O teste oficial de MotoGP em Misano, no qual vimos Miguel Oliveira (Trackhouse Racing) sair satisfeito com algumas coisas que experimentou na sua Aprilia, não serviu apenas para os pilotos e equipas da categoria rainha experimentarem componentes ou afinações novas nas motos.
Na realidade, uma das grandes novidades testadas em Misano, e que podemos definir como sendo uma verdadeira revolução para o futuro do espetáculo MotoGP, foi o sistema de comunicação piloto / equipa.
A Dorna Sports procura há já vários anos introduzir um sistema de comunicação com os pilotos. Diversos testes têm vindo a ser realizados, sendo que até agora os pilotos da categoria rainha não gostaram do que testaram.
Porém, em Misano, na passada segunda-feira 9 de setembro, vimos em ação a mais recente evolução do sistema de comunicação proposto pela Dorna Sports para o MotoGP. E as opiniões dos pilotos vão começando a modificar-se, existindo ainda uma divisão entre os que aprovam a sua utilização e aqueles pilotos que não concordam.
De acordo com o que se sabe, nesta fase de desenvolvimento do sistema de comunicação estão a ser realizadas comunicações básicas.
Por exemplo, Fabio Quartararo (Monster Energy Yamaha) revelou que disse coisas simples como “Um, dois, três”, com a equipa a responder. Algo que, de acordo com Quartararo, não é agradável quando está a percorrer uma curva rápida devido à distração provocada pela comunicação da equipa.
Neste momento a intenção é de que ao longo da temporada 2025 de MotoGP o sistema de comunicação seja testado em formato unidirecional (apenas uma das partes pode enviar informações de voz), sendo que em 2026 o sistema testado será bidirecional, com comunicações de parte a parte. Basicamente o piloto e a equipa poderão responder um ao outro.
Para a Direção de Corrida também será importante este sistema, destacando-se a possibilidade dos responsáveis pelo que acontece em pista em cada Grande Prémio poderem informar os pilotos de situações específicas, como por exemplo algum perigo em pista (ex.: um piloto que cai e fica no meio da pista ou a sua moto fica na pista).
A introdução do sistema de comunicação em MotoGP parece que vai mesmo ser uma realidade, assim que os testes sejam concluídos de forma satisfatória.
Isto abrirá ainda um lado mais espetacular para os fãs. Não é difícil imaginar que os responsáveis pelo campeonato desejam replicar o que já acontece na Fórmula 1, em que ao longo da transmissão das corridas de F1 os fãs têm acesso áudio às trocas de comunicações entre piloto e equipa.
Rapidamente poderemos ouvir na transmissão as opiniões dos pilotos sobre as atitudes de outros pilotos, ou sobre situações específicas em pista.
Porém, e conforme referimos, a introdução do sistema de comunicação não está a ser recebida de ‘braços abertos’ por todos os pilotos.
Diversas personalidades e pilotos, e aqui incluímos os fãs que reagiram nas redes sociais a esta informação, acreditam que a possibilidade de existirem trocas de informações via rádio entre piloto / equipa vai, de certa forma, deturpar o espírito deste desporto em que é o piloto sozinho contra os restantes pilotos em pista.
Marc Márquez (Gresini Racing), destaca que as comunicações “Podem ser benéficas para o espetáculo, mas para a essência do desporto não. No entanto, estamos aqui para o espetáculo, e para os fãs em casa pode ser mais interessante. Um piloto deve decidir com base nas suas sensações, e não com base nas informações que ouve”.
Entre os pilotos de MotoGP que reagiram a este teste do sistema de comunicação rádio, Aleix Espargaró (Aprilia Racing) é o que mais está a favor da sua introdução. O veterano piloto espanhol refere mesmo que “Fui dos pilotos que mais pressionou a Dorna para a sua introdução. Quanto mais rapidamente estiver pronto, melhor será para o espetáculo. Em determinados circuitos será complicado falar, mas é uma questão de hábito”.
Aleix destaca que quando os sistemas de ajuste da altura da moto foram introduzidos, também ninguém acreditava que os pilotos de MotoGP pudessem acionar o sistema a velocidades tão elevadas. No entanto, atualmente já ninguém pensa nisso. Para o espanhol o mesmo vai acontecer com as comunicações rádio.
Por outro lado, temos Francesco Bagnaia. O bicampeão mundial e piloto da Ducati Lenovo Team, não gosta do sistema e garante que, mesmo sendo de uso obrigatório, não o irá utilizar. Bagnaia defende que entre o painel de instrumentos da moto e as placas no muro da box os pilotos já recebem todas as informações necessárias.
O italiano revela estar disposto a pagar uma multa por não utilizar o sistema de comunicação rádio quando, eventualmente, o mesmo venha a ser introduzido em MotoGP. Bagnaia realça que “Testei o sistema e pressiona o osso. Basta que pressiones o osso durante 30 segundos com os dedos, e começa a doer, imaginem agora a pilotar ao longo de 40 minutos. Não faz sentido, e por isso que me multem”.
Quem também não se esquivou a comentar o teste ao sistema de comunicação rádio piloto / equipa em MotoGP, foi Miguel Oliveira.
O piloto da Trackhouse Racing, que não testou em Misano a mais recente versão do sistema, mostra-se a favor da sua introdução.
O português não sabe ao certo o que vai ser ouvido pelos fãs na transmissão, destacando que poderá ser apenas ouvida uma “respiração ofegante”, pois pilotar uma moto, e em particular um protótipo de MotoGP, é uma atividade mais exigente do ponto de vista físico do que pilotar um automóvel.
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