Marc Márquez é, sem dúvida, um dos melhores pilotos de sempre de motociclismo de velocidade. O espanhol, natural de Cervera, tem revelado um talento impressionante para pilotar as diferentes motos que usou na sua carreira no Mundial de Velocidade. E com oito títulos mundiais conquistados, Márquez celebra na atual temporada nada menos do que dez anos a competir em MotoGP.
No momento em que assinalamos a passagem de uma década de Márquez em MotoGP, e precisamente quando o espanhol da Repsol Honda está fora de ação a recuperar de lesão, é também o momento perfeito para fazermos um resumo do que foram os últimos dez anos de Márquez na categoria rainha.
Depois de brilhar nas categorias 125 cc e Moto2, tendo aí iniciado a sua conquista de títulos mundiais com um em cada categoria, Marc Márquez subiu a MotoGP assinando um contrato como piloto de fábrica da Honda Racing Corporation (HRC) e entrando na equipa Repsol Honda.
Na sua estreia na categoria rainha, no Grande Prémio do Qatar em 2013, o #93 acabou no pódio sendo 3º classificado e ainda registou a volta mais rápida da corrida no circuito de Losail. Para um “rookie” não começou nada mal! A sua prestação em Losail foi apenas um vislumbre do que viria a seguir.
No Grande Prémio das Américas, naquele que é hoje em dia um dos circuitos onde Márquez tem um registo de vitórias impressionante, o piloto espanhol pilotou a sua Honda à “pole position”, volta mais rápida em corrida e ainda garantiu a primeira vitória em MotoGP. Não só assumia a liderança da corrida ao título após esta corrida, como também se tornou no piloto mais jovem de sempre a ganhar uma corrida em MotoGP.
Foi depois obrigado a esperar pelo Grande Prémio da Alemanha, no circuito de Sachsenring, para conseguir novamente vencer. Este traçado tornou-se no seu feudo durante anos consecutivos, e foi a partir desta vitória na Alemanha que Marc Márquez entrou numa rota de título no seu ano de estreia. No Grande Prémio da Comunidade Valenciana, no circuito Ricardo Tormo, Marc Márquez garantiu o primeiro título na categoria rainha, e ao mesmo tempo bateu Freddie Spencer como o mais jovem campeão da categoria principal do Mundial de Velocidade.
Em 2014 as coisas dificilmente poderiam ter sido melhores para o espanhol da Repsol Honda. Contou por vitórias todas as primeiras dez corridas realizadas nessa temporada, e no final do ano confirmou o bicampeonato com nada menos do que 13 vitórias em 18 Grandes Prémios realizados.
O ano seguinte ficaria na memória do piloto da Repsol Honda, de Valentino Rossi, e dos fãs de MotoGP, claro. Foi o ano em que os dois ícones e campeões se defrontaram ferozmente em pista, com a agressividade entre ambos a atingir um ponto máximo no Grande Prémio da Malásia, numa altura em que Márquez não estava a discutir o título e Valentino Rossi procurava o seu ambicionado 10º título mundial e lutava contra o seu companheiro de equipa Jorge Lorenzo.
Marc Márquez fechou o ano com cinco vitórias em Grandes Prémios, mas viu o seu título fugir para Jorge Lorenzo numa emocionante última corrida de campeonato em Valência.
Mesmo com o ambiente no paddock a ferver, os fãs de MotoGP uns contra os outros por causa dos seus pilotos favoritos, e com muita polémica em pista devido ao seu estilo de pilotagem considerado demasiado agressivo por parte de pilotos e outras figuras ligadas ao Mundial de Velocidade, a verdade é que de 2016 a 2019 a categoria rainha viu o melhor de Marc Márquez em termos de prestações e resultados.
Nessas quatro temporadas o piloto espanhol levou a Repsol Honda a conquistar mais quatro títulos consecutivos.
Em 2016 recuperou então o título que tinha perdido para Lorenzo, e depois de enfrentar em luta direta pilotos de renome como Jorge Lorenzo, Dani Pedrosa ou Valentino Rossi, Márquez encontrou no italiano Andrea Dovizioso, então na Ducati de fábrica, o seu maior rival. Mas pese embora a pressão fosse grande e “DesmoDovi” um piloto aguerrido e capaz de vencer numa luta “mano a mano” com Marc Márquez, a verdade é que o talentoso espanhol assegurou mais três títulos de MotoGP: 2017, 2018 e ainda 2019.
2018 foi um ano de antologia. Ganha nove corridas, a última das quais em Motegi, Japão. Não poderia ter havido melhor “timing” para assegurar o título pois o circuito onde festejou o campeonato é propriedade da Honda! Por outro lado, refira-se que este ano foi aquele em que Marc Márquez fecha a contabilidade com a maior vantagem pontual, até então, para o seu rival mais direto, Dovizioso: 76 pontos.
O ano seguinte não foi o mais agradável no seu arranque para o espanhol. Por entre dificuldades em corrida, o Grande Prémio das Américas de 2019 marcou o fim de uma série de vitórias consecutivas de Marc Márquez no Circuito das Américas, pois uma queda em corrida deixou-o fora de ação.
Mas esse terá sido o mote para uma mudança de “sorte” ou atitude do espanhol. Daí até ao final da temporada que culminou com o seu sexto título de MotoGP, Márquez ou venceu ou foi segundo classificado! Uma performance impressionante e que acabou por deixar Andrea Dovizioso em segundo no campeonato… a uns inacreditáveis 151 pontos! Refira-se que Marc Márquez terminou o ano com 420 pontos.
Para que o caro leitor fique com uma melhor ideia da real diferença pontual entre Márquez e Dovizioso, basta dizer que o espanhol da Repsol Honda podia terminar (ou não terminar) 6 corridas com zero pontos e Dovizioso e a sua Ducati Desmosedici GP vencerem essas mesmas corridas, que mesmo assim Márquez seria campeão em 2019.
Daí para a frente a sorte do piloto da Repsol Honda mudou por completo.
Durante anos vimos Marc Márquez sofrer quedas aparatosas enquanto tentava entender os limites da sua Honda. Mas nunca sofreu lesões particularmente graves. Em Mugello chegou a cair a mais de 300 km/h em plena reta da meta do traçado da Toscânia, e apenas ficou com algumas nódoas negras e abrasões.
Mas no primeiro Grande Prémio realizado no circuito Jerez Angel Nieto, em plena pandemia, Marc Márquez, na saída da curva 4 do traçado andaluz, o piloto da Repsol Honda sofre uma aparatosa queda que resulta na fratura do seu úmero direito (osso do braço). Duas operações adicionais fizeram-no ficar fora de ação até 2021.
O regresso à competição aconteceu precisamente no Grande Prémio de Portugal no Autódromo Internacional do Algarve. Mas a recuperação da grave lesão ainda estava longe de ter terminado, e Marc Márquez foi sempre revelando grande incómodo com as dores e dificuldades de mobilidade do braço direito, que o obrigavam a pilotar de forma diferente do que nos tinha habituado.
Ainda assim, apesar de longe da sua forma ideal, Marc Márquez regressa às vitórias no Grande Prémio da Alemanha em Sachsenring, um circuito onde tinha vencido sempre desde 2010. Uma corrida que aos portugueses diz muito, pois o espanhol bateu o português Miguel Oliveira, então a passar por um excelente período em MotoGP. Enquanto competiu em 2021 conseguiria mais duas vitórias.
A atual temporada, a sua décima em MotoGP e com a Repsol Honda, seria o regresso do “melhor” Marc Márquez. Mas a verdade é que isso não aconteceu.
No Grande Prémio do Qatar a situação não parecia ser má. Porém, uma queda muito aparatosa no Grande Prémio da Indonésia, prova que teve Miguel Oliveira (Red Bull KTM Factory) como vencedor, Márquez bateu com força com a cabeça no asfalto depois de sofrer um “highside” e voltou a evidenciar problemas visão dupla, a chamada diplopia, que já o tinha afetado no passado, mais recentemente impedindo de competir no final da temporada 2021.
Pese o esforço e “teimosia” tentando manter-se em competição, Marc Márquez acabou mesmo por ter de ceder às evidências e anunciou então a quarta operação ao braço direito. A operação correu bem e de acordo com os exames mais recentes o espanhol está no bom caminho para voltar às pistas e ao MotoGP.
Os números de Marc Márquez em MotoGP
– 138 Grandes Prémios disputados
– 6 títulos: 2013, 2014, 2016, 2017, 2018 e 2019
– 99 pódios
– 62 “pole positions”
– 59 voltas rápidas em corrida