Para os fãs do Mundial de Resistência FIM a ronda final, a 85ª edição do icónico e centenário Bol d’Or, foi um misto de emoções fortes no início e final da corrida de 24 horas com largos períodos onde tudo parecia estar decidido.
Numa corrida onde tudo se decidia e havia um total de 85 pontos por distribuir para aquela equipa que conseguisse “pole position”, vitória na corrida e ainda ser líder nos períodos de pontuação parcial (na passagem das primeiras 8H e 16H), a discussão pelos títulos das categorias EWC e Superstock estava totalmente em aberto com o Bol d’Or assim a revestir-se de uma importância adicional.
A Yoshimura SERT Motul, campeã em título e líder da classificação do Mundial de Resistência FIM à chegada ao circuito Paul Ricard, tinha esperança de garantir o segundo título consecutivo depois de uma temporada marcada por diversas incidências e lesões dos seus pilotos.
Porém, nada menos do que sete equipas podiam ainda chegar ao ambicionado título EWC nesta corrida final de 24 horas de duração. E isso fazia com que a Yoshimura SERT Motul tivesse de dar tudo por tudo.
Nas qualificações a equipa mais forte foi a BMW Motorrad World Endurance Team (Markus Rieterberger, Illya Mykhalchyk, Jeremy Guarnoni), mas no arranque para a corrida do Bol d’Or acabaram por não se conseguir isolar na liderança ficando em pista envolvidos num grupo de discutia a liderança nos primeiros momentos das 24 horas. Nesse grupo estavam equipas como a Yoshimura SERT Motul, ERC Ducati e ainda a FCC TSR Honda France.
Estas motos andaram em trocas constantes pelas posições de topo, enquanto outra favorita à vitória, a YART, voltava a ter de fazer uma corrida em recuperação depois de ter sofrido novamente problemas em arrancar com a sua Yamaha R1 #7, problema que também afetou a R1 da Slider Endurance #119 de Pedro Nuno. Refira-se que a equipa do português viria a desistir à passagem das 8 horas de corrida.
Pouco depois da passagem da primeira hora de corrida a Suzuki GSX-R1000 da Yoshimura SERT Motul, então pilotada pelo japonês Kazuki Watanabe, foi obrigada a parar na box com problemas de motor. Os mecânicos da formação oficial Suzuki tentaram reparar os danos no motor, mas foi impossível, ficaram muito atrasados e foram então forçados a desistir. O título estava então fora do seu alcance.
Na frente da corrida a discussão pelas primeiras posições ia ficando cada vez mais reduzida em número de motos.
Depois da Suzuki, foi a BMW Motorrad World Endurance Team a sofrer problemas mecânicos. A moto alemã apresentou problemas de sobreaquecimento, e quando Jeremy Guarnoni tentou seguir para a box para reparar, acabou inclusivamente por cair, sem grandes consequências. Foi então o início do fim da participação da equipa oficial BMW Motorrad, que juntou a sua moto #37 à lista de desistências.
A YART, depois de uma grande recuperação, tal como aconteceu tantas vezes no passado, voltava a estar na discussão pela vitória. Porém o motor quatro cilindros da R1 #7 não resistiu à longa reta Mistral e alta velocidade que aí se atinge, e decidiu “entregar a alma ao criador”, levando a equipa ao abandono prematuro.
Tudo isto deixava então a FCC TSR Honda France (Josh Hook, Mike di Meglio, Alan Techer no lugar do lesionado Gino Rea) com francas possibilidades de vencer a corrida do Bol d’Or, mas, principalmente, acumular os pontos suficientes para conseguir recuperar o título que já foi seu na temporada 2017/18.
Mas os problemas na Honda CBR1000RR-R Fireblade #5 também não deixaram a formação oficial da Honda descansada, tendo de parar na box várias vezes, mas regressando sempre à corrida que viria depois a terminar em glória!
Num cenário onde as principais candidatas ao título e à vitória nesta ronda final do Mundial de Resistência FIM já tinham desistido ou estavam com problemas, acabou por sobressair então a ERC Ducati (Xavi Forés, Chaz Davies e David Checa).
Mas a Ducati Panigale V4 também não esteve a 100%, apresentando problemas de embraiagem. O último dos quais roubou aquilo que parecia ser uma vitória certa à Ducati, quando a cerca de 90 minutos do fim tiveram de entrar na box para trocar novamente a embraiagem e assim perderam qualquer hipótese de vencer.
Seria a primeira vitória de uma moto europeia depois de décadas de domínio de motos japonesas no Bol d’Or. Ainda não foi desta…
Quem não se mostrou preocupado com os azares alheios foi a Viltaïs Racing Igol (Florian Alt, Erwan Nigon, Steven Odendal), que numa corrida irrepreensível, isenta de erros ou azares mecânicos, conseguiu garantir uma surpreendente vitória, e ainda por cima alcançando um novo recorde de distância percorrida no Bol d’Or: 718 voltas!
A segunda posição ficou para a Wójcik Racing EWC #77, que levou outra Yamaha R1 ao pódio desta prova centenária francesa. Ficaram a apenas uma volta de distância dos vencedores.
Recordamos que nesta equipa milita Sheridan Morais, piloto nascido na África do Sul, mas que há muitos anos, fruto da sua ligação familiar a Portugal, passa bastante tempo no nosso país e compete inclusivamente com licença desportiva portuguesa. Podemos por isso dizer que a bandeira portuguesa subiu também ao pódio deste Bol d’Or, num grande resultado para a Wójcik Racing EWC #77.
No degrau mais baixo do pódio terminou a WeBilke SRC Kawasaki. A Ninja #11, com o passar das horas, foi subindo na classificação e chegou também a vislumbrar uma hipótese de vencer a corrida final do Mundial de Resistência FIM. E embora tenham feito todos os possíveis para conseguirem recuperar as duas voltas de atraso para os líderes, acabaram por não conseguir subir mais além do terceiro lugar.
E como é que ficou a decisão do título EWC 2022?
Depois de muito sofrer, mas revelar uma enorme resiliência para regressar sempre à corrida e manter acesas as esperanças em conquistar o campeonato, acabou por ser a FCC TSR Honda France a cruzar a linha de meta em 4º, o que lhe permitiu celebrar a conquista do título maior do Mundial de Resistência FIM. Um resultado dedicado ao piloto britânico Gino Rea, atualmente a recuperar de lesões sofridas nas 8 Horas de Suzuka.
Na categoria Superstock a vitória sorriu à equipa RAC41-Chromeburner, sétimos na geral do Bol d’Or, sendo que o título nesta categoria ficou na posse da equipa Team 18 Sapeurs Pompiers CMS Motostore, que embora sofrendo um problema mecânico que os atrasou muito na corrida onde cruzaram a meta na 27ª posição da geral, e fruto da vitória em Le Mans e segundo lugar em Spa, conseguem mesmo garantir o título nas Superstock.
Classificação final do Mundial de Resistência FIM
1 – FCC TSR Honda France – 154 pontos
2 – Yoshimura SERT Motul – 130 pontos
3 – Viltaïs Racing Igol – 114 pontos
4 – Tati Team Beringer – 107 pontos
5 – Wójcik Racing EWC #77 – 97,5 pontos