Parece que gigantesca e inovadora sondagem que o MotoGP realizou e onde pediu ajuda aos fãs para perceber aquilo que gostam mais e que gostam menos no Mundial de Velocidade, está a ter os primeiros resultados. De acordo com o portal Motorsport.com , a Comissão de Grandes Prémios vai reunir-se durante o Grande Prémio da Áustria para discutir a possível introdução de corridas Sprint, semelhante ao que já existe na Fórmula 1.
A ideia, para além de ter sido sugerida pelos fãs na sondagem global que terminou há pouco tempo, parece estar a ser bem recebida pelas equipas de MotoGP.
Tudo indica que, a serem implementadas, as corridas Sprint serão apenas para a categoria MotoGP. O fim de semana das categorias Moto2 e Moto3 permanecerá igual ao que vemos atualmente. O início destas corridas de menor duração / distância seria já em 2023, com pontuação cortada para metade, algo que já vemos nas corridas Sprint da F1.
Mas, ao contrário da categoria rainha do automobilismo, as corridas curtas de MotoGP não servirão para definir as posições na grelha de partida e serão para acontecer em todos os Grandes Prémios.
Continuaremos a ver os pilotos a disputar as qualificações, e a corrida Sprint servirá apenas como uma forma adicional de espetáculo para fãs, sendo necessário por isso eliminar do programa de cada GP a quarta sessão de treinos livres, por exemplo.
E espetáculo é precisamente aquilo que estará no topo das atenções, quer da Dorna, quer da Comissão de Grandes Prémios, mas também da parte das equipas e pilotos de MotoGP.
Por exemplo, Marc Márquez, piloto da Repsol Honda, na sua mais recente ronda de intervenções públicas sobre o campeonato, referiu estar preocupado com a falta de interesse dos fãs na categoria rainha do Mundial de Velocidade. Ainda há pouco tempo o interesse e alcance do MotoGP era superior. E o oito vezes campeão do mundo não esconde que gostava de encontrar formas de MotoGP alcançar mais fãs.
A resposta será a introdução das corridas Sprint? Veremos se assim será.
Mas a verdade é que alguma coisa tem de ser feita para evitar o decréscimo de público nos circuitos por onde passa o Mundial de Velocidade. Uma tendência notória este ano, o que não deixa de ser um facto estranho tendo em conta que finalmente os fãs podem voltar aos circuitos sem estarem limitados por restrições relacionadas com a pandemia.
Aliás, os números oficiais da Dorna, promotora e gestora dos destinos de MotoGP, não deixam grandes margens para dúvidas a este aspeto, quando comparamos a primeira metade da temporada 2019, o último ano antes da pandemia, e a primeira metade da temporada atual em que deixámos de viver em pandemia e restrições de público.
Nesta comparação é necessário ter em conta vários fatores que podem alterar, de alguma forma, os resultados em termos de números “puros e duros”, como por exemplo o facto de em 2019 não se ter realizado o Grande Prémio de Portugal, que este ano contribuiu com mais de 75 mil espectadores para a contabilidade.
Nos primeiros doze Grandes Prémios de 2019, registou-se uma afluência total de 1.854.417 fãs pagantes nos circuitos. Nos primeiros doze da atual temporada 2022, a Dorna registou um total de 1.310.685 fãs pagantes. Uma diferença de menos 543.732 pessoas nos circuitos.
Esta diferença pode ser, pelo menos em parte, explicada pelo facto da Dorna não ter os dados oficiais de espectadores no circuito de Austin (GP das Américas), nem ter ainda incluído os dados oficiais relativos ao Grande Prémio da Grã-Bretanha. Neste último caso, e embora essa contabilidade esteja em falta na tabela da Dorna, sabemos que existiu uma clara diminuição de fãs no circuito de Silverstone em comparação com 2019.
Para equilibrar as “contas”, e mesmo sabendo que os números foram inferiores, podemos assumir que tanto no Grande Prémio das Américas como no da Grã-Bretanha tivemos em 2022 o mesmo número de espectadores nestes circuitos que tivemos em 2019. Isto significa que poderíamos adicionar 235.152 pessoas ao total de pessoas que marcaram presença nos doze primeiros GP do ano.
Ainda assim, a diferença seria um decréscimo de 308.580 espectadores de 2019 para 2022. Um número bastante elevado e preocupante.
Onde é que existe uma queda mais acentuada no número de espectadores no circuito?
Neste particular, o caso mais destacado é o circuito de Mugello. Palco do Grande Prémio de Itália, o traçado fica “encaixado” nas colinas verdejantes da Toscânia. Uma zona de grande beleza natural, e que, certamente, seria um atrativo adicional para chamar os fãs italianos a Mugello. Ainda por cima tendo em conta que existem tantos pilotos italianos a discutir as melhores posições nas três categorias MotoGP, Moto2 e Moto3.
Mas a edição 2022 do GP de Itália ficou marcada, pela negativa, por 74.078 espectadores no circuito! Em 2019 esse número era de 139.329. Só neste fim de semana a Dorna viu menos 65.251 pessoas marcarem presença no circuito. Um golpe duro de aceitar.
Terá a ausência de Valentino Rossi sido um motivo? Possivelmente. Mas também convém ter em conta que não só “Il Dottore” não esteve presente, pois finalizou a sua carreira como piloto, como o circuito de Mugello está localizado numa zona afastada de grandes localidades.
Mas também convém realçar que outro mercado habitualmente forte para MotoGP, Espanha, está a revelar uma perda de público nos circuitos: em Jerez foram ao circuito menos 28.413 pessoas e na Catalunha menos 43.253 pessoas.
Em sentido contrário verificamos que os Grandes Prémios da Argentina (+7.208), Alemanha (+31.040) e França (+18.677) conseguem apresentar um crescimento e maior interesse por parte do público.
E quais são os fatores que podemos associar a este decréscimo acentuado no número de espectadores nos circuitos de MotoGP?
Muitas vezes esta questão tem sido associada à ausência de Valentino Rossi da competição. Porém, nunca como agora tivemos corridas tão renhidas, mais marcas a disputarem vitórias, e as diferenças entre pilotos são de milésimas e não de segundos como por vezes vimos em tempos recentes. Maior competitividade levaria a maior interesse do público.
A inflação a subir será também certamente um dos fatores a ter em conta. Com a subida da inflação a nível global, os preços aumentam de forma significativa, e os fãs têm muitas vezes de fazer contas aos gastos que têm num fim de semana de MotoGP: para além do bilhete, muitas vezes têm de pagar alojamento, alimentação e ainda as deslocações para o circuito.
Em 2019, num momento em que a economia global estava mais forte, a grande maioria dos fãs não precisava de fazer este tipo de contabilidade aos euros.
E convém também não esquecer que estamos a sair de uma pandemia global, uma situação que teve um efeito devastador na sociedade, alterando os nossos hábitos de vida e a forma como encaramos eventos que juntam um grande número de pessoas no mesmo local.
Ainda que a grande maioria das pessoas possa não sentir problemas em estar num circuito, lado a lado com outros milhares de fãs, existirá uma percentagem de pessoas que depois da pandemia Covid-19 continuarão a recear este tipo de eventos e grande ajuntamentos. Inevitavelmente isso levará a um decréscimo no número de espectadores num circuito.
Uma última nota que convém ter em conta nesta análise ao decréscimo de número de espectadores nos circuitos durante as corridas de MotoGP, está no forte crescimento da Fórmula 1.
Os detentores dos direitos da F1 (a Liberty Media desde 2016) têm sabido definir um rumo que parece do agrado dos fãs, e o interesse nesta competição automóvel tem crescido de uma forma sem precedentes! Uma competição mais virada para o “show”, e, regressando às corridas de Sprint que agora podem ser usadas também em MotoGP a partir de 2023, onde novos formatos de competição parecem trazer novos fãs para a F1.
Será este o caminho que MotoGP tem de seguir se quisermos uma renovação ou rejuvenescimento da sua base de fãs?
