O Grande Prémio de França 2022 poderá ser disputado à chuva. As previsões meteorológicas apontam para que a indesejada água faça a sua aparição já com a corrida de MotoGP a decorrer no próximo domingo em Le Mans. Com a ameaça de chuva, a Direção de Corrida irá aplicar a regra Flag to Flag (bandeira a bandeira). Mas os regulamentos em corridas à chuva nem sempre foram assim.
Antes da aplicação da regra Flag to Flag, as corridas de MotoGP à chuva estiveram envoltas numa certa arbitrariedade sobre o momento em que deveriam ser suspensas, ou se os pilotos deviam continuar a competir até receber a bandeira de xadrez.
A chuva sempre foi um elemento incómodo para todos os que fazem parte do paddock de MotoGP. Nem todos os pilotos conseguem adaptar-se à chuva, e quando esta aparece a meio de uma corrida a história da corrida pode alterar-se por completo. As corridas à chuva são provas mais “abertas”, no sentido em que os favoritos têm uma tendência natural para não arriscar tanto, enquanto os restantes pilotos aproveitam para brilhar.
Mas o aparecimento da chuva não foi visto da mesma forma em todos os países ou campeonatos.
Por exemplo, enquanto no Mundial de Velocidade era entendimento dos responsáveis que a corrida deveria prosseguir, nos Estados Unidos houve uma época em que não se realizavam corridas à chuva. Talvez por isso muitos pilotos norte-americanos tenham revelado dificuldade em pilotar à chuva. Mas por outro lado aproveitavam as condições de menor aderência para mostrar os conhecimentos adquiridos no dirt track.
Mas o que acontecia antigamente nas corridas à chuva em MotoGP?
De uma forma geral, quando a chuva aparecia as corridas paravam. O momento da paragem podia ser motivo de polémica, pois por vezes o Diretor de Corrida não tinha a capacidade de reação necessária para tomar essa decisão. Convém recordar que antigamente havia circuitos sem circuito interno de TV, e por isso não era fácil para o Diretor de Corrida avaliar corretamente qual a necessidade da corrida ser parada por causa da chuva.
Houve casos em que mesmo sob uma enorme tormenta a corrida não parou!
No Grande Prémio da Finlândia de 1982, realizado no circuito urbano de Imatra, a corrida realizou-se totalmente à chuva. Os pilotos aceitaram competir perante as condições difíceis, mas na corrida das 350 cc a situação piorou de tal forma que era impossível continuar a prova. Anton Mang, que liderava a corrida, decidiu mesmo parar a sua moto na meta e pedir ao Diretor de Corrida que a parasse. Mas o responsável pela decisão manteve-se inabalável e os pilotos continuaram a corrida até à bandeira de xadrez. Mang seria inclusivamente o vencedor.
Com o passar dos anos, a decisão de parar a corrida por causa da chuva ficou a depender também da vontade dos pilotos. Se as circunstâncias de corrida fossem demasiado perigosas, os pilotos levantavam a mão para avisar o Diretor de Corrida. Por vezes esse aviso era ignorado, mas de qualquer forma foi uma evolução do que acontecia antigamente.
Mas uma corrida de MotoGP nem sempre começa com piso molhado. Por vezes a chuva aparece com a corrida a decorrer. E nesse momento é necessário parar a prova.
Soma dos tempos
Esta medida foi adotada nos anos 80 do século passado. Então era possível atuar de duas formas: se não fosse possível recomeçar a corrida, esta era dada como concluída, e se não se tivesse completado pelo menos 50% da distância total os pontos eram divididos pela metade. Se fosse possível recomeçar e completar a corrida, somavam-se os tempos totais de cada piloto em cada uma das duas corridas, e assim era estabelecida a classificação final.
Em determinadas circunstâncias podia acontecer que o piloto que recebia a bandeira de xadrez em primeiro, não seria declarado vencedor da corrida depois de feitas as somas dos tempos.
A soma de tempos continuou a ser aplicada até aos tempos modernos de MotoGP. Ficou então claro para todos que não era uma situação totalmente justa, pois por vezes o piloto que liderava a classificação antes da interrupção apenas geria a prova no recomeço, garantindo assim que o seu tempo total era suficiente para vencer, e quem cruzava a meta efetivamente em primeiro não era declarado vencedor. Era uma situação estranha e muitas vezes confusa, não apenas para pilotos como também para os fãs que eram obrigados a recorrer à calculadora para saber os tempos finais.
O regulamento foi alterado e passou a dizer que em caso de interrupção de uma corrida, neste caso devido a chuva, mas não só, seria realizada uma segunda partida para completar o que faltava disputar da distância total de prova, e apenas contava para a classificação final o resultado depois do recomeço.
Flag to Flag
A procura por parte dos gestores de MotoGP de uma solução mais justa resultou nas corridas Flag to Flag. Em português isso significa corridas “Bandeira a Bandeira”, ou o mesmo que dizer bandeira de início de corrida e bandeira de xadrez. Desta forma, e mesmo que a corrida venha a ser afetada pelo aparecimento de chuva a meio da sua realização, a corrida não é interrompida.
O procedimento de uma corrida Flag to Flag é bastante simples.
Depois do Diretor de Corrida declarar que determinada prova é Flag to Flag, os comissários de pista irão mostrar aos pilotos uma bandeira branca com cruz vermelha quando começar a chover. Depois o Diretor de Corrida tem de avaliar as condições de aderência da pista e perceber se a corrida já não pode ser considerada “a seco”. Quando isso acontece, os comissários de pista mostram uma bandeira branca aos pilotos, que assim sabem que a partir desse momento podem entrar na box e trocar para a moto com pneus de chuva. Recordamos que apenas acontece na categoria MotoGP, pois tanto em Moto2 como em Moto3 cada piloto conta com uma única moto montada.
Os pilotos entram na box para trocar de moto no momento em que consideram ser o mais oportuno. A equipa terá a segunda moto preparada com pneus de chuva, claro, mas também com afinações específicas, mais suaves.
A primeira vez que se aplicou o procedimento de corrida Flag to Flag foi em 2006, no Grande Prémio de França, que foi conquistado por Marco Melandri. Desde então já se realizaram cerca de 20 corridas Flag to Flag.
Mas nem mesmo este procedimento impediu que o Grande Prémio da Malásia de 2012 fosse interrompido à 14ª volta para depois não ser recomeçado por falta de condições. Em Assen no ano de 2016 aconteceu uma situação diferente, em que apesar de declarada corrida Flag to Flag, a direção de corrida foi obrigada a suspender e a recomeçar a mesma, com os pilotos a terem de cumprir 12 voltas.
Agora que já conhece a história das corridas à chuva em MotoGP e como apareceram as corridas Flag to Flag, fique atento a www.motojornal.pt para ficar a par de todas as novidades do Mundial de Velocidade.