O mundo do desporto motorizado está repleto de casos em que pilotos com talento acabam por não conseguir prosseguir as suas carreiras nas pistas devido à falta de patrocínios. Ainda recentemente a Revista Motojornal deu aqui conta de uma situação que envolveu um piloto do Campeonato Nacional de Velocidade. Desta feita temos, infelizmente, de voltar a falar neste assunto, pois o jovem talento português Martim Marco anunciou o fim da sua participação no competitivo campeonato FIM JuniorGP.
Martim Marco, que competiu até agora na European Talent Cup (ETC) integrando a equipa Fifty Motorsport, tem vindo a batalhar contra a ausência de patrocinadores que lhe permitam garantir o orçamento exigido pelas equipas para competir a este nível onde participam alguns dos melhores pilotos do Mundo.
Finalizada a ronda portuguesa no Autódromo Internacional do Algarve, um fim de semana bastante complicado e onde uma queda nos treinos deixou a sua moto bastante danificada, o que, para além dos custos associados com a reparação, levou a um esforço adicional por parte do Martim Marco e da sua equipa para colocar a moto novamente em condições de participar nesta ronda portuguesa do FIM JuniorGP, foi tomada uma decisão drástica: desistir de competir neste campeonato!
Face a todas estas condicionantes que têm vindo a assolar a sua participação nesta temporada do FIM JuniorGP e na classe ETC, o jovem piloto português decidiu optar por abandonar esta competição, destacando, precisamente, a falta de patrocinadores, e realçando o esforço que os seus pais têm feito para o ajudar a perseguir o seu sonho:
“Depois de terminada a prova de Portimão, e depois de avaliar todas as situações, torna-se bastante complicado continuar a competir no Europeu. Efetivamente, estamos num campeonato com muito nível, e onde é necessário muito dinheiro para correr. Posso-vos dizer que os pilotos pagam entre 80 mil a 100 mil euros para correrem uma época, e para mim, que não tenho patrocinadores nem apoios que sustentem estes valores, nem de longe nem de perto, não conseguimos continuar a competir desta forma neste campeonato. Temos apenas 2 patrocinadores (não monetários), que desde já agradeço o apoio: à Alves Bandeira e à MT Helmets.
De início sabíamos que íamos ter muito trabalho pela frente, porque estamos a lutar com equipas do mundial, e sou o único piloto da grelha onde a minha equipa técnica é o meu pai e a minha mãe e um telemétrico que está comigo e com mais 3 motos nas Stocksport 600!! Não está a 100% comigo!
Não saio de Portimão triste, pois, como referi, a minha equipa é pequena, e vamos com o que podemos, mas a rodar em 1m54s não posso dizer que estava mal, pois as equipas estiveram a testar na semana antes da corrida, dois dias em Portimão, como aconteceu na corrida de Itália, e seguintes, e nós mais uma vez nem sabíamos que iria haver um teste, logo nem sequer fomos testar. Na sexta-feira na primeira sessão de treinos tive uma queda na curva 5 que deixou a moto totalmente destruída quando estava a começar a trabalhar para baixar os tempos o que condicionou o resto do fim de semana todo, pois rodei a partir daí sem qualquer tipo de informação.
Em pista fui apenas eu e a moto. Por isso, e com os recursos que temos, com a moto que levava, sem qualquer tipo de informação, aliás nem o tempo por volta eu sabia. Conclusão: nem eu sabia nada, nem poderíamos tirar da moto qualquer informação. Fico então contente com o meu resultado. Sei que consigo fazer melhor, mas com outras ferramentas que me permitam estar em igualdade de meios para competir.
Estou, no entanto, bastante feliz pelo trabalho que tenho feito, pois com apenas 4 corridas que fiz e olhando para os tempos obtidos comparando com outros pilotos que têm 2 e 3 anos na categoria e com outros meios à disposição, estou bastante contente em igualar e superar alguns que merecem todo respeito desportivo obtido!
Vamos, no entanto, analisar e ver o que podemos fazer para seguir dando guerra! Obrigado a todos os que me apoiam”, escreveu o piloto Martim Marco na sua página oficial no Facebook.
A Revista Motojornal já entrou em contacto com o Martim Marco para obter mais detalhes sobre esta sua decisão de deixar de competir no FIM JuniorGP por falta de patrocinadores.
Em declarações exclusivas à Revista Motojornal, o jovem piloto português refere que “Sim, vou deixar (de competir) pois é insustentável. Não temos patrocinadores. Só temos a Alves Bandeira que nos dá combustível cá em Portugal e a MT Helmets que nos deu os capacetes. Nestas corridas vão normalmente testar na semana antes. São entre 600 e 900 euros por dia. Nós não vamos (testar). E depois em cada corrida, entre treinos, pneus e tudo o resto gastamos cerca de 5 mil euros por corrida. Tudo do bolso do meu pai e da minha mãe! Não dá mais. Ainda pagamos à equipa onde estamos para ter o telemétrico que não está a 100% comigo. As equipas pedem muito dinheiro e não dá. Podia estar junto do (Carlos) Cano e do Kerman Tinez, pois sempre fizemos pódios juntos. Mas sozinho é impossível. Este fim de semana caí e parti duas jantes, o quadro da moto, a telemetria toda, o depósito rompeu-se. Toda destruída, tivemos de a arranjar mais ou menos para competir. Mesmo assim não foi tão mau (o resultado). Mas pronto… não conseguimos mais”, confessou-nos um desiludido Martim Marco sobre a situação que o obriga a desistir do FIM JuniorGP.
Mas será que a decisão hoje anunciada irá afetar a sua participação no Campeonato Nacional de Velocidade (CNV Moto), onde se estreia esta temporada de 2024 nas Stock 600?
“Vou continuar no CNV Moto pois a Yamaha e a Speedcity ajudaram-me e vou honrar esse compromisso. Agora no FIM JuniorGP não conseguimos mais… só se aparecer uma estrelinha!”, diz-nos Martim Marco, mantendo assim viva a esperança de que surjam os patrocinadores que permitam continuar a competir a nível internacional.
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