Já se passaram muitos dias desde o domingo de corridas de MotoGP do Grande Prémio da Austrália em Phillip Island. E, felizmente, podemos estar a falar deste assunto sem referir consequências ainda mais graves para além das lesões sofridas pelo espanhol Jorge Navarro, como consequência da queda em que se viu envolvido com Simone Corsi durante a corrida das Moto2 australiana.
Navarro perdeu o controlo da sua moto na curva 5, e acabou por ser atropelado por Simone Corsi que não teve qualquer hipótese de evitar o contacto. O piloto espanhol, depois de deslizar pelo asfalto, viria a parar na escapatória de relva da referida curva, tendo ficado imobilizado durante vários minutos apenas com a proteção que lhe foi garantida por um solitário comissário de pista.
Navarro permaneceu imobilizado a poucos metros da trajetória por onde passavam os restantes pilotos de Moto2 a mais de 150 km/h. Certamente a Direção de Corrida iria determinar a interrupção da corrida para se garantir que comissários de pista e médicos podiam ajudar o piloto. Mas as bandeiras vermelhas ficaram, misteriosamente, guardadas, sendo mostradas apenas bandeiras amarelas.
Uma situação perigosa e incompreensível, quer para fãs, quer também para pilotos de MotoGP que fizeram questão de mostrar o seu descontentamento durante a reunião da Comissão de Segurança do Mundial de Velocidade, que aconteceu no passado fim de semana durante o GP da Malásia.
Nessa reunião ficámos então a perceber um pouco de toda a dinâmica de acontecimentos que se sucederam, e que levaram a Direção de Corrida a não optar pelas bandeiras vermelhas.
De acordo com Mike Webb, diretor de corrida, “Permiti o resgate de Jorge Navarro sob bandeiras amarelas porque a equipa médica me disse que o ia buscar. Nem todos os incidentes obrigam a bandeira vermelha. Posteriormente, sim, a conclusão é que no caso deste incidente a bandeira vermelha teria sido o melhor”.
Mas a conclusão a que chegou agora Mike Webb, dias depois de tudo ter acontecido, era evidente para qualquer pessoa que estava a assistir à corrida de Moto2 e que viu Jorge Navarro imobilizado durante mais de duas voltas na escapatória a olhar para a sua perna esquerda fraturada em dois sítios.
Como é que o diretor de corrida não entendeu ser necessário interromper a corrida para garantir a segurança do piloto, mas também dos comissários de pista e equipa médica?
Carlos Ezpeleta, CEO da Dorna, explica que “Sim, os pilotos têm razão. A corrida deveria ter sido parada com bandeiras vermelhas. A corrida continuou devido a uma série de circunstâncias infelizes e extraordinárias. No caso de uma intervenção médica, comunicamos diretamente com o médico principal, que por sua vez está em contacto direto com os médicos na pista. Recebemos a seguinte informação: Piloto consciente, está a ser tratado, já o transportamos. Este procedimento deve durar uma volta ou uma volta e meia. Mas (Navarro) estava no interior da curva, onde normalmente acabam as quedas, e haviam poucos comissários neste local, por isso a recuperação demorou mais do que duas voltas, o que é inaceitável, todos sabemos isso”.
Felizmente, como já referimos inicialmente neste artigo, as consequências deste incidente ficam-se pelas fraturas sofridas pelo piloto espanhol Jorge Navarro. Porém, a situação poderia ter sido bastante mais grave, pelo que a Direção de Corrida e toda a organização do Mundial de Velocidade deverá estar mais atenta a este tipo de situações para evitar que o mesmo volte a acontecer.
Refira-se que recentemente os pilotos de MotoGP pediram uma nova forma de avisar a Direção de Corrida da necessidade de se mostrar bandeira vermelha. Tal como a revista MotoJornal já aqui referiu, a ideia passará por dar aos pilotos um meio de avisar diretamente a direção de corrida de potenciais perigos em pista.