Mais um Dakar prestes a começar, mais uma (boa) participação lusa entre os pilotos das duas rodas. Ao todo são cinco os aventureiros na maior prova TT do Mundo, todos com objectivos bem definidos, mas sempre um maior em vista: chegar ao fim da longa maratona, especialmente este ano em que tudo é novo, país, regulamente, etapas. Paulo Gonçalves, agora na Hero Motosports, é a principal estrela da comitiva, o ‘ponta de lança’ luso.
Paulo Gonçalves
Aos 40 anos é o mais galardoado piloto luso de rally’s e inclusivé do Dakar. Deixou a Honda e assumiu a liderança da muito promissora formação dos indianos da Hero Motosport, sendo o mais velho e único resistente do lote dos ‘antigos’ pilotos do Dakar. Será a sua 13ª participação. Notável!
‘O Dakar de 2020 é um desafio novo. Vamos para um território desconhecido para a totalidade dos pilotos. Também troquei de moto e equipa e ao fim de cinco anos enfrento uma nova etapa. Espero estar em alta e conseguir inverter o resultado dos dois últimos anos. Há dois, em 2018, nem sequer pude iniciar o rally porque sofri uma lesão e em 2019 corri debilitado devido a outro acidente umas semanas antes, o que me limitou e acabei por não terminar. Por isso, neste próximo, a prioridade é terminar e apartir daí conseguir um bom resultado. Nesta fase, no actual contexto, um lugar no Top 5 é plenamente satisfatório. E se fizer um pódio, seria a ‘cereja no topo do bolo’. Vai ser uma prova muito mais longa que nos anos anteriores. Comparando com 2019 vai ter o dobro dos quilómetros de especiais cronometradas, cerca de 5 mil e mais de 3 mil de ligações. Isso obriga a mais cautelas, a uma melhor gestão dos acontecimentos, para todos. Conservar a mecânica por exemplo vai ser decisivo junto com a regularidade, que vai ser um factor chave. Estou bem fisicamente, num nível muito superior a 2019.
Ser o último da antiga geração de pilotos do Dakar é motivante. Sou o último sobrevivente de uma geração que já vem de África e muito contente por ainda ter condições para discutir os lugares da frente. Isso ficou provado com uma vitória numa etapa no rally de Marrocos, e por ter terminado no Top 3 em cinco etapas do Silk Way Rally. Continuar a alinhar numa prova como esta é sempre possível, mas manter um nível competitivo elevado é que é díficil. Um nível que subiu muito mas que felizmente consegui ir acompanhando. Ainda tenho contrato para 2021 e espero por essa altura estar num elevado bom nível competitivo e motivado como agora.
Sobre a minha saída da anterior equipa, só tenho a dizer que foram cinco anos super-positivos. Tenho imenso orgulho em ter sido o piloto que melhores resultados conseguiu até hoje para a equipa, com a vitória na Taça do Mundo e um segundo lugar no Dakar. Mas foi um ciclo que se fechou. Dei o meu máximo, houve momentos em que não consegui o resultado pretendido e ninguém fica contente quando uma equipa prepara um piloto para ganhar o Dakar e em dois anos consecutivos esse piloto ou não alinha ou corre debilitado. Penso que todas essas coisas foram decisivas para terminar esse ciclo que não me deixa nenhuma mágoa, antes orgulho pelo que fiz e consegui. Agora a Hero é outro desafio, uma equipa muito recente mas que tem muito para crescer. Já estamos a dar cartas nos rally’s, estão todos a trabalhar muito e bem para chegar ao topo. É isso que desejamos.’
Joaquim Rodrigues
Totalmente recuperado da terrível lesão sofrida em 2019, Quim Rodrigues aponta forte ao Dakar, trazendo no curriculum a vitória no Rally de Marrocos. Com cabeça e calma, procura fazer um brilharete, e por isso quer surpreender. ‘Vou alinhar pela quarta vez, embora o anterior nem sequer tenha corrida pois arranquei e fiquei logo de fora. Tentarei ser melhor que 12º há dois anos. Sinto-me bem, estou fisicamente recuperado mas não quero ir com expectativas a mais, pois quando assim é as coisas correm pior. Quero tentar todos os dias cometer o minímo de erros possível, e rolar num ritmo bom. Se conseguir eliminar esses problemas e andar rápido, penso que no final se verá o resultado. Não tenho em mente nenhum lugar específico, tipo Top 10, nem quero ter. Só quero rolar evitando erros e problemas. Este ano vai ser muito complicado. Muita coisa vai certamente acontecer, numa prova muito mais longa e mais dura, com tudo diferente para todos. Ninguém sabe bem o que nos espera, mas será igual para todos. Temos de sobreviver todos os dias, com o mínimo de problemas. A equipa está forte, a moto está cinco estrelas. Temos testado muito, com a moto a evoluir todos os dias. Estamos preparados para tudo, inclusivé para ter problemas como todos os outros. A entrada no Paulo na equipa veio ajudar bastante, pois ele é de nível top e mostra que pilotos como ele têm interesse numa equipa tão nova como a nossa. Estamos a crescer e queremos surpreender.’
Sebastian Buhler
Vai ser o seu segundo Dakar e depois do brilharete que fez no ano passado, terminado após muitos problemas, este ano teve a surpresa de ser chamada à última hora para alinhar pela formação da Hero Motorsports. Uma equipa de fábrica para um piloto muito promissor. E apesar da sua origem alemã, é como português que ele se sente, por isso consideramo-lo como um dos nossos. ‘Vou alinhar com o objectivo de chegar ao fim. Quero aprender o máximo, disfrutar o máximo. Por ser a segunda vez que alinho, e por ser uma prova em que se exige muita experiência, não vou querer ter mais em mente que aprender e chegar ao fim. Além disso será uma prova muito diferente em todos os sentidos, mas isso também será bom para todos. É um país que ninguém à partida conhece e todos estarão em pé de igualdade. Tive a sorte de ser recrutado para a equipa da Hero. É sempre bom estar inserido numa equipa de fábrica. É tudo diferente pois eles tratam de tudo, e eu só me preocupo em pilotar dando o máximo de mim. É mais exigente, mas eles não me colocaram qualquer pressão em termos de resultado, apenas que chegue ao fim. Para já tenho contrato para este ano, e quanto ao futuro ainda não posso referir mais nada. A inclusão do Paulo Gonçalves foi muito importante. Ele e o Quim Rodrigues são excelentes, aprende-se muito com eles porque são pessoas que gostam de ensinar. Já os conhecia antes neste ambiente de outros treinos, mas agora comprovo isso mesmo. O ambiente na equipa é excelente. Acho que vai ser um Dakar com muita navegação, e muito difícil mas estou melhor nesse ponto, por isso vamos ver como as coisas correm.’
António Maio
Repete a sua participação neste Dakar, depois do abandono na prova de 2019. Está confiante e decidido em fazer uma boa corrida. ‘Fiz várias provas de Rally para me preparar para o Dakar, incluindo o Nacional de todo-o-terreno e de navegação, o primeiro com provas rápidas onde andei com a moto do Dakar. Tive bastantes treinos em Marrocos e melhorei muito na navegação. Junto muito treino fisíco e nesse ponto acho que estou melhor que no ano passado e sem nenhuma lesão felizmente. Estou bem e confiante. A moto também evolui muito, no sentido de a tornarmos ainda mais resistente. Por isso vou enfrentar a prova com a mesma determinação e postura de 2019, com calma e tranquilidade, disputando etapa-a-etapa e não pensando apenas no resultado. Correr num país como a Arábia Saudita, vais ser ainda mais desafiante, com tudo novo para todos, talvez por isso com alguma vantagem para os amadores como eu, perante situações de nos entregarem o Road-book por exemplo apenas 20 minutos antes da largada. Vai ser como sempre ser um grande desafio, mas por mim começava já amanhã. Estou muito ansioso.’
Mário Patrão
De novo inserido na estrutura oficial da KTM, Mário Patrão procura este ano vingar os dois últimos: em 2018 não alinhou devido a uma operação à apendicite semanas antes; em 2019 desistiu por queda quando estava a rolar muito e bem. Será o seu 7º Dakar, e por isso ‘…as expectativas para a prova deste ano são muito boas. Quero inverter os maus resultados, por isso treinei muito, recuperei fisicamente as mazelas que tinha e fiz tudo o que podia para estar agora ao melhor nível, em apenas 4 meses de preparação intensa. Tudo vai ser diferente, mas por isso estou confiante. São mudanças que vão abranger todos, iguais para todos, e por isso espero pessoalmente conseguir fazer um bom Dakar. Continuo inserido na KTM oficial o que para mim é motivo de orgulho e sinal que sou importante para eles. Tem corrido bem nestes 4 anos de ligação apesar de não ter conseguido os resultados que desejava. Este ano serão 12 etapas muito longas, muito exigentes a todos os níveis, mas quero por isso cometer o mínimo de erros possível e assim acreditar num bom resultado.’