Entrevista: Ricardo Porém – Dos carros para os SSV

O piloto de Leiria que conta com um vasto palmarés no TT, fez o Dakar este ano num Can Am Maveric X3 e agora pretende repetir a experiência já em 2020.

Texto: Domingos Janeiro.

Ricardo Porém é um piloto consagrado no todo-o-terreno nacional, com uma vasta experiência desportiva enquanto piloto e navegador em automóveis, tanto em provas lusas como internacionais. Possui já um palmarés invejável, de onde se destaca a conquista absoluta da Baja Portalegre 500 por 4 vezes consecutivas. Também é fã das duas rodas.

Ricardo, nesta estreia nos SSV e no Dakar, que balanço fazes da vossa participação?

 O balanço é muito positivo. Foi a minha primeira participação e considero que este foi o nosso ano zero, um ano de aprendizagem, numa classe nova para mim e com um novo veículo. Sempre estive ligado aos automóveis, mas cada vez mais me convenço que o Side by Side é a melhor opção para fazer uma corrida destas pela primeira vez. O custos são mais reduzidos, é melhor para aprender tudo o que uma corrida destas envolve. Estou muito satisfeito por ter chegado ao fim. Tínhamos andamento para terminarmos no top5, mas tivemos um percalço na sétima etapa que acabou por ditar o resultado final (11º).

Quais foram as principais dificuldades sentidas?

 Numa prova como o Dakar é necessário uma grande capacidade para gerir o esforço físico e psicológico. Quando temos ligações de 450 km, mais um sector de 350 km, mais uma ligação de 50 km é preciso estarmos muito bem ao nível físico e psicológico. Portanto, as principais dificuldades foram conseguir fazer a gestão da capacidade física e da capacidade psicológica.

Ricardo Porém é também um entusiasta das motos.

Como se prepara um Dakar em termos físicos?

 É um dos aspectos mais importantes! Antes de começarmos o Dakar treinávamos 4 a 5 vezes por semana, com especial intensificação nos últimos 2 meses, com treinos específicos para a modalidade, que é o que eu faço. Além de o fazer ao longo de todo o ano, intensifiquei nesta altura mais, mas sem dúvida que têm que ser treinos específicos, com preparadores físicos específicos para estarmos muito bem preparados.

O que é necessário, em termos de preparação do SSV para o Dakar?

Agradeço à South Racing pela oportunidade. É a melhor equipa a nível mundial para correr num Side by Side. Está ligada à fábrica da Can-Am, é representa a marca oficialmente nestas competições. Tem muitos anos de experiência no Dakar e uma estrutura com uma logística enorme, com um médico, fisioterapeuta e imensos engenheiros. Cada carro tem no mínimo 2 mecânicos, sempre presentes a trabalhar no SxS. Tem ainda a particularidade de estar sediada em Portugal, o que ainda dá mais valor ao nosso país.

Que custos envolvem fazer um Dakar?

Depende da equipa com que se vai, das condições que queremos, do que queremos colocar todos os dias no carro, etc.. Em números gerais, correr numa equipa como a South Racing com tudo incluído, em que só precisamos de levar o capacete e o fato e não temos que nos preocupar com mais nada, anda na casa dos 250.000€.

Globalmente, o que achas do Dakar da forma como está actualmente?

Eu acho que o Dakar mantém a dureza e o espírito que sempre o caracterizou. Acho que a prova não precisa de ser em África para manter o espírito do Dakar. O Dakar é definido por ser a prova de TT mais dura do mundo e não tem que ser em África. Este Dakar encantou-me pela dificuldade. Foi um Dakar muito exigente ao nível dos pisos que percorreremos, foi 70% de dunas e areia e isso é sem dúvida do mais difícil que podemos ter, onde incluímos o fesh-fesh. Acho que o espírito se mantém. Temos a particularidade das comodidades que não conseguimos ter em África. Hoje em dia as equipas e as marcas olham mais para isso. O retorno que se consegue dar num país com melhores condições é muito maior na américa do sul, está melhor preparada para isso, para não falar do povo que vive imenso a prova. É incrível como eles vivem a corrida e os milhares e milhares de pessoas que acompanham na estrada o Dakar. Vou lutar para regressar a este prova já em 2020.

Como vês o futuro do Dakar?

Tenho a certeza que vai ser bom! Fala-se de muita coisa, não sei se continua na América do Sul, ou se vai sair, mas tenho a certeza que a estrutura da ASO, o que fizer vai fazer bem, e que vai manter o espírito do Dakar vivo. Para muitos, fazer o Dakar é um sonho, para outros é um objectivo e para outros uma forma de estar na vida. Portanto sem dúvida que vão continuar com a mesma mítica e o mesmo espírito de sempre.

PILOTO: Ricardo Porém

  • NAVEGADOR: Jorge Monteiro
  • NATURALIDADE (PILOTO E NAVEGADOR): Portuguesa
  • MARCA E MODELO DO SSV: Can Am Maveric X3
  • NOME EQUIPA: South Racing Can-Am
  • COMPETIÇÕES ONDE ALINHAM: Taça do mundo TT, Campeonato Nacional TT, Dakar
  • PARTICIPAÇÕES NO DAKAR: 1 (2019)
  • PROFISSÃO: Piloto – Brand Manager: Co-piloto – Director executivo

 EXPERIÊNCIA DESPORTIVA – PILOTO:

  • 2 x Campeão Nacional Absoluto
  • TT (2014 e 2017); 1 X Campeão Ibérico
  • TT (2017); 1 X Campeão Nacional
  • T2 (2010); 4 X Vencedor Absoluto
  • Baja Portalegre 500;
  • Várias participações em provas da Taça do Mundo TT

 EXPERIÊNCIA DESPORTIVA – NAVEGADOR:

  • Várias participações Rally Marrocos;
  • Várias participações campeonato Nacional TT;
  • 1 X AfricaEco Race;
  • 1 X Rally Tunísia;
  • Várias participações em provas da Taça do Mundo TT

 

Fotos: Ricardo Porém