Quando no mundo da indústria da moda se fala em “haute couture” rapidamente associamos a algo que é feito de forma exclusiva, utilizando materiais premium. São produtos exóticos e feitos de forma personalizada. Agora, a Schuberth acaba de aplicar este conceito ao fabrico de capacetes, e para isso adaptou por completo o seu departamento de alta performance para conceber o novo modular C5 Carbon.
Com sede em Itália, a Schuberth Performance, que, como o nome indica dedica-se aos capacetes de alta performance (competição), durante anos dedicou-se apenas ao fabrico de capacetes de Fórmula 1, e, desde 2019, produzem também capacetes para outras categorias auto sendo reconhecidos por pilotos campeões como Max Verstappen, como os melhores.
Uma história que começou inclusivamente com o heptacampeão Michael Schumacher, que, recordamos, dessa parceria resultou o primeiro capacete “racing” de moto, o SR1, com um spoiler traseiro ajustável, e mais tarde evoluído para o SR2.
Dessa experiência nasceu a vontade de aplicar a tecnologia de F1 aos capacetes de moto, que até agora eram fabricados em exclusivo na Alemanha.
Neste caso estamos a falar do novo capacete modular C5 Carbon, uma proposta que não é para todas as carteiras, e a Schuberth assume isso, e que funciona mais como exemplo do “know-how” da marca alemã na utilização de fibra de carbono.
Aproveitando a visita às novas instalações da Schuberth Performance, um complexo altamente pensado e criado para garantir que os trabalhadores se sentem como “em casa”, pois um trabalhador feliz obtém melhores resultados em funções tão meticulosas e particulares como o fabrico deste capacete, ficámos a conhecer de perto o novo C5 Carbon, uma proposta que se destaca pela sua calota em fibra de carbono que é totalmente fabricada em autoclave e de forma manual.
Para conseguirem chegar ao produto final, a Schuberth Performance começou este projeto de adaptar tecnologia F1 aos capacetes de moto em maio de 2021. Alguns anos depois, finalmente atingiram o patamar desejado.
De acordo com Alberto Dall’Oglio, CEO da Schuberth Performance, a maior dificuldade foi conseguirem encontrar o equilíbrio entre leveza, flexibilidade e resistência específica de um capacete de moto, mantendo uma qualidade acima de tudo aquilo que será possível encontrar no segmento dos capacetes modulares.
Nesta fábrica italiana, e assim que entramos nas instalações recebidos pela cúpula de responsáveis da Schuberth, incluindo Matteo Schiepatti, responsável pela divisão moto da marca, e Christoph Klotzbach, CEO da Schuberth, rapidamente a nossa atenção é fixada em todo o trabalho manual que é feito no fabrico do C5 Carbon.
Na primeira estação de montagem, um trabalhador inicia o processo de fabrico do capacete recortando com laser as telas de fibra de carbono de forma a criar um kit de 30 peças individuais.
As telas, transportadas em formato de rolo, são fornecidas pela Taio, empresa japonesa especializada neste tipo de material e mundialmente reconhecida como líder do setor. A fibra de carbono é fornecida pré-impregnada com resina, e por essa razão tem de ser mantida a -18 graus Celsius para não ativar a resina.
Manusear as peças do kit obriga ao uso de luvas de látex, e existem dois tipos de fibra: estrutural de 430 gramas e estética de 200 gramas. Cada tipo de fibra de carbono é protegida por uma película colorida, com cor específica que ajuda a diferenciar qual o tipo de fibra de carbono que estamos a manusear.
Anos de experiência e desenvolvimento permitiram à Schuberth Performance descobrir como “entrelaçar” as diferentes peças de fibra de carbono de forma a garantir rigidez estrutural, mas também a imprescindível flexibilidade. É necessário seguir uma determinada sequência ou ordem na forma como se aplicam os dois tipos de fibra de carbono para gerar um capacete modular C5 Carbon perfeito.
Na segunda estação da linha de montagem, um outro especialista (ou outra) ocupa-se do processo de laminação. Ou seja, posicionar, num molde em fibra de carbono extremamente liso que encaixa noutro molde em alumínio maquinado (só pode ser usado cerca de 200 a 300 vezes antes de ser destruído!) cada uma das peças do kit de fibra de carbono.
Depois de cerca de 1H30 a montar este puzzle de forma minuciosa, o capacete C5 Carbon começa a parecer-se com um produto mais próximo daquele que podemos comprar numa loja.
Mas antes disso tem de passar pelo processo de autoclave, na estação seguinte da linha de montagem.
O grande “forno”, fabricado de acordo com as especificações exclusivas da Schuberth Performance e sistemas de controlo de emergência eletrónicos que permitem detetar rapidamente qualquer falha na pressão ou temperatura, aquece de forma progressiva até aos 126 graus Celsius, e o molde, que anteriormente foi envolto em camadas de plástico e submetido a vácuo para evitar bolhas ou defeitos, permanece no interior da autoclave a uma pressão de 7,5 bar e durante um período de 4 horas, incluindo o tempo de arrefecimento progressivo.
O resultado deste processo de “cozedura” lenta é uma calota extremamente rígida, mas ao mesmo tempo muito leve, e com um equilíbrio perfeito.
Aliás, para nos provar isso, Alberto decidiu posicionar uma calota “despida” do C5 Carbon em cima de uma mesa e apoiada no seu topo. Sendo um objeto redondo, se o equilíbrio não for perfeito a calota iria descair para um dos lados. Neste caso é o oposto! Permanece imóvel e perfeitamente equilibrada.
Já arrefecido, o “nosso” C5 Carbon segue para a única máquina automatizada usada para fabricar a calota. É uma máquina de corte a jato de água, e que, mesmo não sendo uma inovação, pois até na Schuberth em Magdeburg utilizam mecanismo semelhante, neste caso a pressão da água é calibrada de forma precisa e específica, recortando as formas finais do capacete de forma perfeita, incluindo os pequenos orifícios onde encaixam no final uma série de peças e componentes.
Segue-se então o controlo de qualidade, onde numa área com iluminação adicional, um especialista verifica o estado da fibra de carbono. Neste caso todas as fibras de carbono, dispostas em sentidos específicos de acordo com a flexibilidade e rigidez da fibra, têm de coincidir! E, ao contrário do que vemos noutros capacetes em fibra de carbono, no caso do C5 Carbon todas as fibras seguem exatamente a mesma sequência, resultando numa peça monolítica.
Caso passe na inspeção, e Alberto Dall’Oglio destaca que apenas 5% dos capacetes chumbam no controlo de qualidade, o capacete segue para um parceiro da Schuberth Performance que aplica a camada de verniz que confere o brilho fantástico que podemos ver no C5 Carbon.
Este modular não conta com qualquer tipo de decoração, toda a fibra de carbono está à vista, e o verniz é aplicado por uma empresa que apenas trabalha com fabricantes como Ferrari ou Lamborghini.
No fim, regressa à fábrica da Schuberth Performance, onde são aplicados todos os elementos como forro, cinta de retenção, viseiras interna e externa, e recebe a pré-instalação para o motociclista instalar o intercomunicador SC2 (opcional).
Refira-se que apenas a calota em fibra de carbono é diferente em comparação com o normal C5. Tudo o resto é igual, incluindo a queixeira em plástico, pois, como nos confessou Matteo Schiepatti, não existe vantagem em fabricar a queixeira em carbono pois a mesma é já bastante leve.
E esta tecnologia de F1 será aplicada a outros capacetes da gama alemã?
A esta pergunta que a Revista MotoJornal fez no final da visita, Alberto Dall’Oglio, depois de um acenar afirmativo do Dr. Christoph Klotzbach, respondeu que sim, será possível no futuro a curto prazo ver esta mesma tecnologia exótica de fabrico em fibra de carbono ser aplicada a outros modelos.
Quais? Esse é um segredo que ficou por desvendar. Mas se tivermos de adivinhar, provavelmente o integral sport-touring S3 será o “candidato” mais forte a passar pelas mãos da Schuberth Performance.
E sentimos diferença ao usar o C5 Carbon?
Como parte desta visita às instalações italianas em Schio, tivemos a oportunidade de testar dinamicamente as primeiras unidades fabricadas do novo modular exótico da marca alemã. Aos comandos de uma KTM 1290 Super Adventure, fizemo-nos à estrada com o C5 Carbon “ainda fresco” na cabeça.
A primeira sensação é de que realmente é bastante mais leve do que outros modulares, e, principalmente, do que o normal C5. Na verdade a balança revela que o C5 Carbon tem uma vantagem de 200 gramas. Um valor que, à primeira vista, pode parecer pouco, mas que na verdade é fantástico, e assim que manuseamos o capacete e conduzimos uma moto com ele na cabeça percebemos a diferença para melhor.
Com o forro a manter a qualidade e conforto que já reconhecemos no C5, esta variante Carbon destaca-se claramente pela menor inércia dinâmica.
Quando temos de olhar rapidamente de um lado para o outro, o nosso pescoço não sofre tanto esforço rotacional, e o C5 Carbon quase que nem se sente na cabeça. Notei maior espaço no interior para as bochechas, e por isso mais confortável do que tinha sentido o C5. De acordo com Matteo Schiepatti, isso poderá dever-se à flexibilidade específica da calota do C5 Carbon.
Seja o que for, a verdade é que o conforto de utilização é superior. E após mais de duas horas de utilização em ritmo normal, destaco também a estabilidade e sentir o pescoço menos “cansado”.
O mecanismo da queixeira, bem posicionado e fácil de acionar, mesmo com luvas calçadas e em andamento, a viseira interior escurecida que não distorce a visão, ou a facilidade com que retiramos e recolocamos a viseira exterior para limpeza, são tudo pontos positivos a destacar neste C5 Carbon.
A questão do “milhão de euros”: O C5 Carbon vale os 1499€ que a Schuberth pede?
À primeira vista, podemos ser tentados a dizer que é um valor exagerado.
Mas a verdade é que depois de ver de perto o cuidado com que cada C5 Carbon é fabricado, a tecnologia de fibra de carbono aplicada, os acabamentos perfeitos em que não existe qualquer zona de fibra esticada, e, principalmente, a leveza deste modular, fica difícil não justificar este preço.
Até porque para proteger a nossa cabeça quando andamos de moto não há euros que cheguem!
E pelos vistos os motociclistas parecem já ter “comprado” a ideia de um capacete de moto com tecnologia F1. A Schuberth Performance confirma que já tem a produção anual toda vendida!
O Schuberth C5 Carbon em números:
– Desenvolvido ao longo dos últimos 3 anos
– Calota composta por 30 peças individuais de fibra de carbono. Para comparação, um capacete de F1 é composto por cerca de 100 peças individuais
– O peso varia de 1450 a 1600 gramas (XS ao XXXL) com pré-instalação de intercomunicador. Se instalar os acessórios, o peso aumenta em 30 gramas
– É 200 gramas mais leve que o C5 convencional
– Tolerância máxima de 5 gramas de desvio em relação ao peso ideal
– 2 tamanhos de calota disponíveis
– Fibra de carbono é guardada a -18 graus Celsius
– Apenas 5% de capacetes não passam no controlo de qualidade final
– O molde em fibra de carbono apenas pode ser usado para fabricar 200 a 300 capacetes, e é limpo meticulosamente cada vez que é utilizado
– A calota demora 1H30 a ser montada à mão
– A calota é fabricada em autoclave a 7,5 bar de pressão e 126 graus Celsius
– O processo de cura em autoclave demora 4H00, sendo que este tempo já inclui o processo de aquecimento e arrefecimento progressivos
– A produção anual é de 3000 capacetes, mas o objetivo será chegar aos 10.000 capacetes
– O preço do C5 Carbon é 10 vezes menor do que o de um capacete de F1… sem personalização!
Para mais informações sobre o novo capacete Schuberth C5 Carbon e outros modelos da gama alemã, pode contactar o importador nacional, a Golden Bat, clicando aqui !
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