Estamos na derradeira ronda da temporada 2022 de MotoGP. O Grande Prémio de Valência no circuito Ricardo Tormo reveste-se de importância capital para a decisão do título de campeão de MotoGP. Francesco Bagnaia (Ducati Lenovo Team) tem uma vantagem de 23 pontos sobre o atual campeão Fabio Quartararo (Monster Energy Yamaha), e isso dá ao italiano um enorme favoritismo para a conquista do título.
Mas será que os 23 pontos de vantagem de Bagnaia são suficientes para podermos dizer que a questão do título já está decidida ainda antes de se realizar a corrida de domingo de MotoGP?
Uma grande parte dos fãs acredita que sim. Os 23 pontos de vantagem são uma margem de segurança enorme tendo em conta que estão um máximo de 25 pontos em disputa neste GP de Valência. “Pecco” Bagnaia tem apenas de garantir dois pontos para a sua conta pessoal (equivalente ao 14º lugar na corrida), e mesmo que Quartararo vença, não será campeão, pois em caso de igualdade pontual a vantagem é do italiano da Ducati por causa do número de vitórias nesta temporada.
Porém, Bagnaia tem assumido uma postura de gestão tranquila dessas expectativas. Até porque poderá tornar-se no primeiro piloto italiano a tornar-se campeão de MotoGP desde Valentino Rossi! E isso, quer se queira, quer não se queira, tem toda uma enorme pressão associada, com os fãs italianos desejosos de poderem celebrar um novo campeão italiano depois de Rossi.
Aliás, o nove vezes campeão do mundo, mentor da VR46 Academy que tem vindo a gerir as carreiras de grande parte dos pilotos italianos, como por exemplo Francesco Bagnaia, está mesmo presente no circuito valenciano para apoiar o piloto da Ducati, que assume que tem ouvido os seus conselhos neste momento de maior pressão.
E é precisamente Valentino Rossi que nos leva a recuar no tempo e recordar o que aconteceu em 2006, para percebermos como o título de MotoGP desta temporada não está decidido, mesmo estando Francesco Bagnaia com uma vantagem pontual tão grande sobre Fabio Quartararo.
Na temporada de 2006, o Mundial de Velocidade chegava à última corrida em Valência com o título por decidir. Rossi tinha a liderança do campeonato, na altura a competir pela Camel Yamaha. O americano Nicky Hayden estava na Repsol Honda e tentava tudo para sagrar-se campeão, estando então na segunda posição do campeonato.
Duas semanas antes do GP de Valência de 2006, o mundial tinha passado pelo circuito português do Estoril. As belas paisagens da Serra de Sintra foram cenário de fundo para uma corrida verdadeiramente emocionante, e que aqueceu bastante as contas pelo título de MotoGP.
Nesse GP de Portugal, Nicky Hayden via a liderança do campeonato desaparecer quando o seu companheiro de equipa, Dani Pedrosa, num momento que deixou o americano furioso, tentou ultrapassar Hayden. Caiu, e levou consigo para a escapatória Nicky Hayden. Os dois pilotos da Repsol Honda estavam fora de ação, num momento que deixou os fãs de MotoGP incrédulos.
Enquanto isso, Valentino Rossi fazia tudo para amealhar o máximo de pontos, mas teve pela frente o espanhol Toni Elias, que a fazer aquela que o próprio Elias define como “A melhor corrida da minha vida!”, acabou mesmo por bater Rossi na linha de meta. Foi um final de cortar a respiração e impróprio para cardíacos, com Toni Elias a vencer no “photo finish” com uma margem de apenas 2 milésimas de segundo sobre Valentino Rossi. A margem mais reduzida de sempre numa corrida da categoria rainha.
Ainda assim, Valentino Rossi tinha recuperado a liderança, aproveitando a queda e desistência forçada de Nicky Hayden.
Duas semanas depois o paddock estava ao rubro em Valência. O título seria decidido no Ricardo Tormo com Rossi líder com uma vantagem de 8 pontos.
Nicky Hayden escondeu do domínio público que estava lesionado no ombro depois da queda com Pedrosa no Estoril. O piloto americano da Repsol Honda não queria dar a Valentino Rossi a vantagem mental de saber que estava a competir contra um rival em inferioridade física. Mesmo sem se saber dessa lesão, as apostas davam todas como certo o título para Valentino Rossi.
Mas a história não seria de final feliz para o italiano.
Na corrida de domingo, Hayden arrancou de 5º e Rossi da “pole position”. Certamente um piloto como Rossi a partir da “pole” não teria dificuldade em garantir mais um campeonato. Depois de um início de corrida contrastante entre ambos, com o americano da Honda a subir na classificação e o italiano da Yamaha em queda, continuávamos a ter Rossi em posição de garantir mais um título. Mas Hayden não desistiu, e dando tudo por tudo, o “Kentucky Kid” e a moto com o icónico #69 atacavam as posições de pódio.
Porém a corrida só termina na bandeira de xadrez, e Rossi acabou por descobrir isso mesmo da pior forma, quando perdeu o controlo da sua Yamaha M1, caiu, e acabou por descer para lugares que não pontuavam e assim entregaria o título ao rival. Valentino Rossi não desistiu, regressou à corrida, reentrou nos pontos e fechou a corrida em 13º, um resultado insuficiente para impedir que Nicky Hayden festejasse o seu primeiro e único título de MotoGP.
O piloto da Repsol Honda garantiu o terceiro lugar na corrida de 2006, e foi então coroado campeão, deixando-nos imagens incríveis enquanto celebrava o ambicionado título, merecendo os aplausos de todos e sendo também reconhecido por Valentino Rossi.
Agora, 16 anos depois dessa corrida memorável, Francesco Bagnaia e Fabio Quartararo parecem reeditar o que vimos nesse final de GP de Valência.
O circuito Ricardo Tormo será então o cenário da grande decisão de MotoGP, e embora as circunstâncias sejam diferentes, nomeadamente a diferença pontual que confere mais margem de manobra a Bagnaia do que deu a Rossi, as motos também, e os pilotos igualmente diferentes, é impossível não nos recordamos do que aconteceu entre Rossi e Hayden e perceber que só mesmo na bandeira de xadrez é que tudo está terminado.
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