Os rumores corriam há umas semanas, e hoje veio a confirmação oficial: o Dakar deixa a América do Sul e ruma ao Médio Oriente, com as próximas edições a realizarem-se na Arábia Saudita, já a partir de 2020.
O Dakar, que começou como Paris-Dakar em 1979, percorreu as pistas africanas até 2008, quando essa edição foi cancelada devido às ameaças terroristas. Dias antes do arranque em Lisboa quatro turistas franceses foram assassinados pela al-Qaeda na Mauritânia, um dos países por onde passava o rali, desencadeando a decisão do governo francês de aconselhar a Amaury Sport Organisation a cancelar o evento. A ASO procurou novos destinos e em 2009 o rali realizou-se pela primeira vez na América do Sul, e desde então o evento passou por países como Argentina, Peru, Chile e Bolívia.
Porém, a pouco e pouco os países anfitriões foram-se afastando do rali, alegando razões financeiras (a somar a alguns problemas com a população de algumas regiões, que se manifestava contra a passagem do rali em algumas áreas) e em 2019 este foi realizado exclusivamente em solo peruano, sendo a primeira vez na história que a competição se desenrolou apenas num único país, o que levou a ASO a procurar de novo por alternativas. E esta acabou por surgir na Arábia Saudita.
Terceira era
Etienne Lavigne, ex-director da prova já tinha deixado no ar, em Janeiro, que o Dakar ia deixar a América do Sul: «A verdade é que estamos pressionados para apresentar um projecto para 200 e anos seguintes o mais depressa possível. Em três ou quatro meses se não conseguirmos recuperar o desejo de receber o evento, teremos que mudar de rumo, não podemos viver esta situação como nos últimos meses», referindo-se à incerteza que rodeou o percurso de 2019, com as negociações com os vários países a demorarem muito tempo, e o percurso a ser apresentado muito tarde.
Assim, começa uma terceira era do Dakar, e David Castera, director da prova, está confiante: «Olhando para trás para as minhas memórias do Dakar e da minha experiência como concorrente, sempre considerei que este rali, como nenhum outro, tem o conceito da descoberta, da viagem para o desconhecido. Ao ir para a Arábia Saudita, isso é um aspecto que me fascina. Estou convencido que esta sensação será partilhada por todos os pilotos. Como director do evento, é uma mudança massiva para ser enfrentada com uma página branca de possibilidades sem limites. Já estou inspirado e deliciado por ter que desenhar um percurso numa geografia tão monumental, feita para o mais audaz dos itinerários. Somos mimados pela escolha. Desporto, navegação, a determinação de nos superarmos a nós mesmos, todos estes aspectos serão naturalmente glorificados neste território feito para os rali raides».
A Arábia Saudita tem uma área de 2 150 000 km2 (para comparação, Portugal tem 92 250 km2) e ocupa 80% da Penísula Arábica, sendo dominada pelo Deserto da Arábia, com algumas cadeias montanhosas a Oeste, junto ao Mar Vermelho, pelo que o percurso do futuro Dakar deverá contemplar muita areia e algumas pistas de montanha.