Reconhecida mundialmente como uma marca inovadora no que respeita aos equipamentos de proteção para motociclismo, basta pensar na estreia dos deslizadores de joelho em 1979 ou a primeira proteção dorsal em 1981, a Dainese tem investido grande parte dos seus esforços (e dinheiro) no desenvolvimento de novos equipamentos que utilizam sistema de airbag independente. Um desses equipamentos é o fato de competição, de uma peça, Misano 2 D-air, que tenho estado a utilizar desde há alguns meses desde que o recebi na loja especializada MotoPonto / Dainese Pro Shop, e agora já posso fazer uma primeira avaliação.
Fatos de competição ou para uso em pista há muitos, e ao longo dos anos mais recentes têm vindo a evoluir graças não apenas aos materiais usados na sua conceção estrutural, como, mais recentemente, passaram a estar disponíveis em variantes com airbag integrado de fábrica ou “airbag ready”.
No caso do Misano 2 D-air estamos perante o segundo fato de uma peça (sem personalização) mais dispendioso da gama da Dainese, apenas batido pelo Mugello RR D-air. Este último utiliza pele de canguru e proteções em titânio como em MotoGP. No caso do Misano 2 D-air estamos a falar de um fato em pele de vaca da mais alta qualidade, que a marca italiana denomina de D-Skin 2.0.
Não é preciso muito para perceber que esta é uma pele especial, com um toque suave, com bastante elasticidade tendo em conta a espessura, e até deixa emanar um cheiro diferenciado muito característico.
Graças à qualidade da pele em si, mas também ao tratamento aplicado pela Dainese, que inclui ceras e silicones, esta D-Skin é, de acordo com a marca, 40% mais resistente à abrasão. Mas para além da pele de vaca encontramos neste Misano 2 D-air painéis micro elásticos que garantem a elasticidade necessária, zonas Bi-Axial para total liberdade de movimentos, e em zonas especificas e menos propensas a raspar no asfalto há ainda painéis em tecido S1 que ajudam o fato a adaptar-se ao nosso corpo.
E de facto, este fato de competição “encaixa como uma luva”! Mesmo a estrear, somos rapidamente capazes de o vestir, sem grande esforço. O seu formato desportivo, ao melhor estilo dos “slim fit” Dainese, não é ainda assim tão apertado como outros fatos da marca que já vesti anteriormente, por exemplo o Aero Evo P. C2, que, no mesmo tamanho, é significativamente mais justo ao corpo.
A sua construção D-air torna-o ligeiramente mais largo para permitir o inflar do airbag caso seja despoletado, mais confortável, e mesmo assim mantém-se colado ao nosso corpo como se se tratasse de uma segunda pele.
Deixa uma ligeira sensação de estar apertado, porém, e se adquirir um fato na medida certa, e para isso mais vale recorrer à ajuda preciosa dos especialistas Dainese Pro Shop como aconteceu no meu caso com a MotoPonto, essa é mesmo a sensação que deverá sentir ao vestir o Misano 2 D-air. Para sua referência, eu meço 1,84m de altura e peso 83… vá, 84 kg! No meu caso o tamanho certo é o 54.
Fora da moto o desconforto é algo notório, mas assim que nos sentamos aos comandos de uma moto desportiva ou naked de perfil mais desportivo, os painéis elásticos e a pele D-Skin ajudam o corpo a manter a postura, pressionando levemente os músculos, principalmente nas pernas e braços, conferindo uma compressão que ao fim de um dia de moto em pista se torna numa mais-valia. A aderência da pele, quer no assento da moto, que também ao depósito quando apoiamos as pernas em inclinação ou travagem, é excelente e ajuda a reduzir a fadiga.
Todas as proteções fixas – joelhos, cotovelos e ombros – “caem” no sítio certo, e o forro interior, removível, é fabricado em tecido 3D tipo esponja, altamente respirável, o que permite dissipar a humidade da transpiração mais facilmente e evita que o fato se cole à nossa pele. Nas costas a proteção dorsal incluída não fica facilmente fixa no local que desejamos, mas após algumas tentativas lá conseguimos perceber qual a melhor posição para ela, e a partir daí é como se fizesse parte do fato.
Os fechos ZIP são todos facilmente manipulados, deslizando sem grande esforço, e o sistema de fixação por velcro às botas Dainese Axial D1 In (ficam por dentro do fato) é uma excelente opção para aqueles que, como eu, têm dificuldade em calçar as normais botas de pista.
As costuras, depois de alguns meses de uso intensivo, não apresentam falhas ou sinais de desgaste. Felizmente, e para bom entendedor “meia palavra basta”, não testei ainda a resistência à abrasão ou impactos deste fato Dainese.
O fato Misano 2 D-air está disponível em versão de pele perfurada ou não perfurada. Tendo em conta que vivemos num país onde as temperaturas são quentes ou amenas, o meu conselho é optar pela variante perfurada, tal como eu fiz. Os pequenos furos, que passam despercebidos aos menos atentos, garantem um excelente fluxo de ar no interior do fato. Mesmo em dias de utilização intensa em pista e com temperatura ambiente perto dos 30 graus Celsius, a verdade é que me senti relativamente fresco. E isso traduz-se em conforto e segurança.
E não há nada negativo a apontar a este fato Dainese Misano 2 D-air? Bom, num equipamento recheado de tecnologias e fabricado com recurso aos melhores materiais, é complicado apontar falhas. Talvez a única que eu consiga encontrar seja o seu peso.
Não tive a oportunidade de confirmar o peso do meu fato, mas posso afirmar que é mais pesado do que esperava, mesmo tendo em conta que tem airbag integrado. Se os euros não forem um problema para si, o Mugello RR D-air em pele de canguru resolverá este problema. Mas são mais 2.000€!
Outro ponto que tenho de referir, que é muito importante e que talvez se possa incluir nos destaques menos positivos, é que o Misano 2 D-air não pode ser usado à chuva. Ou melhor, caso esteja a chover, é obrigatório vestir por cima a proteção de chuva especialmente criada para ser usada com fatos airbag.
É que os sistemas eletrónicos escondidos na grande bossa aerodinâmica nas costas não combinam muito bem com H2O…
Dainese Racing D-air: o lado técnico do airbag
Há mais de 25 anos que a marca italiana investiga a melhor forma de aplicar a tecnologia de airbag aos equipamentos de motociclismo. Neste caso o Racing D-air presente no fato Misano 2 D-air é um sistema de nova geração, composto pelo “cérebro” e pelo “coração”.
O cérebro está contido na bolsa aerodinâmica. Neste local encontramos três acelerómetros, outros tantos giroscópios, e ainda um sensor de GPS. São estes elementos eletrónicos que, utilizando um algoritmo exclusivo e que foi desenvolvido com recurso à análise de milhares de quedas em pista, ajudam o Racing D-air a perceber se é necessário ou não abrir o airbag, e, caso seja necessário, se estamos perante um “highside” ou um “lowside” com direito a alguns “trambolhões”.
O sistema analisa diversos parâmetros 1000 vezes por segundo!
O coração do Racing D-air é a bolsa de airbag em si. De acordo com a Dainese, a bolsa enche por completo em apenas 30 milissegundos (cerca de dez vezes mais rápido do que um normal piscar de olhos de um ser humano!), e através de um conjunto de microfilamentos a marca italiana garante que a dispersão do gás contido na botija é igual em todo o airbag.
Apenas para uso em pista – embora possa ser usado em estrada e funcione – este Racing D-air não irá disparar enquanto a velocidade não for superior a 50 km/h. Abaixo disso, o LED no braço direito indica que está “armado”, mas não será despoletado. Acima dessa velocidade o LED muda de cor, e o sistema de airbag irá disparar quando reunidas as condições determinadas como perigosas para o motociclista.
O airbag apenas cobre o pescoço e ombros do motociclista. Ainda assim, será suficiente para evitar as lesões mais comuns em pista, e a Dainese chega mesmo a referir que o corpo do motociclista sofre uma força de impacto 85% menor com airbag quando comparamos com uma tradicional proteção CE de nível 2.
É fácil utilizar o sistema de airbag do Misano 2 D-air?
O Racing D-air é um sistema totalmente integrado e independente, o que significa facilidade de utilização. Basta carregar a bateria através do carregador incluído e na ficha que encontramos no interior do forro, fechar o ZIP central e fechar os dois botões da gola. E já está! Não há peças removíveis que possam estragar ou dificultar a experiência de utilização.
A partir do momento em que fechamos todos os fechos e botões, o sistema Racing D-air está “online”, um LED colorido no braço direito pisca – transmitindo várias informações dependendo da situação e de acordo com a cor visualizada – e indica que está pronto a disparar caso detete uma queda. Para desligar basta abrir os botões abaixo da gola.
A bateria dura até 8 horas, e para ser sincero, é uma autonomia mais do que suficiente, e nunca necessitei carregar a meio do dia numa visita à pista. Caso necessário, uns minutos à carga na box a meio do dia servem para atestar de energia a bateria do Misano 2 D-air para chegarmos ao fim das sessões em pista.
E por falar em pista, convém ter em conta que este sistema de airbag é específico para ser usado neste ambiente, conforme a denominação Racing D-air. Isto significa que a bolsa de airbag do fato apenas incha de forma a proteger ombros e clavícula. As zonas mais propensas a sofrerem lesões em pista.
Não significa que não funcione em estrada, mas para este tipo de situações a Dainese disponibiliza outras versões do seu D-air noutros equipamentos.
Refira-se ainda que, caso o motociclista deseje, pode aceder à telemetria do fato através de uma ligação por cabo a um PC. Através de um programa específico da 2D, acedemos a informações como forças G, velocidade máxima, tracking de GPS, ângulos de inclinação, entre muitas outras informações perfeitas para quem tem tempo e seja um “geek”.
Infelizmente estas infos apenas estão disponíveis para descarregar num PC. Talvez a Dainese devesse criar uma app de smartphone que permita aceder a tudo isto mais facilmente na box enquanto esperamos pela próxima sessão em pista.
O fato Misano 2 D-air é uma mais-valia?
Depois de vários meses a utilizar este fato, e tendo em conta que a minha proteção não tem preço, diria que dificilmente será possível encontrar um fato de pista com airbag que cumpra com tantos requisitos como este Dainese.
Confortável tendo em conta que é um fato completo para competição, utiliza muita tecnologia e materiais de qualidade “premium”, e acima de tudo não precisamos de tirar um curso universitário para utilizar o airbag. É um equipamento dispendioso, é verdade, mas se garantir que não sofro lesões tão facilmente, para mim esses euros são plenamente justificados.
Caso o airbag seja despoletado numa queda, teremos sempre de o levar a uma loja Dainese especializada.
Aí será feita uma primeira avaliação, e, caso o fato não apresente danos de maior na pele, será substituída a botija de gás que apenas dá para uma queda. Caso existam danos maiores, o fato é enviado para a Dainese onde é feita uma avaliação mais detalhada, verificam se é possível a sua recuperação, e o cliente terá depois a possibilidade de pedir que o arranjem para voltar à pista. Todos estes custos são na ordem das centenas de euros, pelo menos.
Ah! E se pensar em viajar com este fato de airbag na sua mala, mesmo que vá no porão do avião, convém saber que há companhias aéreas ou aeroportos que poderão impedir o transporte devido aos elementos eletrónicos e à botija de gás. Na minha viagem à Turquia para a apresentação da CFMoto 450SR descobri isto mesmo, e quase fui acusado pelas autoridades do aeroporto de Istambul de que era um terrorista a tentar viajar com uma bomba!
Antes de viajar pergunte à companhia aérea o que pode fazer, e peça à Dainese um certificado de que o Misano 2 D-air não é uma bomba, mas sim um fato de proteção para uso em pista.
Dainese Misano 2 D-air
– Preço: 2.500€
– Fato: pele de vaca D-Skin 2.0, perfurado, inserções micro elásticas
– Proteções: joelhos, ombros e cotovelos em alumínio, com deslizadores substituíveis nos cotovelos e joelhos
– 3ª geração do Racing D-air
– Proteção dorsal
– Bolsa de hidratação de desenho específico
– Cabos e carregador
– Programa de análise de telemetria da 2D
– Kit de limpeza
– Bolsa de transporte / arrumação
