Ainda os motores dos diferentes protótipos de MotoGP não estavam ‘frios’, pois a intensidade máxima do Grande Prémio de Espanha no passado fim de semana deixou a categoria rainha em ponto de ebulição, e já as equipas e pilotos estavam novamente a entrar em pista para participarem no teste oficial no circuito Jerez Ángel Nieto.
Ao longo do dia de segunda-feira os pilotos oficiais completaram uma série de processos com as suas motos equipadas com inúmeras novidades.
Como um dia de testes em MotoGP é isso mesmo, para testar, os tempos por volta não são o principal destaque. Mas temos sempre de referir que Fabio di Giannantonio (Pertamina Enduro VR46) foi o mais rápido em pista com uma melhor volta em 1m1m36.405s. Uma volta que permitiu ao italiano relegar Maverick Viñales (Aprilia Racing) para a segunda posição da tabela de tempos, enquanto Franco Morbidelli (Prima Pramac) colocou a sua Ducati Desmosedici GP24 no “top 3”.
Porém, o principal foco, quer das equipas e pilotos, quer da imprensa especializada e dos fãs da categoria rainha, estava em perceber quais as novidades que cada fabricante iria mostrar neste teste oficial em Jerez.
Por isso, vamos de seguida fazer um rescaldo e uma análise aos diferentes fabricantes e equipas, para o ajudar a entender melhor o que será possível ver ser usado oficialmente no futuro em cada protótipo.
Com Lorenzo Savadori (piloto de testes) a usar uma Aprilia RS-GP ‘laboratório’ ao longo do fim de semana, não tendo terminado as corridas do GP de Espanha, tendo feito poucas voltas no teste, a marca de Noale contou com os seus pilotos de fábrica e também com Miguel Oliveira e Raul Fernandez, os pilotos da Trackhouse Racing.
Na equipa de fábrica, Aleix Espargaró rodou com uma RS-GP24 equipada com o que parece ser uma atualização ao sistema “ride height device”, mecanismo que ajusta a altura da moto. Uma protuberância bem visível no topo da carenagem lateral esquerda indicava que alguma coisa estava ali ‘escondida’.
Por outro lado, tanto Maverick Viñales como Miguel Oliveira saíram para a pista com as suas motos a usarem uma traseira híbrida que mistura partes da moto de 2023 com partes da moto de 2024 mais evoluída, nomeadamente um novo difusor traseiro.
Neste caso a Aprilia usa uma parte superior da traseira mais arredondada, sem asas, que vem da RS-GP23, e que é combinada com uma secção inferior com o difusor que vimos ser usado e aprovado por Aleix Espargaró.
O objetivo deste “mix” é simples: encontrar o equilíbrio entre a força descendente gerada pelas asas dianteiras e a traseira da moto, pois a traseira mais aerodinâmica com difusor e asas gera demasiada força descendente, o que causou desconforto na forma de pilotar de Viñales e Miguel Oliveira.
Sobre o teste de MotoGP em Jerez o piloto português destacou as diferentes coisas que experimentou, tendo completado 74 voltas e alcançado uma melhor volta em 1m37.063s, o que lhe deu o 15º tempo do dia.
Disse Miguel Oliveira sobre o teste que “Testei um pouco de tudo. Eletrónica, geometria, suspensão, por isso foi um dia preenchido e tive a oportunidade de dar bons passos com a moto. Também tive um bom ritmo, sempre com tempos muito competitivos, por isso estou feliz com isso. No final do dia não pudemos ter a melhor moto com pneus novos, mas tínhamos outras prioridades a testar, por isso para mim foi bom. Durante parte do dia estivemos realmente focados em obter a melhor performance do pneu traseiro macio, mas por alguma razão, não foi possível. Parece que para outros pilotos também existiram dificuldades, por isso sem stress. Vamos para Le Mans com um sentimento positivo e um bom teste no bolso”.
Já Raul Fernandez teve a oportunidade de rodar em pista, pela primeira vez, com a Aprilia RS-GP24. Recordamos que o espanhol da Trackhouse Racing compete com a moto de 2023, mas Davide Brivio, diretor da equipa satélite, acredita que Fernandez poderá passar para a moto de 2024 a partir do Grande Prémio de Itália.
Ainda assim, o piloto espanhol rodou mais tempo com a sua moto atual, e foi com ela que fez o seu melhor registo (12º tempo / 1m36.905s).
No campo da marca de Borgo Panigale, e como se costuma dizer que em equipa que vence não se mexe, este teste de Jerez de MotoGP serviu basicamente para aprimorar alguns detalhes nas diversas Ducati de 2023 e na mais recente Desmosedici GP24 usada na Ducati Lenovo Team e na Prima Pramac.
Um bom exemplo disso foi Franco Morbidelli, que depois de falhar todo o trabalho de desenvolvimento e preparação de pré-temporada devido a lesão sofrida num treino no Autódromo Internacional do Algarve, começa agora a ter algum tempo de teste com a GP24 e rodou em Jerez com um novo depósito de combustível, com novo formato, fulcral para o italiano encontrar a ergonomia perfeita para ‘prender’ as suas pernas em inclinação.
O maior foco em termos de programa de testes nas Ducati foi ao nível da geometria e afinações, em particular para os pilotos que competem com a GP23, que são os pilotos da Pertamina Enduro V46 e também da Gresini Racing.
No campo das equipas do maior fabricante mundial de motos a ‘carga’ de trabalho foi imensa. E com a Honda a precisar de forma desesperada de aumentar a competitividade da RC213V, todos os pilotos, quer Joan Mir e Luca Marini da Repsol Honda, quer Johann Zarco e Takaaki Nakagami da Honda LCR, tiveram diversas novidades instaladas nas suas motos.
Depois de testarem a RC213V atualizada num teste privado em Barcelona, Mir e Marini centraram o seu foco em combinar diferentes componentes e aerodinâmica nas suas motos.
Marini rodou com o novo quadro usado por Stefan Bradl durante o fim de semana, mas ao contrário do alemão que é piloto de testes da Honda, o italiano usou esse quadro combinado com o habitual pacote aerodinâmico. Para além disso, Luca Marini também optou por utilizar uma asa traseira de perfil mais baixo do que a variante mais agressiva, procurando reduzir a carga aerodinâmica gerada sobre o eixo traseiro.
Joan Mir rodou com a sua RC213V normal.
Do lado da equipa satélite LCR, a garagem estava ocupada pelas motos que têm utilizado esta temporada, mas Zarco e Nakagami puderam rodar com a nova moto usada por Bradl, com novo quadro, novo pacote aerodinâmico e outros componentes. As duas motos de Bradl foram entregues aos pilotos da LCR.
Sobre as novidades que a Honda trouxe para este teste em Jerez os pilotos, quer da equipa de fábrica, quer os da equipa satélite, referem que não encontraram grandes diferenças em termos de comportamento. Palavras que certamente não terão deixado os responsáveis da Honda descansados…
Nas motos austríacas, embora duas sejam decoradas com as cores da espanhola GasGas, o maior destaque foi a utilização de uma nova carenagem lateral. Tanto Brad Binder como Pedro Acosta foram ‘apanhados’ a rodar com esta novidade nas suas RC16, com o sul-africano da equipa de fábrica a ser 6º e o mais rápido com estes protótipos.
A KTM testou nas RC16 de Binder e Jack Miller algumas novidades mais técnicas, como o novo manípulo de controlo do sistema de “ride height device” visto na moto de Miller, enquanto os dois pilotos rodaram com novidades da WP, nomeadamente Binder que optou por usar umas pequenas extensões no topo das bainhas. Terá sido por isso que ajudou o sul-africano a sentir-se mais agradado com a dianteira da KTM?
Já o seu companheiro de equipa, depois de um fim de semana muito abaixo do esperado, afirmou no final do teste de Jerez que continua a sentir muitas vibrações (o denominado “chattering”) na sua moto, e que ao longo do teste a Red Bull KTM Factory não conseguiu encontrar solução para esse problema.
Para a Red Bull GasGas Tech3, e para além do que já referimos em termos aerodinâmicos que foi experimentado por Acosta, também Augusto Fernandez, que tarda em encontrar a performance que evidenciou em alguns momentos na temporada passada, aproveitou para experimentar algumas novidades na sua moto. Nomeadamente um novo guarda-lamas dianteiro ainda mais aerodinâmico.
Para Pedro Acosta o dia foi passado a testar partes aerodinâmicas de maiores dimensões do que um guarda-lamas, e na GasGas RC16 do espanhol foi instalada uma nova entrada de ar frontal igual à que foi usada por Dani Pedrosa durante o fim de semana de Grande Prémio.
Refira-se ainda que nas hostes da marca austríaca tivemos em pista o veterano Pol Espargaró, que esta temporada passou a piloto de testes e aproveitou este dia em Jerez para preparar o seu “wildcard” previsto para o Grande Prémio de Itália.
Tal como acontece com a Honda, também a outra marca japonesa está desesperada por encontrar soluções para os resultados fracos que têm sido obtidos pelos seus pilotos Fabio Quartararo e Alex Rins, pese embora, em determinados momentos, como na corrida Sprint, Quartararo consiga colocar a M1 entre as melhores de MotoGP.
As Yamaha M1 dos dois pilotos apareceram várias vezes em pista no teste de Jerez com uma impressionante atualização do pacote aerodinâmico.
A este nível podemos destacar, claramente, as asas dianteiras que adotaram um formato de três elementos, com um design semelhante ao usado atualmente em competição. Mas também temos de realçar todo o trabalho feito ao nível das carenagens laterais, com novas condutas interligadas.
Para além do pacote aerodinâmico, a Yamaha trouxe para Jerez um novo quadro. Isso mesmo foi confirmado por Massimo Meregali, diretor desportivo da equipa japonesa. Porém, e com Quartararo a afirmar no fim do dia de teste em Espanha que sentiu pela primeira vez que a M1 está mesmo a dar passos em frente em termos de performance, o que já é algo positivo, a verdade é que os dois pilotos se queixam que com o novo quadro em combinação com a nova aerodinâmica torna a moto demasiado ‘pesada’ a curvar.
Tendo em conta que o comportamento em curva era a maior virtude da moto japonesa, isso significa que a Yamaha terá de continuar a procurar novas soluções aerodinâmicas e de ciclística.
Resultados do teste oficial de MotoGP em Jerez
1 – Fabio di Giannantonio – 1m36.405s
2 – Maverick Viñales – 1m36.492s
3 – Franco Morbidelli – 1m36.527s
4 – Francesco Bagnaia – 1m36.589s
5 – Marc Márquez – 1m36.637s
6 – Brad Binder – 1m36.639s
7 – Aleix Espargaró – 1m36.744s
8 – Alex Márquez – 1m36.776s
9 – Enea Bastianini – 1m36.792s
10 – Jorge Martin – 1m36.893s
15 – Miguel Oliveira – 1m37.063s
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