A 450MT que foi inicialmente apresentada na EICMA em novembro de 2023, e que ‘aterrou’ em solo nacional para uma estreia no GP de Portugal de MotoGP, e mais tarde, em plena Expomoto em Matosinhos voltou a deixar-se ver e tocar pelos motociclistas portugueses, é uma das mais aguardadas trail de 2024.
E a CFMoto sabe que tem aqui uma pequena (não pelas suas qualidades) joia de duas rodas.
Foi assim, e no momento em que a primeira fornada de unidades começam a ser entregues aos clientes lusos pelo importador CFPT e respetivos concessionários, que tivemos a oportunidade de viajar até Penamacor, onde no Moinho de Maneio, propriedade do nosso bem conhecido e jornalista especialista em “off road” Rui Marcelo e da sua esposa, Anabela, fizemos as primeiras apresentações com a 450MT.
O objetivo definido para um longo dia aos comandos desta novidade era descobrir as suas capacidades em diversos cenários, em asfalto e fora dele, tendo a Serra da Estrela como ‘obstáculo’ de grandes dimensões, mas de uma beleza natural de cortar a respiração.
O primeiro contacto com a CFMoto 450MT é muito interessante de dois pontos de vista. O primeiro, ao nível da perceção da qualidade e acabamentos.
Neste particular, a marca chinesa não desaponta.
Encontramos painéis bem integrados, materiais agradáveis ao toque, e pormenores que ajudarão em determinados momentos como as capas de borracha removíveis nos poisa-pés para maior aderência da bota em fora de estrada, o ajuste fácil do para-brisas em altura (até 50 mm) que oferece boa proteção contra o vento, as proteções de mão fabricadas num plástico que parece indestrutível, ou ainda pedal de travão que recolhe em caso de impacto.
O segundo ponto de vista é que apesar de ser uma ‘quatro e meio’, as dimensões estão bem conseguidas e ajudam a criar uma aparência elegante e moderna – não fosse o design responsabilidade do estúdio Kiska – de uma moto de porte substancial, mas ajustado ao segmento, sem cair no exagero.
Passar a perna por cima do assento não é complicado.
De série está posicionado a 820 mm de altura do solo, mas é esguio o suficiente para quem tem perna curta chegar ao chão para apoiar nas manobras. É possível reduzir esta altura alterando a fixação do amortecedor à biela. Tarefa que pode ser feita em casa, e que, quando terminada eficazmente, reduz o assento para uma altura de 800 mm ao solo.
MOTOR DIVERTIDO. CICLÍSTICA AFINADA
Sentado aos comandos da CFMoto 450MT descubro uma posição de condução agradável. Poisa-pés posicionados de forma a garantir uma postura descontraída das pernas, guiador bastante largo, talvez mais baixo do que o ideal para um condutor mais alto como eu, e um assento que une perfeitamente com o depósito de 17,5 litros de capacidade.
Um toque na ignição e o motor bicilíndrico de 449 cc acorda para a vida com uma sonoridade rouca, grave e viciante a emanar da ponteira de série. O som torna-se numa característica que, claramente, ajuda a exponenciar a experiência de condução, e nisto a 450MT merece nota máxima!
Leva-nos a pensar como é que a CFMoto conseguiu homologar este sistema de escape…
Este motor bicilíndrico paralelo conta com desfasamento da cambota de 270 graus. Uma solução exclusiva numa trail desta cilindrada. É o mesmo bloco que conhecemos da desportiva 450SR ou da naked 450NK.
Porém, a CFMoto introduz aqui alterações específicas. Nomeadamente alterando as borboletas de admissão que passam a ser mais pequenas e parametrização da injeção foi redefinida. Isto resulta numa potência mais baixa de 41,5 cv e um binário mais alto de 44 Nm, comparado com as já referidas variantes SR e NK.
É um motor muito agradável de explorar enquanto trocamos de caixa usando a embraiagem por cabo que é tão suave que parece manteiga. As trocas de caixa em si não foram tão suaves, mesmo sendo precisas. Talvez porque as motos de teste eram absolutamente novas e com os componentes mecânicos a necessitarem de quilómetros e ‘abusos’ para acamarem.
E por falar em caixa de velocidades, graças à utilização de cremalheira de 47 dentes e ao escalonamento mais curto de cada relação de transmissão, a CFMoto dota a 450MT de uma aceleração mais imediata, penalizando a velocidade máxima que será em torno dos 155 km/h.
Isto traduz-se num motor divertido de utilizar, que não obriga a grande esforço para o manter na faixa de utilização mais ‘vivaça’, e que revela uma grande elasticidade na forma como responde aos impulsos no acelerador para recuperar velocidade.
Suave, mas com caráter, este bicilíndrico paralelo entrega a potência e binário de forma linear, sem poços, e apenas requer alguma atenção quando rodamos a baixa velocidade devido a inconstâncias na injeção. E isso ficou rapidamente patente quando subimos por ruas mais estreitas até ao castelo de Penamacor, em que fomos obrigados a ‘jogar’ com a embraiagem mais do que o habitual. Um detalhe que a CFMoto, claramente, terá de trabalhar no futuro.
Se nos pisos de asfalto o motor é divertido, e porque estamos perante uma moto trilhada para grandes aventuras aventuras, é mesmo nos momentos “off-road” que esta unidade motriz permite à 450MT brilhar.
Mesmo nos pisos mais escorregadios a forma como sentimos o binário a ser passado para o pneu traseiro CST permite dosear e gerir o ritmo nas zonas mais técnicas. E isso traduz-se em diversão e não em tensão do condutor para manter o controlo sobre esta trail.
E se o motor com a sua sonoridade viciante é notável, o mesmo podemos dizer da ciclística. O quadro tubular, tipo berço, ajuda a usufruir de um comportamento dinâmico intuitivo e equilibrado.
Com isto quero dizer que bastam pequenos movimentos do corpo para conseguir levar a 450MT a fazer o que queremos. Nunca senti que estava a precisar de me esforçar mais para conduzir esta moto, seja em estrada ou fora dela. Diria que os motociclistas menos experimentados neste tipo de motos ou ambiente, certamente vão sentir-se confiantes e confortáveis para explorar os seus limites.
A polivalência desta trail da CFMoto é depois exponenciada por um conjunto de suspensões Kayaba. A forquilha combina com um amortecedor que apenas peca por permitir que fora de estrada a traseira ‘saltite’ mais do que devia nos impactos maiores. Pelo menos na configuração de fábrica.
Mas a frente transmite muita confiança, absorvendo perfeitamente os impactos e, mesmo com um curso de 200 mm, nunca senti a dianteira a baixar em demasia ou a bater no fundo.
Estável graças à distância entre eixos de 1505 mm, a 450MT movimenta-se com delicadeza de curva em curva. O peso do conjunto tem aqui uma cota parte de responsabilidade muito elevada.
São 185 kg (com depósito a 70%) que não se notam, e o guiador largo oferece uma boa alavanca para controlar a direção de forma fácil e intuitiva. E nem mesmo a roda dianteira de 21’’ parece afetar o comportamento, principalmente em estrada e em ritmos mais vivos, permitindo inserir a frente na trajetória mais fechada sem dramas.
Com o painel de instrumentos TFT a cores (e conectável ao smartphone) a apresentar um consumo médio abaixo dos 5 litros, e com o passar dos quilómetros, fui sentido a travagem a melhorar significativamente. O disco único na dianteira, uma escolha motivada pela intenção de reduzir massas não suspensas e o efeito dinâmico das mesmas, tem 320 mm e é mordido por uma pinça J.Juan de 4 pistões.
Oferece um tato agradável na manete, e mesmo se no momento inicial de apertar pode parecer um pouco mais duro, a verdade é que consegui dosear a potência de travagem disponível sem me deixar em problemas de maior.
Para uma condução fora de estrada podemos desligar o ABS e controlo de tração, ambos fornecidos pela Bosch, através de um botão dedicado no punho esquerdo. Neste caso ambas as ajudas são desligadas. Porém, no menu da moto, é possível desligar as ajudas de forma independente, sendo que o ABS apenas deixa de atuar na roda traseira. Desligar o motor e voltar a ligar ativa novamente as ajudas.
Divertida, intuitiva, económica e bem equipada para o preço pedido. A nova CFMoto 450MT apresenta-se em grande forma. Uma trail claramente trilhada para grandes aventuras!
Guarda-lamas baixo ou elevado? Escolhas difíceis!
Embora a moto que pode ver em maior destaque nestas páginas apresente um guarda-lamas elevado, a verdade é que no momento da compra poderá optar pelo guarda-lamas dianteiro em posição baixa.
É uma escolha difícil, pois se por um lado a opção elevada permite rodar mais facilmente em percursos de terra ou lama, além de oferecer uma imagem mais clássica de moto off-road, a opção baixa oferece uma estética mais moderna de moto de rali.
O bom deste sistema é que pode sempre trocar por outro guarda-lamas sem necessidade de alterar a moto.
As escolhas difíceis continuam também com os acessórios CFMoto. Proteções várias de desenho tubular, proteção do cárter, assento mais alto de 870 mm, para-brisas Touring, faróis suplementares ou até malas laterais em alumínio e descanso central. Inúmeras opções para aventuras sem limites.
Texto: Bruno Gomes
Fotos: Rui Jorge
Ficha técnica CFMoto 450MT
Preço – 5.990€
Motor Tipo – Bicilíndrico paralelo, 4T, refrigeração por líquido
Distribuição – DOHC, 4 válvulas por cilindro
Diâmetro x Curso – 72 x 55,2 mm
Cilindrada – 449 cc
Potência – 42 cv às 8.500 rpm
Binário – 42 Nm às 6.500 rpm
Alimentação – Injeção eletrónica
Arranque – Elétrico
Embraiagem – Multidisco em banho de óleo, função deslizante
Quadro – Em tubos de aço
Suspensão dianteira – Forquilha Kayaba, bainhas de 41 mm, 200 mm de curso, ajustável em compressão e extensão
Suspensão traseira – Amortecedor Kayaba, curso de 200 mm, ajustável em pré-carga, compressão e extensão
Travão dianteiro – Disco de 320 mm, pinça J.Juan de 2 pistões, ABS
Travão traseiro – Disco de 240 mm, pinça J.Juan simples, ABS
Pneu dianteiro – 90/90-21’’
Pneu traseiro – 140/70-18’’
Distância entre eixos – 1505 mm
Altura ao solo – 220 mm
Altura do assento – 800 a 820 mm
Capacidade do depósito – 17,5 litros
Cores – Azul ou cinzento
Importador – CFPT
Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos de proteção:
Capacete – Nolan N70
Blusão – REV’IT! Horizon 2
Calças – REV’IT! Horizon 2
Luvas – Macna Attila RTX
Botas – TCX Infinity Gore-tex