Dois dias de testes oficiais em Sepang foram, claramente, curtos para aquilo que a Red Bull KTM Factory tem de fazer no sentido de desenvolver o protótipo RC16. A temporada 2021 ficou abaixo das expectativas criadas em diversos momentos. E MotoGP 2022 parece que será uma temporada ainda mais competitiva. Pelo que os dias de teste ganham agora uma importância ainda mais significativa.
Depois de fechar o teste na Malásia como melhor piloto KTM na tabela de tempos, Miguel Oliveira não se mostra impressionado com o comportamento da sua RC16. O português referiu claramente que é necessário melhorar o software que faz toda a gestão da eletrónica da moto austríaca.
Mas porque é necessário alterar tanto o software na KTM RC16?
A resposta é relativamente simples: a carga aerodinâmica. A KTM desenvolveu um novo pacote aerodinâmico. Asas mais pronunciadas e até um novo conjunto de asas fixas às carenagens laterais. Por um lado, isso ajuda a criar uma carga mais forte na roda dianteira, mas por outro lado obriga a redefinir por completo a geometria do conjunto.
Neste momento a moto apresenta demasiado peso na dianteira, menos ágil nas trocas de direção. A traseira fica mais leve, e em consequência disso o pneu traseiro Michelin, que tantos problemas causou à RC16 no ano passado, derrapa ainda mais em vez de garantir a aderência para “empurrar” a moto em frente.
Não só o software que controla a eletrónica tem de ser redefinido, como os engenheiros da equipa de Mattighofen têm de encontrar forma de reequilibrar o conjunto e criar aderência mecânica.
Miguel Oliveira, apesar de se manter otimista neste início de ano, até porque, como o próprio confirma, “Foi possível rodar em 1m58s sem demasiado esforço”, não esconde alguma preocupação sobre o caminho a seguir antes da primeira corrida de MotoGP 2022, o Grande Prémio do Qatar no início de março
“Com a nova moto temos de garantir um melhor uso ao pneu traseiro. Tem a ver com o funcionamento da eletrónica. Também temos algumas mudanças na aerodinâmica. O nosso objetivo é ser mais rápidos e mais controlo da moto com pneus usados”.
Miguel Oliveira refere ainda que “Sinto a moto um pouco mais pesada. Não é tão ágil como seria de esperar. Por isso é preciso começar a pensar em como trabalhar noutras áreas da moto, na geometria e em tudo mais, apenas para compensar. Portanto, não é fácil. É isso que requer algum tempo porque é uma janela totalmente nova que se abre em termos de configuração: quanta potência se pode usar e quando a podemos usar”.
Já Brad Binder confirma os problemas com o pneu traseiro Michelin:
“Quando acelero, quero que a moto avance, mas neste momento apenas derrapa. E quando começa a derrapar é difícil conseguir que volte a agarrar. Este foi o nosso principal problema no ano passado. A aerodinâmica é nova. Ajuda-nos numas coisas e dificulta noutras. Com o novo pacote aerodinâmico temos muito mais peso na frente, por isso tivemos de ajustar a altura da moto. Encontrar um bom equilíbrio demora tempo”, refere o piloto sul-africano que mais uma vez comparte a box com Miguel Oliveira.
Mas as sensações obtidas e referidas pelos pilotos da Red Bull KTM Factory podem estar a ser afetadas pelo programa de testes definido pelo novo diretor de equipa. Francesco Guidotti revela que as KTM RC16 estão a rodar com uma mistura de componentes de 2021 e 2022. O objetivo é encontrar uma base que sirva para as primeiras corridas de MotoGP 2022:
“Neste momento estamos a tentar combinar o melhor material disponível das peças de 2021 e 2022, e juntar tudo isto da forma correta. Precisamos de uma imagem clara para que os nossos engenheiros possa seguir uma direção. Algumas peças que testámos são muito melhores do que esperávamos, outras nem tanto. Pelo menos nesta pista (Sepang)”.
Para ajudar Miguel Oliveira e Brad Binder a dar a volta à situação neste início de temporada MotoGP 2022, a KTM tem ainda três dias de testes oficiais no novo circuito indonésio de Mandalika. Um desafio completamente diferente e que ajudará a validar os componentes que serão usados na moto deste ano.