De Mattighofen chegam notícias que causam uma certa apreensão. Isto porque o grupo Pierer Mobility, empresa que gere os destinos de marcas como a KTM, Husqvarna, GasGas ou MV Agusta (da qual detém 50,1%), divulgou publicamente a sua mais recente previsão de resultados operacionais de 2024. E os resultados negativos levam a ‘apertar o cinto’!
Na passada segunda-feira 21 de outubro o Pierer Mobility apresentou um novo relatório financeiro, onde está escrito que a empresa está a operar no ‘vermelho’.
Estas dificuldades financeiras já não são novidades. Recordamos que desde início de 2024 que a empresa austríaca, liderada por Stefan Pierer e o seu Conselho de Administração, definiu uma série de medidas que tinham como objetivo cortar custos, incluindo reduzir o número de empregados.
As previsões anunciadas em março agravaram-se, de acordo com o mais recente relatório, e logo após a divulgação destas novas informações as ações do Pierer Mobility sofreram uma quebra abrupta na bolsa de Zurique. Na terça-feira as ações chegaram a desvalorizar 23%, seguindo uma tendência que já se tinha acentuado desde há vários meses.
Aliás, isso é bem patente no valor atual das ações em comparação com o valor que registavam em bolsa há um ano: em 2023 cada ação valia mais de 59 francos suíços, e hoje está a valer 12 francos suíços! Uma quebra de quase 80% no valor da empresa em bolsa.
Para além das medidas tomadas em março e que levaram ao despedimento de centenas de trabalhadores, o Pierer Mobility anunciou agora que o seu Conselho de Administração foi reduzido de 6 para apenas 2 membros.
Antes disto, em julho, Stefan Pierer já tinha dado instruções para que a presença do grupo austríaco nas mais diversas competições de motociclismo fosse reduzida drasticamente. Isto levou à saída da Husqvarna das categorias Moto3 e Moto2, enquanto a GasGas deixará de estar presente em Moto3 e no MotoGP (na equipa Tech3), passando essa equipa na categoria rainha a ser novamente KTM.
No off road as mudanças são também bastante notórias, com o grupo Pierer Mobility a centrar esforços apenas na marca KTM, quer no Mundial de Motocross MXGP, quer também no que diz respeito, por exemplo, à prova rainha que é o Rali Dakar.
A contribuir para o agravamento da situação financeira do grupo existem duas situações: menor número de motos vendidas, isto depois de uma década de vendas recorde ano após ano, sendo que em 2023 venderam 377.200 motos em todo o Mundo. E também o enorme stock de motos e peças que estão ‘acumuladas’ nos concessionários e revendedores, e que levaram o Pierer Mobility a estender os prazos de pagamentos, o que, inevitavelmente, tem reflexo negativo nas contas do grupo.
Enquanto isso, e em recente entrevista ao portal italiano GPOne , Stefan Pierer garantiu que o projeto de MotoGP da KTM, onde todos os anos é aplicado um orçamento de muitas dezenas de milhões de euros, não irá sofrer alterações.
Aliás, nas conferências de imprensa antes do Grande Prémio da Tailândia de MotoGP, o piloto Brad Binder referiu mesmo que foi informado de que nada se vai alterar e a sua função é de garantir as vitórias em pista ao domingo de forma a permitir à KTM vender mais motos à segunda-feira. Uma forma de contribuir para a boa saúde financeira e prestígio da marca austríaca.
Este é mesmo um momento bastante delicado na vida do grupo Pierer Mobility. Recordamos que Stefan Pierer adquiriu a KTM em 1992 depois da marca ter ido à falência. Depois de reorganizar a empresa, sobraram 150 empregados e as vendas anuais eram de cerca de 6.000 motos.
Depois de um reajustamento no projeto desportivo, para reagir à crise financeira que seguiu ao colapso da Leman Brothers e que levou à saída da KTM como equipa de fábrica das categorias 125 cc e 250 cc de Grande Prémio depois de 2008, a marca iniciou uma trajetória ascendente nas vendas e lucros.
O grupo Pierer Mobility começou então a transformar-se numa força europeia de respeito, quer no mundo das motos de estrada, quer nos modelos off road.
A aquisição de marcas como a Husqvarna, a GasGas e, mais recentemente, a MV Agusta, pareciam indicar que a empresa estava de boa saúde. Porém, com resultados operacionais negativos, ‘apertar o cinto’ é agora o foco da empresa sob a liderança de Stefan Pierer.
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