Com o paddock do Autódromo Internacional do Algarve já ocupado pelos fantásticos e bem recheados (motos e equipamento) camiões das várias equipas de MotoGP, estamos então a poucos dias do arranque do decisivo e derradeiro teste oficial da categoria rainha. A partir da manhã de dia 11 e até ao final do dia 12 de março, teremos todos os pilotos em ação.
E depois de muita expectativa que durou toda a pausa de inverno, tivemos já um primeiro teste oficial em Sepang, com resultados e situações que deixam diversas situações para serem confirmadas agora no AIA.
Aproveitando o momento de acalmia antes do início da “tempestade” que são as motos a rodar a toda a velocidade na “montanha russa” algarvia, abordamos aqui um conjunto de seis situações que devem merecer todo o interesse dos fãs.
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1 – Miguel Oliveira: Em Portugal vai mandar o Falcão?
É, sem dúvida, um dos melhores pilotos de MotoGP, e com cinco vitórias no currículo, Miguel Oliveira tem um registo ao alcance de poucos pilotos no ativo na categoria rainha. Agora integrado na estrutura satélite CryptoData RNF Aprilia, que recentemente anunciou a chegada de um novo patrocinador, a Sterilgarda, marca há muito associada a Max Biaggi, embaixador da Aprilia, Miguel Oliveira conhece como poucos o Autódromo Internacional do Algarve, e será por isso muito importante perceber qual o nível do piloto de Almada aos comandos da Aprilia RS-GP 22.
O teste anterior em Sepang foi positivo, embora Miguel Oliveira tenha visto a lista de tarefas, se assim podemos definir o programa de teste que cada piloto tem de cumprir, algo alterado devido às condições climatéricas sentidas no traçado malaio em fevereiro passado.
Foi o primeiro piloto a vencer uma corrida de MotoGP no AIA, e com um ritmo de corrida que parece posicionar o #88 mais próximo dos pilotos que habitualmente discutem as primeiras posições em corrida, Miguel Oliveira, o Falcão português, estará em boa posição para voltar a vencer o GP de Portugal que se realiza de 24 a 26 de março.
Nesse sentido, será importante estarmos atentos aos tempos por volta, nomeadamente aos tempos quando em simulação de corrida, mais do que ao tempo de “time attack”, embora seja sempre importante a volta rápida. Até para que Miguel Oliveira consiga corrigir um dos pontos que o próprio diz que tem de melhorar, a sua qualificação.
2 – Yamaha: Motor novo, novos problemas?
Na casa de Iwata os engenheiros do projeto de MotoGP têm estado extremamente ocupados para garantirem às duas únicas motos da Yamaha este ano, a de Fabio Quartararo e a de Franco Morbidelli, todos os argumentos técnicos e tecnológicos que lhes permitam lutar pelas melhores posições, e, no caso de Quartararo, claramente que o objetivo será recuperar o título de pilotos de MotoGP.
A Yamaha YZR-M1 aparece em 2023 equipada com o motor quatro cilindros em linha em vez do muito “anunciado”, mas nunca confirmado, V4, que tantos fãs acreditam ser a solução para a marca japonesa voltar ao topo da categoria. Porém, o teste de Sepang permitiu perceber que o novo motor, ou a nova especificação, é mesmo mais potente e do agrado dos dois pilotos da Monster Energy Yamaha, que rapidamente decidiram que será esta a versão a homologar.
Infelizmente, mais potência não resolve tudo. Os registos mostram que a M1 está mais veloz, e isso é já uma grande ajuda, e o ritmo de Quartararo é bom. Porém, a moto apresenta agora problemas quando os pilotos tentam fazer o “time attack”. Quando o depósito de combustível está mais vazio e as jantes equipadas com pneus novos, tanto Quartararo como Morbidelli sentiram dificuldades em Sepang. Será que isso vai-se manter em Portimão?
Quartararo e Morbidelli já tiveram grandes prestações no traçado algarvio em anos anteriores, inclusivamente o francês foi o vencedor do GP de Portugal 2022. Pelo que os resultados dos pilotos Yamaha serão mais um dos pontos de interesse a ter em conta no teste oficial de MotoGP no AIA.
3 – KTM / GasGas: Novo motor com um som especial
A marca austríaca saiu de Sepang desiludida com os resultados dos seus pilotos de fábrica. Tanto Brad Binder como o novo recruta, Jack Miller, estiveram longe dos tempos obtidos pelos rivais no primeiro teste oficial de pré-temporada. A Red Bull KTM Factory espera que essa diferença seja claramente menor no Autódromo Internacional do Algarve.
Na marca “gémea”, a GasGas, o sentimento parece ser mais positivo. Pol Espargaró foi mesmo o piloto mais rápido até agora com a RC16.
Um ponto a ter em conta, para além dos muitos componentes que devem ser agora validados para o início de temporada, nomeadamente ao nível da aerodinâmica, será o motor V4 a instalar nas KTM RC16 e GasGas RC16.
Em Sepang, tanto os dois pilotos KTM como também Pol Espargaró, tiveram a oportunidade de rodar com um motor V4 austríaco que emana uma sonoridade diferente. A KTM faz segredo absoluto do que tem estado a desenvolver em Mattighofen, por razões óbvias, mas sabemos que foi feito um grande investimento a nível de técnicos, nomeadamente com a parceria com a equipa de Fórmula 1 da Red Bull. Pelo que no teste do AIA, dentro de dias, talvez seja possível voltar a ver / ouvir o tal motor que tanto deu que falar em Sepang.
4 – Honda: Um gigante à deriva?
A Honda, mais propriamente o seu departamento de competição HRC, não são nenhuns “novatos” neste jogo de alta competição como é o MotoGP. Porém, e independentemente da dimensão do HRC, ou até mesmo do seu orçamento quase “ilimitado”, a verdade é que a Honda parece estar um pouco à deriva no desenvolvimento da mais recente geração do protótipo RC213V.
Marc Márquez mais uma vez está na sua melhor forma física depois de ultrapassadas as graves lesões. E isso significa que o oito vezes campeão do mundo reassume por completo o desenvolvimento da moto japonesa.
No teste de Sepang vimos a box da Repsol Honda repleta de RC213V, tanto para Marc Márquez como para novo piloto da equipa Joan Mir, sendo que apenas para Márquez a Honda disponibilizou nada menos do que quatro motos com configurações e componentes diferentes. Ainda que isso signifique que o gigante japonês está a trabalhar “a fundo” no desenvolvimento da moto, a verdade é que, quando estamos a apenas algumas semanas do Grande Prémio de Portugal, existirem ainda tantas motos para trabalhar, e eventualmente selecionar, transmite uma certa ideia de indefinição no rumo a seguir.
Será que no teste oficial do Autódromo Internacional do Algarve continuaremos a ver a Honda à procura de um rumo? Ou terá Marc Márquez apontado um rumo para o HRC seguir e em Portimão teremos uma ideia clara do que esperar da marca japonesa?
5 – Ducati: Vai repetir o domínio de Sepang?
Cada traçado que integra o calendário 2023 de MotoGP tem as suas características, e haverá circuitos que, pelas suas especificidades, favorecem, ou melhor, potenciam os argumentos de performance de determinado protótipo de um fabricante.
E se há alguns anos era fácil apontar quais os circuitos em que a Ducati Desmosedici GP mais se destacava – aqueles que tivessem longas retas ou fossem mais do estilo “stop & go” –, hoje em dia essa ideia preconcebida desapareceu por completo, fruto do intenso, e bem-sucedido, trabalho realizado pela Ducati Corse que conseguiu transformar a moto de Borgo Panigale numa “arma” para qualquer situação ou tipo de circuito.
E mesmo diferentes pilotos conseguem aproveitar ao máximo o potencial da Ducati, pelo que nem sequer se pode dizer que é uma moto concebida a pensar num único piloto, por exemplo no campeão em título, Francesco Bagnaia.
Precisamente se olharmos para o teste oficial de Sepang, no passado mês de fevereiro, verificamos que após três dias de teste no traçado malaio nada menos do que sete motos italianas de Borgo Panigale terminaram no “top 10” da tabela de tempos! Mais do que isso, foram sempre líderes da tabela de tempos em cada um dos dias de teste malaio.
Porém, o Autódromo Internacional do Algarve é uma verdadeira “montanha russa”, com características totalmente diferentes e que podem colocar à prova o domínio da Ducati evidenciado até ao momento. Veremos o que conseguem fazer as oito motos que a marca de Borgo Panigale coloca em pista este ano.
6 – Aprilia: A surpresa que já não é surpresa nenhuma
Em Noale as ideias estão definidas, e isso parece resultar num projeto de MotoGP que ganha consistência e “respira” confiança. A Aprilia foi a única, pelo menos de forma consistente, a conseguir evitar o domínio absoluto da Ducati no teste anterior, e agora chega ao traçado algarvio com claras ambições de mostrar que está 100% preparada para enfrentar o Grande Prémio de Portugal no final de março.
Esta temporada a Aprilia já não beneficia das concessões que lhe permitiram reduzir a diferença que separava a RS-GP das motos dos construtores rivais. Mas isso não parece estar a ser problema, e tanto Maverick Viñales como o seu compatriota Aleix Espargaró prometem ser destaques.
O teste oficial que acontece neste próximo fim de semana no AIA permitirá tirar qualquer tipo de dúvida que ainda paira sobre a Aprilia para este arranque de temporada 2023. Mas atualmente, podemos dizer que a marca de Noale já deixou de ser uma surpresa e é cada vez mais uma certeza numa competição em que as diferenças são medidas em poucas milésimas.
Fique atento a www.motojornal.pt para estar a par de todas as novidades e resultados de MotoGP e do teste oficial no AIA, com especial destaque para a prestação do piloto português Miguel Oliveira. A não perder!