Já aqui na revista MotoJornal abordámos os problemas pelos quais a Honda está a passar em MotoGP. A temporada 2022, apesar de um começo auspicioso, tal como assumido por Alberto Puig, o diretor desportivo da Repsol Honda, tem vindo a tornar-se penosa para o maior fabricante mundial de motos.
Noutros anos a Honda seria uma das equipas que discutia vitórias e títulos, mas atualmente a Honda RC213V está longe da competitividade que apresentam as suas rivais na categoria rainha. É neste cenário complicado que Alberto Puig acabou mesmo por conceder uma entrevista ao canal oficial do departamento de competição HRC.
Nesta entrevista, que poderá ler na íntegra mais abaixo, Alberto Puig não esconde a insatisfação pelo que aconteceu nas primeiras onze corridas de MotoGP 2022. Longe dos pódios, ainda mais longe das vitórias, a Honda procura, desesperadamente, sair do “buraco” onde se encontra.
Entrevista a Alberto Puig
– Nos testes de inverno a Honda RC213V parecia competitiva. Mas desde o GP da Indonésia está longe de o ser. Os resultados não são certamente aqueles que esperavas?
Alberto Puig – Sim. No início da temporada pensámos que a moto de 2022 seria muito competitiva, mas em derradeira análise estávamos enganados. O primeiro teste e a primeira corrida provavelmente deram-nos uma ideia que não era a real, e por isso fizemos uma má avaliação da situação. Desde o GP da Indonésia que as coisas foram de mal a pior, e chegámos a um ponto que todos vimos o que aconteceu (GP da Alemanha onde a Honda não pontuou). O Marc Márquez teve de parar para operarem o braço, temos sofrido muitas quedas com todos os pilotos, não estamos a lutar por boas posições, e tudo isto será consequência de não termos conseguido encontrar os que planeámos durante os testes com a moto de 2022.
– Mas já chegaste a afirmar publicamente que “Encontrámos o problema”…
Alberto Puig – De uma forma básica, encontrámos o nosso problema, mas não é um problema com uma solução fácil ou rápida. Pensamos, acreditamos, que temos alguns problemas no chassis e tentámos diferentes soluções, mas não conseguimos ainda uma resposta definitiva. Não significa que não entendemos o problema, o que nos falta conseguir fazer é encontrar uma solução para o problema.
– Na conferência de imprensa em Assen disseste que “Talvez tenhamos de alterar a estratégia no futuro”. O que é que isso significa ao certo?
Alberto Puig – Não penso que seja uma questão de talvez. Penso que vamos mesmo ter de alterar porque não estamos a atingir os nossos objetivos. A Honda sempre foi uma empresa que foi líder na competição, especialmente nas duas rodas. Este é o nosso ADN! Não estamos a atingir o objetivo de liderar, por isso precisamos de alterar a estratégia. Já o fizemos no passado e vamos ter de o fazer novamente.
– Como é que vão encarar a segunda metade da temporada de MotoGP?
Alberto Puig – Da perspetiva dos pilotos, existe uma história, e do ponto de vista da empresa existe outro ponto de vista. Eles pilotam a moto e tentam fazer o melhor com aquilo que nós, Honda, lhes damos. Do ponto de vista da empresa, está claro que ninguém está satisfeito com a situação e precisamos de fazer tudo o que for preciso para perceber e resolver o problema. A única coisa que posso dizer é que no Japão estão a tentar resolver isto, tal como o staff europeu, toda a equipa Repsol Honda está a analisar tudo o que podemos fazer para sair desta situação.
– O que é mais importante neste momento: tentar melhorar a moto para o futuro ou tentar garantir resultados imediatos nesta temporada?
Alberto Puig – A coisa mais importante é melhorar a nossa moto e trazer a Honda para o nível a que estamos habituados em competição. Esta é a prioridade número um.
– Podes dar-nos uma atualização sobre o Marc Márquez?
Alberto Puig – Não tenho uma bola de cristal, mas penso que ele está a sentir-se bem desde a última operação e esperamos que tudo corra bem com ele desta vez. Tudo parece estar a correr bem e ele está OK. Os médicos estão contentes e a cada dia que passa está mais positivo. Agora é uma questão do osso curar e depois vemos o que acontece.
– Será crucial para o HRC que ele consiga testar a moto de 2023 nos testes que finalizam o ano?
Alberto Puig – A prioridade é a recuperação do seu braço a 100%. E ele pensa da mesma forma. É isto que temos e aquilo que vai ser feito.
– Mas ele está preocupado com a moto de 2023 e disse que quer acompanhar o desenvolvimento da moto durante o verão…
Alberto Puig – Sim, claro que ele está preocupado. Estamos todos preocupados. Ele provavelmente vai tentar estar em algumas corridas durante o verão para ver o que temos de novidades, quais são os desenvolvimentos e qual é o plano. Vamos ficar felizes por receber o Marc na pista.
– O Pol Espargaró não conseguiu competir em Assen por causa do acidente em Sachsenring e viajou para Espanha para ser visto pelo médico. Como é que ele está atualmente?
Alberto Puig – Ele está lesionado. A queda dele em Sachsenring foi forte e vimos que ele não podia competir lá nem em Assen. Normalmente este tipo de lesões que envolvem ligamentos e as costelas são muito dolorosos e demoram muito a sarar. Por vezes a dor é maior do que quando um osso parte. Pilotar estas motos, com a sua potência, numa posição de competição ao longo de tantas voltas, é quase impossível com as dores. Apenas esperamos que ele consiga descansar neste período e possa regressar em boa condição em Silverstone. Ele gosta da pista britânica, e acreditamos que ele pode dar-se bem lá.
– Como diretor de equipa, que mensagem é que podes enviar aos fãs da Honda para lhes dar alguma esperança no futuro?
Alberto Puig – A única coisa que podemos fazer nestes momentos é continuar a ir em frente, mesmo que a situação nos continue a puxar para trás.