Depois das primeiras voltas era difícil perceber o desfecho da corrida de MotoGP no GP de Doha, o segundo consecutivo no circuito de Losail. Jorge Martin saiu duma pole história para liderar grande parte da corrida, mas Fabio Quartararo, depois de um mau arranque, recuperou para chegar ao comando nas últimas voltas e vencer.
Quartararo chegou a rodar em 9.º depois de ter arrancado da segunda linha da grelha de partida, mas na segunda metade da corrida começou a recuperar. Quando chegou ao quarto lugar tinha três Ducati pela frente, as de Jorge Martin, Johann Zarco e Pecco Bagnaia.
«Nem tenho palavras. Esta vitória é diferente das anteriores três que consegui em MotoGP», disse Quartararo, regozijando-se por ter conseguido ter uma moto que lhe permitiu fazer ultrapassagens, referindo ainda que na corrida anterior se portou como um amador, e que desta vez pensou mais racionalmente.
«Melhor momento de sempre»
«Na corrida anterior fiquei desapontado comigo próprio. Esta corrida foi completamente diferente. Pensei tão bem, joguei muito com os mapas e com o pneus. A nove ou dez voltas do final pensei ‘agora é o momento de puxar e mostrar o nosso potencial’. É ótimo terminar na primeira posição. Fiquei tão contente com a quarta sessão de treinos, porque senti que fui o único piloto a fazer voltas em 1’54 altos. Por isso traçámos um plano, mas a equipa disse-me também para seguir as sensações, e hoje fiz isso muito bem.»
«Quando passei o Zarco, imediatamente passei o Martin. Fiquei um pouco assustado quando passei por cima dos detritos no final [ndr.: pedaços duma asa da moto de Danilo Petrucci] e pensei ‘um furo não, por favor!’, por causa do barulho que fez. A minha última volta não apareceu tão rápida quanto as anteriores, mas foi suficiente para vencer. Cantar o hino francês com o Zarco foi o melhor momento de sempre», concluiu Fabio Quartararo.
Vive la France, a Marselhesa a dobrar com Quartararo e Zarco
Há muito que não havia dois franceses no pódio duma corrida da categoria rainha. A última vez foi em 1954, quando Philippe Monneret (Gilera) venceu o GP de França em Reims (foi a sua única vitória da carreira) e Jacques Collot (Norton) terminou na terceira posição. Porém, foi a primeira vez que dois pilotos franceses ocuparam os dois primeiros lugares numa corrida da categoria rainha.
Na última volta Zarco Passou Martin para conquistar o segundo lugar, e Martin alcançou o seu primeiro pódio na categoria na sua segunda corrida, voltando a escrever o seu nome nos livros de história.
Depois de ter vencido na semana anterior, Maverick Viñales terminou esta corrida na quinta posição. O espanhol tentou gerir os pneus para atacar no final, e apesar de sentir ter boa tração, não conseguiu. «Quem me dera que a corrida tivesse mais cinco voltas», disse no final. Zarco assumiu o comando do campeonato.
Oliveira mais longe, mas mais perto na corrida mais renhida de sempre
Miguel Oliveira desta vez optou pelo pneu de composto médio na roda dianteira, para evitar os problemas da semana anterior. E começou por fazer um arranque canhão, passando de 12.º para terceiro na curva 1. Mas ao alargar perdeu uma posição, e de repente ficou sem painel de instrumentos. A partir daí acabou por andar para trás, terminando em 15.º, numa rara ocasião em que terminou atrás da sua posição da grelha.
«Fiz uma boa partida, mas no final da primeira volta o meu painel de instrumentos apagou-se, e o mais difícil era gerir os pontos de passagem de caixa. Também precisamos de perceber como ser mais ágeis de modo a defender melhor a nossa posição, mas demos um passo em frente aqui no Qatar. Aprendemos muito sobre a moto e agora entramos nos circuitos europeus com ainda mais motivação para melhorar», explicou Oliveira.
O piloto português duas posições mais atrás do que no domingo anterior, mas mais perto do vencedor. Se no GP do Qatar Oliveira terminou em 13.º a 11,457 s de Viñales, desta vez terminou em 15.º a 8,928 s de Quartararo. Aliás, esta foi a corrida mais renhida da história do campeoanto, com os 15 primeiros separados por 8,928 s, e os 10 primeiros separados por apenas 5,382 s, batendo assim os recordes do GP do Qatar de 2019 (primeiros 15 separados por 15,093 s) e o da República Checa de 2018 (primeiros 10 separados por 8,326 s).
Sam Lowes sucede a Sam Lowes
A corrida de Moto2 não teve grande história. Apesar de ter sido Marco Bezzecchi a comandar nas três primeiras voltas, foi Sam Lowes quem dominou a corrida. Depois de passar para a frente geriu o comando até ao final. Remy Gardner colocou grande pressão no britânico nas últimas voltas, e na última tentou mesmo a ultrapassagem, mas Lowes fechou todas as portas para garantir a segunda vitória em duas corridas e reforçar o comando do campeonato. Raul Fernandez conseguiu o seu primeiro pódio da carreira em Moto2. Marco Bezzecchi voltou a terminar fora do pódio, de novo em quarto. Outro rookie em destaque foi Ai Ogura, ao terminar em quinto, na frente de Augusto Fernandez.
Moto3: Acosta transforma castigo em vitória
A corrida de Moto3 do GP de Doha ficará para a história. Pelo vencedor ser um rookie de 16 anos, mas especialmente porque arrancou do pit lane, depois de toda a gente. Pedro Acosta foi um dos sete pilotos penalizados por pilotagem irresponsável na segunda sessão de treinos livres. Ele e os outros seis (Sérgio Garcia, Romano Fenati, Dennis Foggia, Stefano Nepa, Dennis Öncü e Riccardo Rossi) foram forçados a arrancar para a corrida do pit lane. Isso criou imediatamente um fosso de 10 segundos entre o pelotão que arrancou da grelha e o grupo penalizado.
Pedro Acosta não se deixou abater e imprimiu um ritmo impressionante igualado apenas por Sérgio Garcia – que acabaria por cair. Em sete voltas eliminou aqueles 10 segundos e noutras sete subiu de 20 até ao comando da corrida! E nas duas últimas escapou a Darryn Binder para conquistar uma impressionante vitória de estreia no Mundial. Binder foi segundo e na confusão final Niccolo Antonelli encerrou o pódio.
Com a vitória Pedro Acosta assumiu o comando do campeonato.
Mil euros de multa a arranque do pit lane
A corrida ficou ainda marcada por vários incidentes, e num deles John McPhee voltou a ser derrubado, desta vez por Jeremy Alcoba. O espanhol entusiasmou-se no final da recta, tocou em Binder, caiu e derrubou o escocês. McPhee, frustado por ter que abandonar pela segunda corrida consecutiva, assim que se levantou foi direito a Alcoba e agrediu-o, e o espanhol defendeu-se. Por isso foram ambos castigados; multa de 1000 € a cada um, e ambos vão arrancar do pit lane no GP de Portugal, com uma agravante: cinco segundos de atraso para Alcoba e 10 para McPhee.
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