Passaram apenas três anos desde que vimos pela última vez o algarvio Ruben Faria aos comandos de uma moto no Dakar. O piloto de Olhão, que foi segundo em 2013, é agora o novo General Manager da formação oficial da Honda na prova, a Monster Energy Honda, cargo para o qual a sua experiência e carreira no mundo dos Rallyes ‘encaixa’ na perfeição.
Já em Jeddah a preparar o arranque do primeiro Dakar desenhado em solo da Arábia Saudita, Ruben Faro é o espelho do optimismo da Honda, que preparou esta participação ao pormenor.
‘Todos nós na equipa trabalhámos de forma muito intensa, dando tudo para que os cinco pilotos da equipa estejam ao mais alto nível neste Dakar. Fizemos muitos testes e o nosso ‘staff’ trabalhou igualmente de forma intensa no Japão. Nenhum de nós, incluindo os pilotos, teve qualquer período de descanso ao longo do ano. Em termos de preparação física e ausência de lesões, este parece ser o nosso melhor ano e mesmo o Kevin recuperou da lesão contraída em Marrocos numa equipa onde todos estão preparados para este Dakar. A moto está igualmente ao nível do desafio exigido pela Arábia Saudita, num Dakar onde tudo é novo e do qual pouco ou nada sabemos. Será por isso uma descoberta diária.
O Dakar 2020 mudou por completo de cenário e todos os pilotos e equipas vão começar a prova em pé de igualdade. Como se prepara uma participação onde virtualmente tudo é desconhecido?
‘É verdade. A equipa esteve a preparar uma corrida que é quase totalmente uma folha em branco, sem praticamente qualquer informação até ao momento em que a ASO publicou alguns dados sobre a corrida. As semanas mais recentes têm sido muito intensas, preparando o Dakar sob todas as formas possíveis. A ASO aproveitou muito bem o facto da corrida ter chegado a um novo pais, a um novo continente para fazer um rallye onde todos começam com a mesma informação.’
Existem algumas novidades no Dakar deste ano, como as etapas ‘Super Maratona’ ou os ‘road-book’ pré-pintados e que pelo menos em quatro etapas serão entregues nessa mesma manhã, mesmo antes do arranque da etapa. Como pode isso afectar os pilotos da tua equipa?
‘Penso que vai afectar da mesma forma todas as restantes equipas. Existem muitas novidades e é muito bom que surjam tantas melhorias nos Rally-Raid. Veremos como se desenrolam as coisas e como podemos enfrentar e resolver qualquer dificuldades que nos possa surgir, mas vamos nos tentar adaptar ao novo sistema de corrida. Em muitos dias de corrida um pouco de sorte será necessária mas trabalhamos de forma intensa para que tal não seja necessário.’
Analisando a equipa. Que qualidades encontras em cada um dos teus pilotos? O que pensas daquele que é o mais experiente?
‘O Joan Barreda é um excelente piloto, mostrou ao longo da sua carreira que é muito rápido e que continuar a ser dos mais velozes. É actualmente o piloto com maior número de vitórias em especiais e é por isso que ele está connosco, cumprindo o seu sétimo Dakar com a equipa. Ele ainda não venceu mais está sempre na corrida para a vitória. Ele é bastante calmo e penso que estamos a gerir a temporada correctamente retirando a pressão dos seus ombros. Penso que ele está muito bem depois da temporada que fez e se chegar ao final penso que estará no pódio.’
Um daqueles que esteve perto de vencer a corrida, com um segundo lugar em 2018 e um quinto em 2019 após alguns incidentes que afectaram a sua performance final é o Kevin Benavides. Como está ele?
‘O Kevin foi o nosso melhor piloto nos dois últimos anos. No ano passado ele conseguiu terminar em quinto apesar de alguns problemas. Ele chega em bom momento, totalmente recuperado do acidente em Marrocos. O Kevin é um piloto sobre o qual deposito muitas esperanças e que, se nada de anormal acontecer, tenho a certeza que estará igualmente a lutar pelo pódio. Está bastante descontraído e sente-se bem. É agora um piloto mais maduro e penso que ele tem tudo para um grande Dakar 2020.
No ano passado também o Ricky Brabec fez um excelente Dakar. Sem grandes alaridos e deixou de ser apenas mais um piloto para se transformar num dos candidatos a vencer a corrida.
‘Não se esqueçam do Ricky! No último Dakar, quando ele teve que enfrentar um contratempo, estava na primeira posição, liderando a corrida por mais de sete minutos. No ano passado ele deu um grande passo em frente e mostrou ser um dos pilotos que pode vencer o Dakar. Isto foi consolidado em 2019 e acreditamos que ele vai estar nas mesmas condições para atacar o Dakar 2020, num país que pode ser muito adequado a ele. Não se esqueçam que depois do último Dakar o Matthias Walkner deu-me os parabéns pelo Brabec, dizendo-se que era um piloto muito complicado de seguir!’
Tens dois pilotos jovens na equipa; um é o Nacho Cornejo, que nos dois últimos Dakar terminou sempre entre os dez primeiros. Talvez ele possa deixar a sua marca na segunda semana da prova, onde existirá muita condução nas dunas.
‘O Nacho é um piloto que pessoalmente gosto muito; ele é um tipo porreiro e entre as suas aptidões está a navegação ‘fora de pista’, especialmente na areia. Ele pode ter algumas dificuldades nas zonas mais pedregosas, devido ao seu peso onde por ser demasiado leve a sua moto ‘mexe’ muito e retira-lhe confiança. Mas tem outro ponto a seu favor: quanto mais longas são as corridas melhor ele termina. Se o Nacho terminar entre os cinco primeiros ficará muito satisfeito.’
A equipa tem um novo piloto em 2020, que estará no lugar do Paulo Gonçalves: Aaron Maré. O que vês no piloto sul-africano?
‘Com Rick, Joan, Kevin e Nacho estamos muito bem. O Paulo deixou a equipa este ano e pensámos que tínhamos que manter a equipa com cinco pilotos. Por isso incorporámos o Aaron Maré, um piloto muito jovem, mas desejoso de aprender. Ele tem um carácter excelente e irá com toda a certeza aprender rapidamente e ajudar a equipa com um bom trabalho. Será o seu primeiro Dakar e a sua quarta corrida no deserto, tem que enfrentar a mesma sem cometer erros, ou cair, tentando ao mesmo tempo ajudar a equipa.’
Muito recentemente estavas aos comandos de uma moto como piloto. É eventualmente por isso mais fácil para ti perceber o que os pilotos e a equipa necessitam?
‘Bem, talvez seja uma ajuda, mas como sempre, quando estás do outro lado, vez tudo de forma distinta. Sim, sei o que eles necessitam, mas também sei que por vezes não é fácil ter tudo aquilo que nos pedem. Tentamos dar o nosso melhor e estamos todos na equipa por esse mesmo motivo.’
Como geres uma equipa com mais de trinta pessoas envolvidas?
‘Não é de todo fácil. É uma equipa com elementos de diversas nacionalidades, culturas distintas e tens sempre que gerir e satisfazer todas as necessidades da equipa. O importante é estar aqui, a apenas três dias do arranque do Dakar, com tudo preparado, muito trabalho feito por antecipação, dando-lhes as ferramentas para que seja possível cumprirem com sucesso as suas funções. Isso é mesmo o mais importante e esperamos poder chegar ao final do Dakar satisfeitos com o trabalho que a equipa fez.’