A modalidade passou por maus momentos já neste século, mas o interesse voltou a crescer em 2015. Na Yamaha Motor Corporation USA, Keith McCarthy começou a receber encomendas de motores da MT-07 de algumas equipas. Aí pensou em conceber peças especiais para a competição e iniciaram a colaboração com a Vance & Hines para desenvolver as cabeças e com a Web Cam para as árvores de cames. Depois de testarem diversos escapes, optaram por trabalhar com o Graves.
No final do desenvolvimento o motor havia crescido para os 750 cc, o limite imposto pelo regulamento para os motores de produção alterados. Para fazer o quadro, McCarthy contactou os californianos da C & J mas não ficou convencido. Mas ditou o destino que em “casa” alguém estivesse a pensar em algo semelhante. Derek Brooks, manager da linha de produção da YMUS e ex-piloto de dirt track, queria fazer uma moto especial para exibir na AIMExpo e na altura já havia trocado umas ideias com Jeff Palhegyi. O atelier de design de Palhegyi tem trabalhado com a YMUS na concepção de modelos especiais e de protótipos.
Romper a tradição
Da troca de ideias entre os três nasceu uma moto que rompia com o tradicional na modalidade. «Eu fui responsável pela geometria da moto», diz McCarthy, «Um dos meus objectivos era ter uma verdadeira caixa de ar, e não apenas os filtros K&N espetados nos corpos de acelerador. Fui ter com o Chris Lessing da Graves Racing para me ajudar com os links da suspensão traseira e com as afinações do amortecedor, que foi inspirada na velocidade». Brooks reforça: «A última coisa que queria era construir uma tradicional moto de flat track. Senti que era altura de progredir com o estilo. Trouxemos elementos de design da MT- 07 na área do depósito e até alguns aspectos de uma moto de motocross no guarda-lamas traseiro.
Mas o principal elemento do design era conjugar todo o corpo num design harmonioso, em vez de componentes elementares e individuais». A DT-07, foi mostrada na AIMExpo de 2015, a maior exposição de motos da américa. Muito apropriadamente, foi decorada com uma pintura réplica da TZ750 com que Kenny Roberts venceu a Indy Mile em 1975. Mas não era uma mera moto de exposição. «Levámo-la para fazer alguns testes e conseguimos logo belos resultados», diz Mc Carthy. «Eu queria ir para o nível seguinte, por isso trabalhámos com a Southland para fazer alguns quadros, algumas unidades que nós pudéssemos usar em flat track, ou vendê-los».
Primeira vitória da MT-07 DT
Estava tudo encaminhado para a primeira vitória da Yamaha MT-07 DT. Faltava o piloto. De 2016 para 2017 os regulamentos do American Flat Track foram alterados, estabelecendo três categorias: AFT Twins, a categoria rainha, com motores entre 649 e 900 cc de dois cilindros (os motores de produção com menos de 750 cc, como é o caso do da MT-07, só podem ser aumentados até 750 cc); as AFT Singles, com motores monocilíndricos de 250 a 450 cc, e destinada aos pilotos mais jovens; e ainda as AFT Production Twins, que são o degrau seguinte para os pilotos das AFT Singles, e que apenas permite motores de dois cilindros de produção, entre os 649 e 800 cc.
Tim Estenson, um empresário de sucesso, nunca esqueceu as suas raízes no flat track. Em 2016 deu a mão a um jovem piloto e em 2017 reforçou a sua presença no campeonato com uma equipa de dois pilotos, um nas AFT Twins e outro nas AFT Singles. Conseguiu a vitória nos X Games com Samy Halbert e conquistou o título das Singles com Kolby Carlile. E não ficaria por aí.
Tommy Hayden na equipa
Tommy Hayden, o mais velho dos irmãos de Nicky Hayden, é o director desportivo da Estenson Racing. Apesar de mais conhecido pelos resultados no campeonato americano de superbike, Hayden sempre teve um pé no flat track, já que o patriarca da família Hayden, Earl, correu na modalidade durante 20 anos.
Foi sob a sua batuta que o piloto JD Beach conseguiu a primeira vitória da MT-07 DT, e a primeira em 30 anos para a Yamaha na categoria rainha do flat track. Beach foi o vencedor da Red Bull Rookies Cup em 2008 e Campeão Americano de Supersport em 2015.
Variedade, inconstância e dificuldades
JD Beach e Jake Johnson conseguiram bons resultados em 2019 com a MT-07 DT. Beach venceu por duas vezes e no Buffalo Chip TT conseguiram mesmo uma dobradinha para a equipa. Mas a par de alguns sucessos, debateram-se com dificuldades.
O American Flat Track da actualidade apresenta desafios diferentes, com quatro tipos de corridas, três delas em ovais – milha, meia milha e short track (um quarto de milha) – e ainda os TT (que também neste caso significam Tourist Trophy), realizados numa pista com uma curva para a direita e um salto. E o piso não é constante ao longo de um evento. Hayden refere que para além dessa grande variedade, a inconstância das pistas torna o desenvolvimento da MT-07 DT mais complicado.
O desenvolvimento continua
A moto continua a evoluir. Mas há coisas que não podem ser alteradas. Por regulamento, as jantes são de 19” e os pneus são obrigatoriamente os Dunlop DT4 para as AFT Twins, o que acaba por influenciar o desenvolvimento. O segredo é achar o máximo de tracção possível e isso consegue- se através do ajuste das suspensões, do quadro e até da entrega de potência. Não obstante das vitórias em 2019, nenhum dos pilotos de Tim Estenson terminou dentro do top10, por isso, aumentou o investimento para 2020.
Confiantes no progresso
Tommy Hayden também está confiante no progresso: «Evoluiu muito. O melhor deste ano é que aumentámos o nível de sofisticação em tudo o que fazemos no que diz respeito à medição da moto, à recolha de dados, software de geometria, o modo como testamos os motores no banco de ensaio e a nossa capacidade de fazer rapidamente protótipos de componentes em casa. Como equipa, acho que avançámos muito no modo como trabalhamos em conjunto, como grupo, e na nossa disciplina com o nosso processo e fluxo de trabalho muito mais estruturado. Temos documentação mais precisa de tudo o que se passa, de todas as alterações que fazemos, de todos os componentes que desenvolvemos. Lidamos com factos e números reais em vez de, diria, vagas estimativas».
O piloto JD Beach já nota diferenças. «Acho que ao longo do ano passado aprendemos muito sobre a moto, mas também cometemos erros. No início deste Inverno tínhamos um plano melhor e mais tempo com a moto. Passou de ser uma moto que eu temia pilotar, para uma moto que é muito divertida de conduzir. Antes, era quase como se ela fizesse o que tinha a fazer, e nós realmente não conseguíamos influenciá-la e fazê-la curvar. Isso melhorou bastante, a moto responde muito melhor à nossa pilotagem, e conseguimos puxar mais. Quando fazemos alterações na moto, conseguimos senti-las e antes não era assim. Ainda não começámos as corridas, mas acho que vai ser realmente interessante. Também temos um plano melhor para quando as coisas não correrem tão bem».