, é ao nível tecnológico e essa colaboração ganha maior dimensão, até porque em alguns modelos, incluindo a Hypermotard, há alguma electrónica que é proveniente da Audi e a própria interacção entre ser humano e máquina, para que os comandos sejam cada vez mais fáceis e intuitivos, capazes de reduzir os focos de distracção dos condutores. Todo o display da moto e a forma como é operado, resulta de um trabalho conjunto entre a Ducati e a Audi. Os novos sistemas de conectividade e segurança entre veículos, tem grande cooperação entre todas as marcas do Grupo.
Que previsões tens para o mercado português em 2019?
Continuamos a acreditar que o mercado vai continuar a crescer e acreditamos que vamos aumentar a nossa quota de mercado devido à gama que temos, como a gama Multistrada, inclusive com a nova Enduro com a qual acreditamos aumentar as vendas, com a Multistrada 950 normal e com a Multistrada 950 S, com as novas Diavel, com as novas Hyper, temos muitas reservas para a V4, as novas Scrambler. Temos a melhor gama da história da Ducati e achamos que se adapta muito bem às particularidades do mercado português. Por tudo isso, estamos confiantes de que o nosso crescimento vai ser muito interessante. A abertura do novo espaço em Lisboa também vai contribuir para esse bom desempenho.
Achas que o mercado vai continuar a crescer ou vai abrandar?
Estou convicto de que vai continuar a crescer. As novas perspectivas são as melhores possíveis. Em Portugal, os ciclos são maiores em relação aos restantes mercados e não são tão extremos. As variações do mercado não são tão extremas como, por exemplo, as variações do mercado espanhol.
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