Texto Vitor Martins • Fotos Bruno Ribeiro, Diogo Alexandre, Bruno Barata, Carlos Martins
Por trilhos algarvios e alentejanos
O Nosso Dakar já é uma tradição no mês de Janeiro, coincidindo com o dia de descanso do rali Dakar. Tendo mais uma vez como base o Vila Galé Ampalius em Vilamoura, foram 401 os participantes na edição do início deste ano, que foi a sétima do evento.
Tal como no ano anterior, a meteorologia foi clemente. Não choveu, mas as temperaturas, especialmente nas primeiras horas da manhã, convidavam a ficar mais um bocadinho na cama. Mas assim que começava a etapa a temperatura subia por força do exercício físico em cima da moto. E a ausência de chuva na região nas semanas anteriores resultou em muito pó na maioria dos troços, dificultando por vezes a progressão da caravana.
A primeira etapa, denominada SS1 Touratech teve o seu arranque em Castro Marim e terminou 72 km depois no Centro Multiusos do Azinhal, com um percurso fluído e rolante em boa parte. Infelizmente, a manhã começou com a triste notícia da morte de um participante logo após o arranque, vítima de doença súbita que resultou em acidente numa rotunda. Depois do almoço, a segunda etapa, a SS2 Honda, arrancou do Azinhal para percorrer 120 km pelo barrocal do sotavento algarvio, até perto de São Brás de Alportel.
Foi um percurso muito mais sinuoso e poeirento que o da manhã, requerendo muita mão-de-obra, especialmente para quem conduzia as motos maiores. Piso duro, com muita pedra e pó exigiu alguma perícia, mas com mais tombo, menos tombo, a caravana regressou ao hotel em tons de castanho, devido ao imenso pó. Apesar da diferença de andamentos entre os mais e os menos experientes, era quase inevitável não seguir no pó de alguém: abrandar para nos distanciarmos do grupo da frente leva-nos a ser apanhados pelo grupo de trás, e se tentarmos ir mais rápido, apanhamos alguém mais à frente, e o respectivo pó.
Não se tratando de uma corrida, o melhor é ir desfrutando a um ritmo seguro. A tal diferença de andamentos acaba por levar às inevitáveis ultrapassagens, em que nem sempre ultrapassado e ultrapassador têm o comportamento mais correcto: o primeiro deve facilitar, o segundo deve fazê-lo sem riscos para ambos.
Depois de um duche retemperador e antes do jantar, aconteceu um dos momentos esperados da cada Nosso Dakar, que é a ligação em directo ao bivouac do rali Dakar, a cumprir o seu dia descanso, para falar com os pilotos portugueses. Porém, tal com aconteceu no ano passado, a ligação com a Arábia Saudita não foi possível. A terceira etapa, a SS3 Garmin, teve o seu local de partida em Foz do Ribeiro, já na fronteira entre o Algarve e o Baixo Alentejo e os quase 200 km de percurso levaram os participantes em direcção a norte, em trilhos cada vez mais rolantes até apanhar piso um pouco mais arenoso mas compacto, a caminho do almoço de encerramento do evento nas Minas do Lousal.
Os primeiros passaram sem grande problema, mas depois das primeiras dezenas de motos, o piso ficou completamente revolvido e transformou- se em areia, e quem vinha mais para trás passou por algumas dificuldades nesta zona final do evento, para ganhar o apetite para o almoço que marcaria o final do XII O Nosso Dakar. Porém, em vez do clima de festa para o encerramento do 7.º O Nosso Dakar, foi a consternação e a tristeza que inundaram os participantes, ao saber do fatídico acidente de Paulo Gonçalves na sétima etapa do Dakar na Arábia Saudita.
Foi um ponto final que ensombrou mais um passeio que pretende ser um fim-de-semana de convívio nos trilhos e fora deles, tendo batido um recorde ao juntar quatro centenas de participantes com as mais variadas montadas, incluíndo uma vetusta Yamaha XT 500, de 1978, conduzida por António ‘Toni’ Silva da Motoni.
Por curiosidade, o Top 5 dos modelos com maior número de presenças foi:
- BMW R1200/1250 GS e GSA (62 motos)
- Honda Africa Twin 1000/1100 (58)
- BMW F800 GS/GSA (32)
- KTM 950/990 (25)
- Husqvarna 701 Enduro (22)
O participante mais velho tinha 65 anos, e o mais novo apenas 19.