O paddock do Mundial de Velocidade é uma autêntica cidade ambulante. Nele convivem técnicos, equipas, pilotos, fãs, jornalistas e muitas outras pessoas que fazem deste local um sítio especial e que todos os fãs de MotoGP 2022 devem visitar se puderem e tiverem essa oportunidade. E não é só para tirar umas fotos com alguma “paddock girl” que vá a passar! Há muita coisa para ver e fazer no paddock.
Esta cidade ambulante viaja de país em país e está presente em todos os 21 circuitos que fazem parte do calendário de MotoGP 2022. Em cada Grande Prémio é necessário organizar o paddock de forma a garantir que tudo e todos têm o seu espaço. E cada circuito coloca desafios específicos aos responsáveis pela logística de montar e desmontar o paddock.
Com a vida a regressar a uma certa normalidade nos fins de semana de Grande Prémio, depois de dois anos de controlo mais apertado devido à pandemia Covid-19 e às necessárias restrições que tornaram a vida no paddock de MotoGP mais complicada, temos novamente milhares de pessoas a conviver neste espaço tão especial que muitas vezes se esconde do público que está mais concentrado na pista e no que nela acontece.
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Por detrás das boxes onde vemos as motos serem preparadas para competir, existe um mundo repleto de maravilhas e situações que muitos fãs desconhecem. Um mundo onde podemos cruzar-nos com nada menos do que mais de 3.000 pessoas! Estamos a falar de técnicos das equipas, responsáveis das marcas, pilotos, convidados, pessoal das mais diversas empresas, jornalistas… um sem fim de pessoas que convivem na azáfama do paddock. Isto sem contar com os adeptos que adquirem o passe de paddock e que ajudam a criar um ambiente único.
A organização do paddock do Mundial de Velocidade é uma missão complexa. A responsabilidade maior recai sobre a IRTA – associação das equipas –, entidade encarregada por organizar e distribuir os espaços disponíveis para cada equipa nos diversos circuitos. É também a IRTA que tem a responsabilidade de controlar o acesso ao paddock durante o fim de semana de cada GP.
Para alguém aceder ao paddock do circuito tem de apresentar um passe ou acreditação válida. Existem diversos tipos de passe: o permanente, que é válido para todos os eventos durante a temporada, e a acreditação para uma prova específica.
Existem ainda diversos níveis de acesso disponíveis para os passes, que garantem que as “portas” de determinadas zonas do paddock estão abertas. Estes níveis de acesso dependem da função de cada pessoa. Por exemplo, há acreditações de imprensa que não permitem acesso às boxes, ao pit-lane ou mesmo à grelha de partida. Para aceder a estes locais é necessário apresentar uma acreditação especial.
Quando os adeptos mais madrugadores chegam ao circuito na quinta-feira ou na sexta-feira, o paddock já está pronto para os receber.
Os camiões estão a brilhar, a “hospitality” de cada equipa está montada, e as tendas abertas para acolher os milhares de adeptos ao longo do fim de semana. É a partir da quarta-feira que antecede o início do Grande Prémio que tudo começa a ser organizado no paddock do circuito. Na realidade, na noite anterior à quarta-feira já muitos camiões aguardam a abertura do paddock para poderem entrar e descarregar as muitas toneladas de material e equipamento que transportam.
Às 8H00 da manhã o circuito abre as portas e os camiões deslocam-se para os locais previamente indicados pela IRTA. São cerca de 300 veículos, e isso poderia causar um verdadeiro engarrafamento no paddock. Apenas uma equipa bem preparada e organizada consegue evitar situações problemáticas. Por vezes, e para facilitar essa gestão, a IRTA permite aos camiões que chegam mais cedo ao circuito que possam pernoitar já no interior do paddock.
Os primeiros camiões a entrar são os de MotoGP, os camiões das equipas e hospitalities, que, na realidade, perfazem o maior número de veículos no paddock. Posteriormente entram os camiões de Moto2 e Moto3. Por último entram os cada vez mais exóticos “motorhomes” dos pilotos de MotoGP (apenas desta categoria). Porém, com o espaço no paddock cada vez mais reduzido, os pilotos estão a deixar de poder ter as suas “casas” nos Grandes Prémios e existem já outras soluções de alojamento para os pilotos de todas as categorias.
A IRTA conta com pessoal técnico para as mais diversas funções no paddock. Há membros para regular a entrada no circuito, outros membros fornecem assistência aos camiões, e outros têm como missão ajudar a encontrar espaço para as motorhomes que ainda são usadas.
A distribuição do espaço está dependente do espaço que cada circuito disponibiliza. Há circuitos, como por exemplo Sachsenring (ou para quem se recorda de Laguna Seca) que o paddock é muito pequeno. Nesses locais a IRTA organiza o espaço de forma diferente para não causar tantos problemas para as equipas que têm de trabalhar ali durante três dias. Obviamente os espaços destinados ao MotoGP são maiores (115 m2), ficando as equipas de Moto2 com 100 m2 e as de Moto3 com 80 m2.
Também a distribuição das boxes tem em conta a importância de cada categoria. Por exemplo, as equipas de MotoGP têm os seus pilotos divididos por uma box para cada um. Já as Moto2 e Moto3 têm de encontrar forma de colocar os seus dois pilotos numa box apenas.
Caso o circuito não tenha boxes suficientes para todas as equipas de Moto2 e Moto3, a IRTA coloca uma tenda gigante no paddock que é então usada como local de trabalho para as equipas sem box fixa.
Um facto curioso é que a classificação a partir da primeira corrida é que indica à IRTA quais são as equipas que podem ficar nas boxes, e quais são aquelas que acabam por ter de ser acomodadas nessa tenda, que é sempre mais incómoda para trabalhar.
Com cada vez menos espaço disponível no paddock, as hospitalities das equipas começaram a crescer na vertical! É cada vez mais habitual encontrar espaços fantásticos no primeiro ou até segundo andar destes locais reservados às equipas e aos seus convidados. Estas estruturas são utilizadas por mais do que uma temporada, pois é a forma encontrada pelas equipas para amortizarem o seu custo. Uma hospitality custa muitos milhões de euros!
No paddock há ainda espaço exclusivo para a imprensa, mas também para a bem-conhecida Clinica Mobile, que acompanha o MotoGP em todos os circuitos. Esta clínica muito bem equipada de material médico para socorrer os pilotos ou qualquer pessoa que necessite de cuidados médicos no paddock, fica posicionada próximo do centro médico do circuito, e num local de fácil acesso para em caso de necessidade as ambulâncias poderem sair rapidamente do circuito.
Com todo o material no seu devido local, as equipas de montagem demoram entre seis a oito horas a montar as estruturas. O tempo de montagem depende da complexidade da estrutura e da sua área. E no final de tudo estar montado, os camiões são cuidadosamente limpos! Os camionistas são obrigados a ter o seu camião a brilhar durante todo o fim de semana, de forma a poderem aparecer em todo o seu esplendor nas fotos dos adeptos que visitam o paddock do Mundial de Velocidade.
A cargo da organização do paddock está também um código de etiqueta. Ou de boas maneiras, como também podemos dizer.
Por exemplo, a partir das 21H00 não é possível colocar os motores das motos a funcionar no paddock. E se o tiverem que fazer, têm de o fazer no pit lane, mas nunca depois da meia-noite. Aliás, a regra de ruído impede que se faça barulho no paddock entre a meia-noite e as 8H00 da manhã do dia seguinte. E isto aplica-se também a possíveis eventos ou festas que as equipas organizam nas suas hospitalities para convidados especiais.
No paddock, existem ainda outras regras de etiqueta que devem ser cumpridas sempre.
Não se pode circular em tronco nu. Estão proibidos artigos de recreio como por exemplo piscinas insufláveis, que até dão jeito nos dias de maior calor para refrescar os pilotos que acabam de sair da pista. Estendais de roupa também não são permitidos. Não é possível cozinhar fora das áreas específicas. Por isso as equipas não podem organizar churrascos, por mais que isso seja tentador. Beber bebidas alcoólicas está absolutamente proibido!
As regras de etiqueta vão inclusivamente ao ponto de proibir os pilotos de aparecerem nos “media debriefs” oficiais vestidos com calções! Num paddock em que tudo é controlado ao máximo, os pilotos são obrigados a usar calças até mesmo para falar com os jornalistas.
Agora que já ficou a saber um pouco do que se passa e como se organizar o paddock de MotoGP, fique atento a www.motojornal.pt pois vamos continuar a acompanhar tudo o que acontece na temporada 2022 com especial destaque para Miguel Oliveira.