Provavelmente não acredita se lhe dissermos que as famosas 24 Horas de Le Mans, em automóveis, são a razão pela qual não se realizam corridas com veículos a motor na Suíça. Mas a verdade é que a icónica corrida de resistência francesa é mesmo a razão que levou os governantes suíços a proibir as corridas naquele país tão conhecido pelas suas estradas de montanha e paisagens deslumbrantes.
Durante os últimos 67 anos não foi possível organizar provas motorizadas na Suíça, salvo raras exceções e mediante uma licença disponibilizada a título especial pelo Governo. Estamos a falar de eventos nacionais como corridas de Supermoto, Hillclimb ou mini-motos em kartódromos, ou então o Mundial de Motocross MXGP que ali manteve uma ronda entre 2016 e 2018.
E porque é que na Suíça foi impossível competir durante mais de seis décadas?
A proibição foi aplicada devido a um acidente na edição de 1955 das 24 Horas de Le Mans em automóveis.
O piloto francês Pierre Levegh sofreu um aparatoso acidente e, infelizmente, causou a morte de 83 pessoas que estavam ao lado da pista a assistir à corrida. A situação foi verdadeiramente trágica, e a tal ponto que vários países, incluindo França, Espanha ou Alemanha, rapidamente criaram leis para banir as corridas com veículos a motor, sob a justificação da segurança.
Estes três países rapidamente perceberam que a proibição era demasiado severa ou exagerada, e acabaram por voltar a permitir corridas. Mas o governo da Suíça não teve o mesmo entendimento, e manteve desde 1955 a referida proibição.
Adicionalmente, a lei de 1955 foi atualizada em 1958 com um artigo adicional, o Artigo 52, em que era dito especificamente que “Estão proibidas todas as corridas de velocidade com veículos a motor, em circuito ou em estrada, e com presença de público, salvo exceção especial do Conselho federal”.
Desta forma os governantes quiseram mostrar que estavam contra as corridas, mas também contra a presença de público a assistir às mesmas, lembrando sempre o acidente das 24 Horas de Le Mans.
Mas as regras os sistemas de segurança dos circuitos, dos veículos, ou até mesmo dos equipamentos de proteção dos pilotos, têm vindo a evoluir de forma assinalável na era moderna. E de certa forma a justificação da falta de segurança que levou à proibição de corridas na Suíça deixa de ser válida.
Acreditando que atualmente já existem mecanismos e equipamentos que permitem evitar tragédias como a que ocorreu nas 24 Horas de Le Mans em 1955, o Conselho dos transportes da Confederação Nacional suíça apresentou uma proposta de alteração ao Artigo 52. A proposta consistia unicamente na revogação da antiga disposição da lei, tendo a proposta sido agora aprovada pelo Parlamento suíço para regozijo de todos aqueles que querem competir neste país.
Agora que foi ultrapassada a proibição, e com a realização de diferentes campeonatos nacionais de “menor” dimensão sob a égide da federação local, a Suíça poderá começar a pensar em voltar aos grandes palcos do motociclismo de velocidade como seja o MotoGP ou o Mundial Superbike.
Para isso terá de existir um investimento maior em termos de criação de infraestruturas, algo que deverá demorar ainda algum tempo a acontecer.
Mas este é, sem dúvida, um bom primeiro passo no país que é a “casa” da Federação Internacional de Motociclismo e que durante muitos anos foi cenário para a realização do Grande Prémio da Suíça de motociclismo.
Independentemente de toda esta situação pouco habitual, a Suíça manteve uma presença a nível internacional ao nível de pilotos profissionais, e que se conseguiram destacar em diversas disciplinas do motociclismo.
Provavelmente o exemplo de que todos os fãs se recordam será o de Tom Luthi, piloto de velocidade que foi campeão do mundo na categoria 125 cc de Grande Prémio, venceu corridas de Moto2 e chegou mesmo a competir em MotoGP, mas sem sucesso.
Outro piloto suíço que está atualmente a dar cartas a nível internacional é Dominique Aegerter, que compete no Mundial Supersport com a Ten Kate Racing. Aegerter é campeão em título das Supersport e venceu recentemente as duas corridas no Estoril.
Mas não é apenas na velocidade que a Suíça tem pilotos bem-sucedidos. Destacamos Jeremy Seewer, que compete no Mundial Motocross MXGP, vice-campeão e vencedor de várias rondas deste campeonato.