Enquanto motociclistas e utilizadores das vias rodoviárias, provavelmente muitas vezes não pensamos nisso, mas a verdade é que existem razões, umas mais curiosas do que outras, para que o Código da Estrada português defina que devemos conduzir do lado direito da faixa de rodagem. Ou seja, o que normalmente definimos como conduzir à direita.
Mas existem ainda hoje alguns países onde se conduz à esquerda. Será que esses países é que estão certos e nós estamos errados?
Normalmente pensamos à partida que eles, os que conduzem do lado esquerdo, estão errados, enquanto nós, que conduzimos do lado direito, estamos certos. E na verdade os números parecem reforçar essa ideia, pois atualmente apenas se continua a conduzir do lado esquerdo da estrada em apenas 34% dos países. Estamos, por isso, em maioria.
Mas, como assim “continua a conduzir do lado esquerdo”?
Por acaso alguma vez na história conduzimos do lado esquerdo e, entretanto, alguém decidiu que devíamos conduzir do lado direito? Afinal quem é que está a conduzir do lado certo?
Na verdade, para entendermos melhor o que se passou e como chegámos à situação atual, e sendo esta uma primeira razão para conduzirmos num determinado lado da estrada, temos de viajar no tempo até à época dos Romanos.
Normalmente destros (pessoas que usam preferencialmente a mão ou perna direita), os cavaleiros ou os cocheiros usavam a mão direita para usar o chicote, e com a mão esquerda controlavam as rédeas para dirigir os cavalos. Por essa razão, e para resguardar os peões, circulavam do lado esquerdo da estrada dando maior margem no lado direito.
Era por isso mais lógico circular pelo lado esquerdo nas estradas de calçada regulamentadas, numa época em que se assistiu ao enorme desenvolvimento do comércio e transporte de produtos agrícolas.
Outra razão plausível aponta para a ideia de que os cavaleiros medievais, que também eram, na sua generalidade, destros, brandiam a espada ou lanças com essa mão.
Naturalmente nos caminhos ou estradas defendiam-se dos ataques, não facilitando o acesso ao seu lado débil ou desprotegido quando se cruzavam com outros cavaleiros. Faziam com que no momento em que se cruzassem com outro cavaleiro este ficasse do lado da sua arma. Para isso tinham de circular do lado esquerdo na estrada obrigando quem se cruzava a circular pela direita.
E temos ainda uma terceira razão para inicialmente se utilizar o lado esquerdo da estrada.
Tudo porque o Papa Bonifácio VIII, quando instituiu a celebração do Jubileu católico no ano 1300, ordenou que todos os peregrinos que se dirigissem a Roma para participar nessa celebração teriam de circular do lado esquerdo da estrada.
Mas se em anos mais longínquos se circulava do lado esquerdo, como é que passámos a conduzir do lado direito da estrada na grande maioria dos países?
De acordo com historiadores, os únicos que tinham direito a circular pelo lado esquerdo da estrada eram os Patrícios, os aristocratas da Roma Antiga. Os plebeus, ou pessoas mais pobres, tinham de lhes ceder passagem e utilizar o lado direito.
Entretanto chegámos a 1791 em plena Revolução Francesa. Em maio desse ano, num discurso de René Louis de Girardin, o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” torna-se no lema da revolução. Já anteriormente estes três conceitos tinham sido citados, mas noutros contextos que não o da revolução.
Para o interesse deste artigo sobre o lado em que conduzimos, o que nos interessa destacar neste famoso lema é o conceito de Igualdade ligado à revolução francesa.
A partir daquele momento os privilégios reservados às pessoas consideradas mais importantes ou aristocratas, como circular pelo lado esquerdo da estrada, foram retirados. As invasões napoleónicas acabaram depois por instituir a circulação pelo lado direito em quase todos os países na Europa.
E dizemos “quase” todos os países da Europa pois, como em tantas outras ocasiões, Inglaterra, nação que resistiu às invasões de Napoleão, manteve-se fiel à tradição de circular pelo lado esquerdo, uma tradição que depois seria exportada às suas colónias e à Commonwealth.
E isso, de acordo com rumores da altura, terá levado Napoleão Bonaparte a forçar a implementação da circulação do lado direito, um hábito que continuou a ser aplicado mesmo após a saída das forças francesas dos países invadidos.
Seja como for, hoje em dia temos 34% dos países a conduzir do lado esquerdo, enquanto 66% conduzem do lado direito. Se tivermos em conta o número aproximado de quilómetros de estradas asfaltadas que existem em todo o planeta, então verificamos que cerca de 28% da população conduz do lado esquerdo e 72% conduz pela direita.
Em Portugal instituiu-se a condução pelo lado direito da estrada a 1 de junho de 1928. Grande parte das colónias portuguesas também adotou esta forma de circulação, com algumas exceções: Macau, Goa e Moçambique. Refira-se ainda que no continente europeu o último país a alterar o lado de circulação foi a Suécia: só em 1967 é que se passou a conduzir do lado direito.
A nível mundial, atualmente apenas se conduz do lado esquerdo no Reino Unido, nas antigas colónias britânicas, ou em países onde a influência britânica foi muito forte, como é o caso do Japão.
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