Jorge Viegas: “Existem vetores no motociclismo que me guiam, um deles é que qualquer rapaz ou rapariga que queira correr de moto o possa fazer, independentemente dos meios financeiros que tenha à disposição. Um dos pontos fortes da minha política passa por investir muito nas academias, criar fórmulas de iniciação, para que quem tenha jeito não veja a sua carreira barrada por falta de dinheiro.”
Então porque não vemos miúdos e miúdas portugueses no CEV, na “Red Bull Rookies Cup” ou na “Supersport 300”?
Voltamos ao exemplo do Miguel Oliveira, em que tive de pedir aos espanhóis que o aceitassem numa fórmula que era só reservada a nacionais. De tal maneira que no final do mesmo o presidente da federação ligou-me a queixar-se de que lhe tinha enviado um piloto estrangeiro e que ele havia ganho campeonato (risos).
Acho que era o campeonato Atlântico ou Mediterrânico, já não me lembro. Hoje em dia tu só tens, praticamente, duas vias de acesso ao mundial. O CEV, que tem pilotos de todo o mundo e os portugueses que quiserem chegar à Moto3 (e depois ao MotoGP) têm de ir para lá, ou a “Red Bull Rookies Cup”. Os nossos têm ido às provas de seleção, mas como não ficam entre os primeiros… não entram. É a selva!
Mas não há política de bastidores, com certas nacionalidades que têm ”obrigatoriamente” de estar presentes?
Não te vou desmentir e eles têm de ter pilotos de certas proveniências. Mas se tu fores bom… olha, tens o exemplo do Ivo Lopes que chegou a andar na frente. Aliás, estamos a fazer tudo para o meter numa equipa de um campeonato internacional. Ainda aqui neste mesmo sítio, esta manhã esteve o Gregório Lavilla, porque ele tem sempre contatos de equipas, junto com o Paulo Pinheiro do AIA, para que o Ivo apareça numa equipa, seja em ”Supersport” ou”Superbike ”.
O Ivo está perfeitamente à altura e é um piloto rápido. Eu lembro-me que no início de carreira ele estava a alcançar melhores resultados que o próprio Miguel Oliveira. Mas depois perdeu-se um pouco.
Vivemos no tempo de pais super-protetores e de miúdos que não vivem sem terem um ecrã à frente. Como é que os podemos trazer para as motos?
Pois é… eles têm de experimentar. A única maneira é dar-lhes a maneira de eles andarem numa moto. Em dez miúdos, dois ou três ficam com o ”bicho”. É o princípio da ”Oliveira Cup” e do nosso ”2020”. Experimentar, sem custos, a competição de moto. Alguns adoram aquilo e já não querem mais largar. Se não lhes dermos esta experiência, eles vão continuar com o ecrã à frente, que é o nosso grande adversário: as consolas e os jogos de computador.
O passo seguinte do ”2020” para o Nacional está assegurado?
Nós estamos a tentar, e não te vou falar de Portugal mas a um nível internacional, que os principais países da Europa tenham todos um campeonato ”2020”, numa forma em que a Dorna também irá participar. A ideia é arranjar, imagina, 20 motos por país e criar este tipo de competições. Depois tens o FIM CEV e de seguida o Mundial. Em Portugal, embora não seja do meu pelouro, tem sido feito um enorme esforço para captar miúdos, mas não é fácil… os pais têm medo… é perigoso… enfim, não é uma equação nada fácil de resolver.
Texto: Fernando Pedrinho Martins e Domingos Janeiro Fotos: Hellophoto – Miguel Araújo in revista Motojornal Adaptação: Marcos Leal