Quando na quinta-feira anterior ao GP de São Marino perguntaram aos pilotos de MotoGP presentes na habitual conferência de imprensa pré-evento (Andrea Iannone, Jorge Lorenzo, Marc Marquez, Valentino Rossi e Andrea Dovizioso) o que achavam de a Avintia ter convidado Christophe Ponsson para substituir o lesionado Tito Rabat, estes entreolharam-se em interrogação. Uns nem sabiam quem iria substituir o espanhol, outros sabiam, mas não faziam ideia de quem é Christophe Ponsson.
Logo aí foi levantada a dúvida sobre a legitimidade de convidar um piloto que nunca tinha participado num GP de qualquer categoria, e cujo palmarés é tudo menos relevante, para já.
Havia dúvidas de que o piloto de 22 anos, oriundo de Lyon, pudesse vir a tornar-se numa chicane móvel. Ponsson não teve qualquer teste prévio com a Ducati GP16, e teve o seu primeiro contacto na primeira sessão de treinos com uma moto muito potente que não conhecia, com pneus slick que nunca experimentou e travões de carbono só usados em MotoGP.
Mas o francês acabou por não se envolver em qualquer situação mais delicada. Apesar de ser, sem surpresas, muito lento – comparativamente aos pilotos do campeonato – conseguiu estar sempre dentro dos 107% do melhor tempo nos treinos. Na corrida foi dobrado, mas saiu da frente e deixou caminho livre aos pilotos mais rápidos.
107% ou menos?
Na habitual reunião da Comissão de Segurança em Misano o assunto foi abordado, e foi até sugerido que o limite de qualificação passasse para menos de 107% do melhor tempo. Isso não foi aceite, mas outra proposta que reuniu consenso foi a de que os pilotos que nunca participaram num GP na categoria rainha tivessem que realizar pelo menos um teste antes do seu primeiro GP.
Ponsson acusou Jack Miller e Cal Crutchlow de liderarem um movimento para o banir. Eles dizem que não foi bem assim, mas o facto é que o francês tinha sido contratado para mais do que uma corrida, e ficou-se por Misano.
Para este fim-de-semana foi convocado Jordi Torres. O espanhol também nunca pilotou uma MotoGP, mas tem mais de 50 GPs realizados em Moto2 (com três pódios, incluindo uma vitória) e está desde 2015 no Mundial de Superbike, onde soma quase 100 corridas (com quatro pódios, incluindo uma vitória, tendo terminado as três temporadas anteriores entre os 10 primeiros). Ou seja, o palmarés de Jordi Torres é bem mais recheado (é também mais velho, com 31 anos) que o de Ponsson.
O piloto francês iniciou a sua carreira internacional no agora extinto Europeu de Superstock 600 em 2011 pontuando apenas em três corridas, sendo 29.º no final do ano. Em 2013 participou na então Taça FIM de Superstock 1000; terminou quase todas as corridas entre os 15 primeiros e foi 15.º no final da temporada. Em 2015 participou no Mundial de Superbike, primeiro com o Team Grillini, mudando depois para o Team Pedercini. Pontuou em 9 das 26 corridas e terminou o campeonato em 22.º Com o Team Pedercini regressou no ano seguinte à Taça FIM de Superstock 1000, pontuando em apenas três corridas e acabou o ano em 29.º.
Casos semelhantes
Se olharmos para o passado houve outros casos de estreias que não causaram tanta polémica. Aleix Espargaró foi chamado em 2009 para a Pramac, quando Mika Kallio foi recrutado para a equipa oficial Ducati para substituir o adoentado Casey Stoner (a intolerância à lactose, lembram-se?). Aleix tinha apenas 20 anos, e a sua carreira internacional resumia-se a uma temporada de 125 cc e duas em 250 cc. Num misto de terror por ser largado no meio dos lobos, e de deslumbramento por estar em MotoGP, pontuou nas quatro corridas em que participou. Mais recentemente, o australiano Mike Jones foi chamado a substituir Héctor Barberá nos GPs do Japão e da Austrália de 2016, na Pramac. Foi 18.º, e último, em Motegi, e dobrado pelos primeiros, mas depois em Phillip Island terminou em 15.º e amealhou um ponto.
É preciso não barrar a chegada de novos pilotos à categoria rainha, mas faz sentido que sejam estabelecidos critérios mínimos de admissão e que o estreante tenha que fazer um teste prévio, que pode ser de avaliação, mas também de adaptação antes da prova de fogo. Por segurança do estreante e dos outros e para paz de espírito dos veteranos.
Por isso é muito provável que o caso Posson venha a trazer alterações no regulamento nesse sentido.