Para os motociclistas menos conhecedores da história, provavelmente se lhe perguntar quais os modelos que conhecem da Moto Morini, a resposta será as modernas Seiemmezzo, nas variantes STR ou SCR, ou ainda a trail X-Cape.
Porém, a verdade é que a marca italiana nasceu em 1937 pelas mãos e esforço de Alfonso Morini, em Bolonha. E ao longo da sua vida a ‘MM’ foi conquistando o seu lugar na história do motociclismo através de motos de diversos segmentos, inclusivamente nas custom.
A Excalibur 350 / 501 foi a mais recente tentativa da Moto Morini se destacar no segmento custom. Porém, desde meados dos anos 80 do século passado até agora, a marca não se tinha aventurado neste tipo de motos. Até agora! Isto porque finalmente, quase 40 anos depois, as custom estão de volta aos concessionários Moto Morini graças à nova Calibro.
Apresentada no Salão de Milão EICMA 2023, a Calibro está finalmente pronta a entrar em produção.
E foi por isso com entusiasmo que aceitei o convite que o importador da marca em Portugal, a Puretech , me endereçou, para ser um dos primeiros motociclistas a conduzir a Calibro. E logo na região de Pavia, localizada a 40 km de Milão, onde encontramos o quartel-general e ponto de distribuição na Europa para as Moto Morini fabricadas na China pelo grupo Zhongneng Vehicle Group.
Isto porque desde 2018 a marca está integrada no grupo chinês que a adquiriu a dois empresários italianos que, por sua vez, tinham salvo a Moto Morini da extinção após um período bastante complicado e que quase significou a extinção da marca.
Hoje em dia o design e conceção dos modelos são integralmente feitos em Itália, com recurso a uma equipa de jovens designers que utilizam realidade virtual e meios tradicionais como a argila, para moldar as Moto Morini atuais e as do futuro, como a X-Cape 1200 ou uma interessante desportiva Corsaro SP com um novíssimo motor 750 cc e soluções bastante curiosas como a posição do depósito de combustível.
A produção é depois feita na China. Uma solução que já conhecemos de outras marcas, inclusivamente italianas, e que permite alcançar custos de produção mais baixos que se traduzem depois em preços bastante competitivos quando as motos chegam aos concessionários, nomeadamente à rede de concessionários em Portugal.
Foi neste ‘ambiente’ que a Calibro nasceu. E logo em duas variantes: custom ou a Calibro Bagger, de que lhe falo em maior detalhe mais à frente.
No momento em que viajámos até Itália apenas as motos de pré-produção estavam disponíveis para este primeiro contacto. E das duas apenas foi possível rodar com a Calibro custom, em dois estágios de desenvolvimento.
Ou seja, apenas consegui experimentar a moto no patamar de desenvolvimento anterior à versão de produção que verá nos concessionários e, esperamos, na estrada, já a partir do final de agosto, de acordo com as previsões do importador nacional.
No centro desta Calibro encontramos um motor bicilíndrico paralelo. É a mesma unidade motriz que encontramos nas X-Cape ou Seiemmezzo.
Porém, a equipa da Moto Morini trabalhou a mecânica de forma a alterar as cotas internas dos cilindros. Neste caso aumentando o curso, o que não apenas aumentou a cilindrada para os 693 cc, como também alterou significativamente o caráter do motor.
A própria Moto Morini confessou durante este primeiro contacto com a Calibro que o intuito foi de seguir um caminho particularmente desportivo dentro do segmento custom, permitindo ao condutor desta moto usufruir da potência e binário num patamar mais elevado de rotações.
A suportar o motor encontramos uma estrutura clássica tipo duplo berço, fabricada em aço, combinada com forquilha telescópica com bainhas de 41 mm, dois amortecedores ajustáveis em pré-carga, e um disco por cada eixo, com particular destaque para o traseiro que tem 255 mm. Este é um detalhe importante, conforme explico mais à frente.
A primeira impressão com que fiquei ao estar sentado no assento, bem ‘recheado’ e que deixa o condutor da Calibro sentado a 725 mm do solo, é que a Moto Morini tem vontade de ‘mostrar serviço’ no que à qualidade de construção diz respeito.
Os plásticos que existem apresentam um toque melhor do que encontramos em muitas motos produzidas na China, e a utilização de elementos metálicos, como o generoso depósito de combustível de 15 litros, confere um toque especial a esta moto.
O canhão para inserir a chave está no lado direito do depósito como nas custom mais “hardcore”, e assim que pressiono a ignição oiço o bicilíndrico a tentar fazer-se notar através de uma nota de escape bastante tímida para o que estamos habituados numa moto deste tipo.
Sem vibrações ao ralenti, e sem hipótese de selecionar modos de condução ou ajudas, pois a Moto Morini assume à partida que numa moto de 70 cv o que interessa é experiência de condução mais purista, sem eletrónica, rodo o acelerador por cabo.
Há já algum tempo que não tinha a oportunidade de conduzir uma moto com acelerador por cabo. O “feeling” é especial, sentimo-nos perfeitamente ligados ao motor, e cada impulso com a mão direita provoca uma subida de rotações suave, pelo menos até atingirmos as 5.500 ou 6.000 rpm.
O maior curso deste motor coloca a entrega dos 69 cv e 68 Nm numa faixa de rotações bastante mais alta do que o normal numa custom. É o tal caráter mais desportivo que a Moto Morini pretende seguir com a Calibro.
Esta é uma unidade motriz que já não consegue esconder que já tem alguma idade. Afinal, deriva do motor que encontrávamos originalmente na Kawasaki ER-6.
Tem um funcionamento menos refinado do que alguns motores mais modernos, mas não desilude na forma como gosta de ganhar velocidade, ainda que obrigando a recorrer mais vezes à caixa de velocidades, empurrando os 200 kg (a seco) com relativa facilidade.
Em determinados regimes notam-se vibrações nos poisa-pés, que podem ser fixos em posição avançada ou mais próxima do assento (recorrendo a um kit opcional), e nos punhos, que estão no local certo para ‘desenhar’ uma posição de condução agradável e confortável.
As suspensões seguem o mesmo caráter desportivo. As afinações de fábrica são bastante ‘rijinhas’. Isto significa que temos a possibilidade de adotar uma condução mais agressiva no ataque às curvas, com a Calibro a revelar uma excelente estabilidade e reações neutras, inspirando confiança.
Mas, por outro lado, a rigidez das suspensões acaba por penalizar o conforto em pisos degradados. Particularmente os amortecedores traseiros que, mesmo que consigam absorver um primeiro impacto, se sujeitos a ressaltos consecutivos apresentam dificuldades para recuperar.
Já os travões, e conforme já tinha referido, merecem uma nota de destaque particular. O travão dianteiro é, claro, a nossa principal forma de abrandar rapidamente a Calibro. Com uma potência de travagem doseável e um tato direto, sem ser esponjoso, travar com o dianteiro abusando da pinça J.Juan de 2 pistões será suficiente.
Mas o disco traseiro sobredimensionado pode, e deve, ser usado! Isto para conseguirmos abrandar mais facilmente, mas também para controlar eficazmente alguns movimentos em curva, conseguindo rapidamente apertar as trajetórias. Ainda que a distância livre ao solo seja reduzida, e os poisa-pés rapidamente estão a raspar no asfalto, o que limita sempre de alguma forma os nossos impulsos mais desportivos.
Para último neste primeiro contacto com a Calibro, deixo a caixa de velocidades.
Conforme referi, consegui conduzir duas unidades em diferentes estágios de desenvolvimento de pré-produção. Na moto mais antiga e menos polida, a caixa de seis velocidades apresentou um tato muito duro, demasiado mecânico.
Foi necessário fazer bastante força no seletor para engrenar cada relação.
Porém, na segunda moto, mais evoluída, a caixa de velocidades, já com pequenas alterações nos seus componentes mecânicos, revelou-se significativamente mais suave e polida na forma como cada relação é engrenada.
Será um elemento a merecer uma análise mais detalhada assim que nos for possível testar em estradas portuguesas esta nova Calibro.
Moto Morini Calibro Bagger – Para viajar
Se a versão ‘normal’ da Calibro não tem aquilo que procura para viajar, então não precisa de se preocupar!
Isto porque a par da custom, a marca italiana vai disponibilizar uma Calibro Bagger, uma variante que recorrer aos típicos elementos deste tipo de motos. Isto inclui um generoso frontal tipo “Batwing” que envolver por completo a dianteira da moto e o farol LED, mas também um conjunto de malas laterais na traseira.
Estes dois elementos são exclusivos da Bagger, com a Moto Morini a referir que não será possível adquirir estes elementos para instalar na Calibro Custom.
A Bagger mantém as características técnicas na sua generalidade, porém apresenta um peso superior. O valor final não está definido, mas deverá ser um pouco superior a mais 10 kg em comparação com a variante custom. O seu preço será de 8.690€ em Portugal.
Texto: Bruno Gomes
Fotos: Moto Morini
Ficha técnica – Moto Morini Calibro
Preço – 7.890€
Motor tipo – Bicilíndrico paralelo, refrigeração por líquido
Distribuição – DOHC, 4 válvulas por cilindro
Diâmetro x Curso – 83 x 64 mm
Cilindrada – 693 cc
Potência – 69 cv às 8.500 rpm
Binário – 68 Nm às 6.500 rpm
Alimentação – Injeção eletrónica Bosch
Ignição – CDI
Arranque – Elétrico
Embraiagem – Multidisco em banho de óleo
Caixa – 6 velocidades
Transmissão final – Por correia
Quadro – Duplo berço, em aço
Suspensão dianteira – Forquilha telescópica, bainhas de 41 mm, curso de 120 mm
Suspensão traseira – Duplo amortecedor, ajustável em pré-carga, curso de 100 mm
Travão dianteiro – Disco de 320 mm, pinça J.Juan de 2 pistões, ABS
Travão traseiro – Disco de 255 mm, pinça simples, ABS
Pneu dianteiro – 130/70-18
Pneu traseiro – 180/65-16 ou 180/70-16
Distância entre eixos – 1490 mm
Altura ao solo – 140 mm
Altura do assento – 725 mm
Peso (a seco) – cerca de 200 kg
Capacidade do depósito – 15 litros
Importador – Puretech
Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos de proteção:
Capacete – Nexx X.G100R
Blusão – REV’IT! Hoodie Stealth
Calças – REV’IT! Orlando 2 H2O
Luvas – Furygan Spencer D3O
Botas – TCX X-Blend WP
Galeria de fotos Moto Morini Calibro
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