Apesar de ter sido apresentada virtualmente a 31 de março, a Ducati Desmosedici fez a sua estreia oficial a 30 de maio de 2002 durante o Grande Prémio de Itália em Mugello, circuito que este fim de semana celebra mais um GP – clique aqui para ver os horários completos – e que marca a celebração dos 20 anos desde que o protótipo de Borgo Panigale se estreou perante os fãs.
A sua denominação Desmosedici resulta da utilização do característico sistema de distribuição Desmodrómico, e ainda pelo facto do motor quatro cilindros em V contar com dezasseis válvulas.
Foi o primeiro V4 Desmo a ser fabricado, e esta moto começou a ser desenvolvida dois anos antes da sua revelação, com a Ducati Corse a usar como ponto de partida as motos que utilizava com bastante sucesso no Mundial Superbike.
Na realidade, o motor estava para ser um V-twin. Porém, os engenheiros da Ducati Corse, que de acordo com os dados divulgados na altura tinham uma média de idades que rondava os 28 anos – bastante jovens – perceberam que para um motor desse tipo atingir os mais de 230 cv necessários para ser competitivo teria de chegar acima das 17.000 rpm. Teria de ser um motor com curso muito reduzido e diâmetro de pistões demasiado grande, o que trazia problemas de combustão.
Optaram então pela arquitetura V4. Um motor que permitia atingir as rotações necessárias para atingir a potência desejada, mas também um motor que gerava menos vibrações, pelo que seria mais fiável e mecanicamente mais eficiente.
Claudio Domenicalli, à data diretor da Ducati Corse e atual CEO da marca, referiu que “A moto nasceu a partir do chassis multitubular da moto de SBK, uma opção que se apresentou como sendo válida e com muitos êxitos”.
Na realidade o quadro tubular tipo treliça tinha a assinatura da Verlicchi. Os tubos em aço eram uma completa disrupção dos quadros utilizados pelos restantes fabricantes rivais em MotoGP, tipo dupla trave. As carenagens eram bastante “redondas”, e a Ducati Corse desenhou a Demosedici de forma a permitir que o piloto se pudesse movimentar facilmente em cima dela, mas sempre a pensar na obtenção da velocidade máxima.
Aliás, a capacidade de fazer velocidade tem sido uma das mais-valias da Ducati Desmosedici ao longo dos últimos 20 anos de competição em MotoGP. Algo que continuamos a ver mesmo na mais recente Desmosedici GP22.
Apesar de apresentada em 2002, a Ducati Desmosedici precisou de esperar um ano até realmente fazer a sua estreia em competição. Foi na temporada de 2003 que Troy Bayliss e Loris Capirossi pilotaram a moto que trouxe a Ducati de volta à categoria rainha do motociclismo de velocidade.
E nesse mesmo ano, no Grande Prémio da Catalunha, Loris Capirossi conseguiu mesmo oferecer a primeira vitória à Ducati Desmosedici.
Filippo Preziosi, Diretor Geral da Ducati Corse, dizia que a Desmosedici é uma moto “Que melhor expressa a integração do motor, chassis e piloto. Este conceito foi a nossa filosofia desde o momento em que aceitámos enfrentar este desafio”.
Preziosi também não escondia o orgulho sobre a forma como o projeto Desmosedici de MotoGP teve influência na gama de motos de estrada que a fábrica de Borgo Panigale produzia para os Ducatistas: “Esta moto representa uma importante evolução do conceito de Superbike, e é o resultado de inovadoras técnicas de desenho que nos permitiram integram a modelação virtual e análise com a nossa considerável experiência em competição. Este projeto permitiu-nos crescer rapidamente e transferir nova tecnologia para as nossas motos de estrada, que em resultado disso se tornou mais fiável, emocionante e com mais performance”.
Para além dos “altos e baixos” inerentes a uma moto em constante evolução, a Ducati Desmosedici que estará para sempre na memória dos Ducatistas, e dos apaixonados por motos de competição de uma forma geral, será a Desmosedici GP7.
A Ducati Corse, apesar de ser um departamento de competição relativamente pequeno em comparação com os gigantes japoneses, trabalhou muito bem na preparação do motor V4 para a temporada 2007. Nesse ano os protótipos de MotoGP deixaram de ser 990 cc e passaram a 800 cc. E a Desmosedici GP7 era uma moto formidável! Principalmente pelas mãos de um australiano de seu nome Casey Stoner.
Stoner impressionou tudo e todos nessa temporada de estreia dos motores 800 cc. Com a sua Desmosedici GP7 equipada com pneus Bridgestone feitos à medida para as características especiais da moto italiana, o australiano conquistou o primeiro título para a marca de Borgo Panigale com o projeto Desmosedici. Um título que ainda se mantém como único e elevou Casey Stoner a um patamar de notoriedade muito elevado.
Ao longo dos anos o protótipo italiano evoluiu e tornou-se numa das motos mais potentes do campeonato, e permitiu à Ducati alcançar diversos títulos de construtor e equipas. Porém, o título de pilotos continua a escapar.
A Ducati Desmosedici RR – A réplica de MotoGP para desfrutar na estrada
Em maio de 2004, durante o famoso World Ducati Week, a principal reunião e festa de Ducatistas e fãs da marca, a Ducati, por intermédio do seu CEO na altura, Federico Minoli, anunciou o desenvolvimento de uma réplica de estrada da moto de competição denominada Desmosedici RR – Racing Replica.
A ideia inicial por parte dos responsáveis da Ducati seria produzir 500 exemplares, mas no final, e devido ao enorme interesse e procura por parte de clientes, saíram da linha de montagem de Borgo Panigale nada menos do que 1500 unidades da exótica Ducati Desmosedici RR, também conhecida como D16RR.
A versão definitiva da Desmosedici RR foi apresentada em 2006 na véspera do Grande Prémio de Itália. E a reação do público foi de surpresa absoluta pelo trabalho feito pela marca italiana.
Vittoriano Guareschi, que nesses anos era piloto oficial de testes da Ducati para MotoGP, ficou encarregue de realizar os testes em estrada e pista para garantir que a Desmosedici RR era uma moto realmente à altura daquilo que prometia: uma MotoGP para a estrada.
A estreia em pista desta superdesportiva exótica aconteceu durante o World Ducati Week em Misano no ano de 2007, perante mais de 50.000 aficionados que ficaram maravilhados com o som que emanava do motor V4 através do sistema de escape exclusivo.
A produção iniciou-se em outubro numa linha de montagem específica. Toda a produção esgotou em pouco tempo. Em Portugal o seu preço de venda ao público era ligeiramente superior a 60.000€ e a manutenção desta moto tão especial apenas pode ser realizada por um concessionário oficial certificado.
Hoje em dia é fácil encontrar as Ducati Desmosedici RR usadas por valores perto ou até superiores aos 100.000 euros no mercado de motos usadas.