Em algum momento da nossa vida já ouvimos falar em força g. Esta força é particularmente importante para os pilotos de MotoGP, pois são intensamente afetados por ela quando conduzem as suas motos da categoria rainha em situações extremas como aceleração, travagem ou em curva. É por isso importante percebermos qual o efeito da força g nos pilotos.
Mas antes mesmo de entrarmos em maiores explicações, convém começar por explicar o que é a força g.
A força g – escrito em letra minúscula – é a aceleração relativa à gravidade da Terra. Nesse sentido, é a aceleração que age sobre nós. Logo, 1g corresponde à pressão aplicada ao corpo humano pela constante gravitacional 9,80665 metros por segundo ao quadrado. Essa é a aceleração exercida naturalmente na Terra.
A força g permite medir o esforço físico a que se submetem veículos e seres humanos em determinados momentos.
Isaac Newton, um dos mais influentes cientistas de todos os tempos, definiu a conhecida Segunda Lei de Newton: o princípio fundamental da dinâmica. Formulou a equação F=m·a , onde “F” significa força, “m” corresponde a massa, e o “a” corresponde a aceleração.
Quando aprofundou os efeitos da aceleração no corpo humano, Newton formulou uma outra equação com o objetivo de medir a intensidade dessa força: F=m·g , onde “g” corresponde a gravidade.
Podemos dizer que uma força de 1g representa uma aceleração de 9,72 m/s.
Sem aprofundar em demasia esta terminologia da física, poderemos resumir o efeito da força g multiplicando o peso da massa pela intensidade da força g que se lhe aplica. Por exemplo, uma força de 3g representa três vezes o peso da massa a que se lhe aplica.
E de que forma é que a força g afeta os pilotos de MotoGP?
Antes de respondermos a esta questão, convém entender que os pilotos de MotoGP não são sujeitos, normalmente, a força g demasiado intensa. No entanto, em determinadas situações, como num acidente, sim, sofrem forças g mais elevadas devido aos impactos mais intensos a alta velocidade.
Graças aos mais recentes e evoluídos equipamentos de proteção usados em MotoGP, onde os fatos equipados com airbag são obrigatórios, passámos a poder perceber melhor as forças g envolvidas em determinados impactos durante uma queda.
Por exemplo, Jorge Martin (Prima Pramac Ducati) sentiu no seu corpo uma força de 26g quando sofreu uma queda no Grande Prémio de Portugal em 2021. Ainda que esta força g seja registada por milionésimos de segundo, a verdade é que não deixa de impressionar.
Mas, por mais impressionante que os 26g de Martin sejam, essa força g está longe de ser o valor máximo registado em MotoGP.
Marc Márquez (Repsol Honda) caiu no circuito de Sepang em 2019, e a telemetria do seu fato de competição registou uma força de 26,27g. Três anos antes, e no mesmo circuito malaio, foi o francês Loriz Baz, atualmente a competir no Mundial Superbike, que sofreu uma queda impressionante em que a telemetria do seu fato revelou que o piloto sofreu um pico de 29,9g!
Ainda assim, estamos a falar de valores bastante abaixo da força g mais elevada jamais registada no desporto motorizado.
Esse recorde documentado pertence a David Purley, que em 1977 sofreu um acidente durante os treinos para o GP da Grã-Bretanha de Fórmula 1. O piloto britânico perdeu o controlo do seu LEC-Ford e acabou por embater no muro de proteção a 173 km/h. Por incrível que pareça, o carro imobilizou-se numa distância de 66 cm, o que “aplicou” ao corpo de Purley uma força de 179g!
Depois de dois anos parado, o piloto viria a regressar à competição.
O efeito das forças g é bastante mais intenso nos pilotos de automóveis do que nos pilotos de motociclismo. A explicação é fácil: os pilotos dos automóveis estão fixos ao veículo, logo, todas as forças são diretamente transmitidas ao corpo do piloto. No caso dos pilotos de motociclismo, e devido às performances extremas de um protótipo de MotoGP, são os pilotos de motos sujeitos a maiores forças g.
O momento mais crítico será durante uma travagem mais forte, momento em que a moto abranda de velocidades superiores a 330 km/h para velocidades entre 80 ou 100 km/h em poucos metros. A Brembo, fornecedor de todos os sistemas de travagem utilizados nos protótipos de MotoGP, refere que a média dos circuitos presentes no Mundial de Velocidade é de 1,1 a 1,2g. A partir dos 1,4g a Brembo define como sendo uma travagem de desaceleração elevada.
Mas estamos a falar de forças medianas. A verdade é que no calendário de MotoGP existem circuitos bastante exigentes e onde se registam forças g bastante mais elevadas nos momentos de travagem.
Começamos por referir que todos os circuitos do campeonato têm, pelo menos, uma travagem de 1,5g. Existem circuitos – Motegi, Buriram ou Red Bull Ring – onde estes 1,5g são atingidos mais do que uma vez por cada volta. Nesses circuitos mais exigentes a Brembo disponibiliza discos de travão específicos, até porque é obrigatório a instalação de discos de maior diâmetro nas MotoGP. Os discos podem ser de 320 mm, 340 mm, ou os maiores de todos que atingem 355 mm!
Se analisarmos os dados disponibilizados pela Brembo, Portugal aparece em destaque nas travagens mais fortes, ou onde os pilotos de MotoGP sofrem uma maior força g.
Isto porque na travagem para a primeira curva do Autódromo Internacional do Algarve os pilotos têm de suportar uma força de 1,8g. Isto deve-se à combinação de velocidade muito elevada (cerca de 335 km/h) e uma descida acentuada no ponto de travagem.
Mas nem sempre é preciso que a travagem seja feita numa zona de descida pronunciada como acontece no AIA. Por exemplo, durante a travagem para a primeira curva do circuito Ricardo Tormo, em Valência, onde se chega a atingir os 325 km/h até iniciar a travagem, a força g atinge os 1,7g.
Na passagem em curva os protótipos de MotoGP também sofrem forças g intensas, ainda que significativamente menos intensas do que se verificam nos automóveis como os F1. No caso das MotoGP (e das motos de uma forma geral) a força g decompõe-se devido à dinâmica específica deste veículo de duas rodas.
Enquanto num automóvel o veículo e piloto formam uma massa única que se move no mesmo plano / direção, no caso de uma moto e respetivo piloto essa dinâmica é diferente.
Basta o simples facto de se inclinar a moto para curva para decompor as forças em ação sobre a moto, porque coincidem com o momento de aumento da força centrífuga, da força centrípeta (força que puxa o corpo para o centro da trajetória durante um movimento curvilíneo ou circular), e também da própria força g.
Podemos dizer que neste momento de abordagem de uma curva em inclinação da moto, existe uma força que tem a tendência de seguir a inércia da massa (força centrífuga), contra a qual luta o piloto que tenta levar a moto para a trajetória desejada (força centrípeta). A conjugação destes dois momentos descompõe o efeito da força g durante uma curva.
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