Falar em questões de segurança rodoviária, seja em Portugal ou noutro qualquer país, é uma conversa que rapidamente acaba por se centrar nas motos e, claro, nos comportamentos dos motociclistas aos comandos das suas motos. Basicamente a forma como conduzimos.
Ainda que em Portugal o Governo acredite que implementar as IPO às motos a partir de janeiro de 2024 seja uma medida que vai aumentar a segurança dos motociclistas, pese embora o Grupo Acção Motociclista (GAM) reivindique que esse conceito governamental está errado, outros países têm vindo a testar ideias diferentes e que já podemos ver pintadas no asfalto.
Em 2016 o primeiro país a aderir à ideia de inovar na sinalização horizontal foi a Áustria.
As autoridades daquele país decidiram pintar no asfalto um conjunto de linhas brancas, perpendiculares ao traço que assinala o eixo da via, em seis curvas do Grossglockner, 14 curvas na Estíria e ainda outras 19 no Tirol.
Essas linhas, de comprimento variável, e, por razões óbvias apenas aplicadas em curvas à esquerda, têm como objetivo avisar o motociclista que está a circular numa área da estrada em que o seu tronco e cabeça passam para o sentido contrário.
Nessas situações os motociclistas ficam particularmente vulneráveis a embates frontais com veículos que circulam em sentido contrário. Por exemplo, isto é particularmente relevante quando nos cruzamos com veículos de maiores dimensões, como um autocarro, que devido às suas dimensões acaba por invadir o sentido contrário com a sua frente.
Avisados pelas linhas brancas, os motociclistas, em teoria, ficam mais atentos e evitam esta situação perigosa, traçando trajetórias em curvas à esquerda mais abertas, ou seja, circulam mais próximos da berma da estrada.
Após a estreia destas linhas brancas na Áustria, foi a vez do Luxemburgo também decidir aplicar esta nova sinalização horizontal para tentar melhorar a segurança dos motociclistas. Em 2019, numa estrada de montanha particularmente popular pelas suas curvas, N25, uma estrada que liga as cidades de Wiltz e Kautenbach, foram então pintadas as linhas brancas dedicadas às motos em 3 curvas.
E será que as linhas brancas nas curvas ajudam a diminuir os acidentes com motos?
De acordo com os dados oficiais de cada um dos países acima referidos, tudo indica que estas linhas brancas ajudam mesmo a combater a sinistralidade.
Na Áustria não foram registados acidentes graves nas zonas alvo da nova sinalização horizontal, e na área específica do Tirol apenas foram registados em 2022 sete acidentes com motos, o que representa uma redução de 80% nos impactos em comparação com 2019, de acordo com as informações reveladas por Martin Winkelbauer, membro do Conselho de Segurança Rodoviária austríaco, que refere ainda que o custo de pintar as linhas é muito reduzido quando comparado com a redução dos acidentes.
No Luxemburgo as autoridades responsáveis pela segurança rodoviária aproveitaram as linhas brancas para dividir a estrada em três zonas de cores diferentes: verde (mais próximo da berma), amarelo (próximo do eixo da via) e vermelho (sentido contrário). Basicamente classificaram cada uma destas zonas de mais segura a menos segura ou perigosa, respetivamente.
Ao fim de dois meses chegaram às primeiras conclusões.
Antes das linhas brancas serem pintadas na estrada, 80% dos motociclistas percorria as curvas conduzindo na zona amarela, 10% na zona verde e 10% conduziam na zona de perigo de embate frontal.
Depois de as linhas brancas serem pintadas, as autoridades luxemburguesas verificaram que 40% dos motociclistas conduzem agora na zona amarela, 58% passou a conduzir na zona verde e livre de perigo de embate frontal, e apenas 2% foi “apanhado” a conduzir a moto na zona vermelha.
Assim, e depois do teste em 3 curvas, atualmente existem cerca de 50 curvas com esta nova sinalização rodoviária no Luxemburgo.
O sucesso nestes dois países levou a que na Alemanha também estejam agora a testar estas linhas brancas dedicadas à segurança dos motociclistas.
No distrito de Düren na Renânia do Norte-Vestfália estão a experimentar esta técnica de sinalização rodoviária, mas, conforme indicam as autoridades germânicas, optaram neste caso por aplicar uma tinta plástica aplicada a frio e à qual foram adicionados agentes antiderrapantes, que, de acordo com os responsáveis alemães, deverão apresentar uma melhoria significativa em comparação com as tinhas utilizadas tanto na Áustria como no Luxemburgo.
Convém também referir que estão a ser realizados estudos no sentido de perceber se o desenho e dimensões das linhas brancas afetam os resultados. Para além da aplicação da linha reta em diferentes dimensões, têm também sido testadas outras formas geométricas como círculos ou ovais, no sentido de perceber se esses desenhos diferentes têm influência no comportamento dos motociclistas na forma como conduzem numa curva.