Texto Vitor Martins • Fotos Motojornal.
É certo que para muitos não é o destino que conta, mas o caminho. Porém, vivemos num canto da Europa e muitos dos que partem frequentemente para viagens no Velho Continente já estão fartos de cruzar a Península Ibérica vezes sem conta, ‘queimando’ pelo menos dois dias de férias – a ida e a vinda – em estradas já tantas vezes percorridas. Depois há aqueles cujo tempo é limitado e esses dois ou mais dias seriam aproveitados no destino final ou outras paragens.
Sérgio Freitas é motociclista, e é também Director de Planeamento da Garland, uma empresa de logística, transportes e navegação com quase dois séculos e meio de existência, e que está na génese desta área de negócio: «Como motociclista e profissional dos transportes, verifiquei que na realidade faltava esta especialização. O cuidado que tenho com a minha moto não podia ficar indiferente ao tratamento que se dá a uma moto no transporte rodoviário. Dei por mim a pensar em como é que podia chegar mais longe. Se trabalho em transportes, tenho uma rede de agentes em toda a Europa, e existem companhias aéreas low cost que me ajudam a chegar à cidade que pretendo visitar, porque não, em vez de chegar lá e alugar um carro, ter a minha moto à minha espera. Quando fui para o terreno, ver a parte que eu domino profissionalmente, verifiquei que existia uma lacuna. O que havia eram improvisos. Esses improvisos, sendo eu um profissional de transportes e conhecendo os riscos inerentes no ramo, levaram-me a tentar arranjar uma solução. Havia a parte de execução, planeamento e carregamento, necessitando de uma palete específica para o efeito, que não havia e que tinha que encontrar; tinha que ter uma rede de agentes nos locais de destino; se resolvesse o problema da palete resolvia o problema da viagem. Encomendámos inicialmente 100 paletes específicas, divulgámos apenas de boca a boa, estruturámos o serviço através da especialização do pessoal de armazém para colocar a moto na palete, e começámos a instruir os nossos agentes para fazer a mesma coisa; e agora as coisas rolam deforma fluída.»
O serviço começou em 2017, primeiro muito timidamente, com os primeiros clientes a passarem a palavra para outros potenciais clientes. «Todos nós conhecemos alguém no meio e íamos ouvindo amigos que queriam levar as motos e não sabiam como», diz Nuno Batista, Borker Sénior da Garland. «Havia uma falta de quem organizasse esse tipo de transportes e foi nesse meio que mais divulgação houve, entre conhecidos, amigos, grupos.» «Assim, em vez dos tais dois dias que eu passaria em estrada para atravessar Espanha e França para chegar a Milão ou fazer os Alpes Suíços ou ir à zona do Tirol ou Balcãs, em duas horas chego a Milão e tenho lá a minha moto à espera, tendo seguido quatro ou cinco dias antes por via terrestre.»
O envio da moto para uma cidade europeia como Milão, ida e volta, ronda os 600 a 650 euros. A entrega antecipada das motos é feita em quatro locais em Portugal continental: Abóbada, Maia, Marinha Grande e Aveiro. Há também a possibilidade de a moto ser recolhida em casa do cliente. E em termos de destinos… conseguimos ter a moto à nossa espera na Nova Zelândia, por exemplo? «Consegue, mas não ficará barato!», diz Sérgio Freitas, «em termos de transporte consegue ir para todo o lado», sendo que um destino com transporte por via terrestre será mais barato do que outro que obrigue a transporte aéreo. «Na Europa torna-se mais fácil porque o transporte é sempre feito via camião; se falarmos no centro da Europa são três ou quatro dias, se for na Europa de Leste, são cinco, seis dias. Ou seja, se o cliente nos entregar a moto numa sexta-feira, no caso do Leste da Europa, estará lá na quinta ou sexta-feira da semana seguinte. Nós tentamos sempre que a moto chegue antes do cliente». E como é esse planeamento? «Os clientes, quer individualmente quer em grupo, começam a planear as suas viagens do ano seguinte em Outubro ou Novembro, e apresentam-nos os seus planos, por exemplo, ir para Berlim, mas depois regresso por Cracóvia, ou ida por Munique e regresso por Praga; nós apresentamos os respectivos orçamentos e os clientes escolhem o destino.»
O serviço começou em 2017, primeiro muito timidamente, com os primeiros clientes a passarem a palavra.
E os destinos mais comuns são precisamente na Europa, mas recentemente enviaram uma moto para a Argentina, de um casal brasileiro que está a dar a volta ao mundo e se preparava para as últimas etapas até casa. Mas já têm muitas solicitações para África. E nalguns destinos, o armazém para recolha da moto fi ca muito perto do aeroporto: «Em Berlim fica no poligno industrial do aeroporto, a cerca de 2 km, e em Milão também fi ca muito perto. Tentamos evitar que os clientes tenham que fazer 70 km para ir buscar a moto».
Em Portugal tem pessoal especializado para colocar as motos nas paletes, e no destino? Explica Nuno Batista: «Tentamos que todas as operações sejam feitas na presença do cliente, até porque as muitos não são todas iguais. Cada moto tem os seus discos, a sua largura, a sua altura, e nós temos vindo a aprender isso. Motos italianas têm certas características, as alemãs outras, as Harleys outras diferentes. O que fizemos foi formar as pessoas do armazém em como e onde amarrar as motos, onde passar as cintas, e também fizemos isso com os nossos agentes. Tudo é aberto, desembalado e a moto retirada da grade de preferência na presença do cliente; até porque as grades permitem que os clientes levem as malas da moto e a sua bagagem pessoal, em vez de ir no avião». Ou seja, a moto pode levar as malas montadas (ou desmontadas, ao lado da moto) já com a bagagem, capacetes e ainda alguma bagagem pessoal se preferir não levá-la na mão para o avião.
Em resumo, o cliente pode sair de Portugal de mãos nos bolsos e encontrar a sua moto e toda a sua bagagem no destino. Não é só a viajantes que este serviço pode ser útil; a Garland tem tido clientes que compram motos noutros países e usam este serviço para as trazer até casa. «Posso dizer que neste momento nos países de onde há mais importação de motos temos grades já no armazém dos nossos agentes. Sistematicamente estão a ser entregues motos no nosso armazém para serem enviadas para Portugal para um dos nossos armazéns. Ainda na semana chegaram 10 motos vindas de Inglaterra», explica Sérgio Freitas.
“Tentamos que todas as operações sejam feitas na presença do cliente, até porque as motos não são todas iguais.”
Desde que a Garland começou este serviço, há menos de 3 anos, houve que afinar algumas agulhas, com a experiência que foram acumulando. «Por exemplo, embora saibamos que as motos não todas iguais, pensámos que colocá-las na palete seria igual, mas não. Uma desportiva, com discos maiores, precisa de um calço na roda para a levantar; outra situação é que o motociclista gosta muito de opinar, ‘ponha assim’, ‘ponha aqui’. Não, essa parte é connosco. Quem sabe do transporte somos nós, nós é que definimos como carregamos e como o fazemos». Isto implica, por exemplo, desmontar malas que excedam as dimensões da palete, que depois são colocadas ao lado da moto, devidamente amarradas e protegidas, o mesmo acontecendo com o vidro dianteiro, se for demasiado alto, ou os espelhos retrovisores. Neste aspecto há motos mais complicadas que outras, por exemplo devido ao tamanho, por exemplo, uma BMW K1600 GT? Explica Nuno Batista: «Cada uma tem a sua característica. Essa BMW grande mas não oferece grandes problemas, a não ser às vezes o vidro por causa altura; já as Harley-Davidson, alguns modelos são mais compridos; mas agora o meu colega do armazém quando vê a moto já sabe o que tem que fazer, sempre na presença do cliente. As Vespas são pequenas mas não quer dizer que sejam mais fáceis: são mais curtas e as rodas são muito pequenas». E depois há ainda as motos com três rodas… como a Yamaha Tricity que «tem que ser carregada ao contrário, com a roda de trás onde fica a da frente das outras motos, e adapta-se, não tem grande problema».
Quer Sérgio Freitas quer Nuno Batista são motociclistas, pelo que criar este serviço foi juntar duas coisas de que gostam muito. «Uma das coisas que me deu satisfação no meio disto tudo foi aliar o trabalho a uma paixão. Eu também sou apaixonado pelo meu trabalho, por aquilo que faço. E adoro andar de moto, é uma terapia», diz Sérgio Freitas. «Quando apresentei o projecto à administração, foi muito salutar que a administração tenha acedido avançar, respeitando esta diferença e que havia aqui um nicho de mercado que podia ser interessante. Cada vez se vendem mais motos e é uma comunidade em crescimento, e esta especialização seguramente quando alguém aparecer nós já estaremos mais à frente e seremos uma referência; aliás, já o somos, porque colegas transitários vêm pedir a nossa colaboração, ou para facilitar as paletes, ou fazermos nós o transporte para os seus clientes».
Este é um negócio de nicho na Garland, mas que ao fim de pouco mais de dois anos começa a ganhar alguma expressão. Das meia dúzia de motos transportadas no primeiro ano, cresceram para cerca de 300 no ano passado e este ano prevêem chegar às 600. Este é mais um exemplo de serviços criado por motociclistas para motociclistas, oferecendo assim a tranquilidade no transporte da sua moto. Por falar nisso, para além do seguro de transporte que existe para todas as mercadorias (mas que paga apenas cerca de 10 € por kg, independentemente da carga), a Garland propõe um seguro específico para o valor real da moto. Para além disso, à chegada, há uma check list verificada na presença do cliente, para garantir que a moto chega nas condições em saiu. «Este é um produto que nos ajuda a chegar mais longe», diz Sérgio Freitas. «Se queremos chegar mais longe precisamos de tempo, e nós que estamos no canto da Europa, precisamos de mais tempos, e assim podemos de facto chegar mais longe».
Os interessados neste serviço da Garland podem pedir mais informações pelo correio electrónico transporte.motas@garland.pt. Saiba mais em www.garland.pt