Casey Stoner regressou ao paddock depois de uma longa ausência. Depois de visitar velhos amigos e antigos rivais, o ex-piloto australiano, agora com 36 anos, concedeu falar aos jornalistas. E continua a ser o mesmo Casey Stoner de sempre, frontal e honesto. Por isso, apesar dos momentos de fricção com Valentino Rossi, Stoner não poupou elogios ao seu grande rival.
«Eu e o Valentino tivemos algumas batalhas espetaculares, tivemos uma rivalidade fantástica. Alguns momentos bons, outros maus, algumas coisas resolveram-se a meu favor e outras nem por isso. Mas houve uma coisa que foi fantástica na competição com o Valentino, e é o facto de ter aprendido com ele, quer em pista, quer fora dela. Ele sempre foi muito conhecedor, muito inteligente, muito astuto. Por isso aprendi mesmo muito com ele. E também acho que os meus feitos ao longo da minha carreira foram mais valorizados por ter corrido contra ele na sua era», revela o bi-campeão mundial.
Dos vários confrontos entre ambos, um dos que se destaca é o incidente no GP de Espanha de 2011, quando Valentino Rossi derrubou Stoner quando o tentava ultrapassar. No final, Rossi foi à box do australiano pedir-lhe desculpa, e Stoner soltou a frase que se tornou célebre: «Obviamente, a tua ambição superou o teu talento».
Stoner diz que hoje teria reagido da mesma maneira, e que na altura, no final do dia já tinha esquecido o incidente, estando mais preocupado em concentrar-se na luta pelo título, que acabou por conquistar no final do ano. «Não há corridas sem rivalidades, nunca foi sujo. Não tenho quaisquer ressentimentos, tenho um enorme respeito pelo Valentino».
«Nos últimos três anos gostaria de o ter visto na batalha com os outros»
E sobre o fim da carreira de Valentino? «Se o Valentino ainda gostasse das corridas, então não teria razão para não correr. Eu próprio não o conseguiria fazer. Porque para mim correr significava ganhar. Ainda aceito o facto de por vezes não conseguir vencer, mas ao mesmo tempo, a razão porque eu me levantava de manhã para correr era para vencer. E por isso eu tinha dificuldades se não estivesse competitivo na frente, e sinto falta do Valentino na frente. Nos últimos três anos gostaria de o ter visto na batalha com os outros. Acho que a competição teria sido incrível se fosse assim. Como foi antes».
Há quase quatro anos que Casey Stoner não visitava o paddock. A última vez foi em 2018, e esta visita só não aconteceu antes por causa da pandemia. «Muita gente neste paddock é como família e amigos, por isso este tempo foi muito longo. E na verdade tivemos saudades de toda a gente. Tentámos vir no ano passado, tínhamos planos para isso. Mas depois chegou o Covid, e foi fantástico o MotoGP ter conseguido continuar».
«Tem sido incrivelmente interessante»
O australiano, depois de se ter retirado em 2012 ainda foi algum tempo piloto de testes da Ducati, mas acima de tudo dedicou tempo à família. Mas continuou a acompanhar o campeonato. «Tem sido incrivelmente interessante. Em termos de diversidade das marcas no pódio e dos pilotos, parece que a cada dia alguém consegue tirar um pódio da cartola, parece que não há uma regra nos últimos dois anos. Mas especialmente este ano, quando pilotos que esperaríamos estar na frente e de repente estão em dificuldades, e outros que não esperaríamos estar na frente, desaparecem e de repente ganham uma corrida», diz Stoner.
«Quase se tornou confuso assistir este ano, ao ver alguns dos resultados. Foi muito inesperado. Mas em termos de espetáculo foi fantástico. Gostaria de ver mais consistência por parte de alguns pilotos, mas ao mesmo tempo acho que o atual formato dá a alguns pilotos que geralmente não estariam na frente alguma confiança no fim de semana para conseguir algo que no passado não seria possível».
Stoner gostava mais das qualificações
E não tem saudades das corridas? Stoner acaba por confessar que «Honestamente eu não gostava assim tanto das corridas. Às vezes era bom e fácil, e tudo corrida bem. Mas também era… sabes, quando rodamos no limite nestas coisas, é tão fácil cometer erros. E eu por vezes, e infelizmente isso é parte da minha personalidade, eu não queria cometer erros. Eu não queria apenas sair para a pista para pilotar confortável e naturalmente, era como ‘eu não quero meter os pés’. Porque eu tinha uma data de pessoas na equipa que esperavam algo de mim. Por isso aprendi a lidar com isso mais tarde na minha carreira e já não tinha que me preocupar muito com isso. Mas não tenho mesmo o desejo ou a vontade de voltar a correr».
Stoner gostava mais das qualificações, pilotar no limite, e por vezes lá deste. «As qualificações e os treinos livres eram divertidos. Desfrutava mais disso do que das corridas, porque nestas era necessário gerir muitas coisas», diz o australiano que, em MotoGP conquistou 39 ples e 38 vitórias.
Síndrome de fadiga crónica
Apesar de terem acabado essas preocupações e de passar o tempo com a família na sua quinta na Austrália, a vida não tem sido fácil. Casey Stoner teve que deixar de pilotar devido ao síndrome de fadiga crónica. Qualquer exercício físico deixa o australiano exausto e demora muito tempo a recuperar. «Quando deixei de testar para a Ducati, fui operado para reconstruir o meu ombro. Mas tive muitas dificuldades com a minha saúde. Durante cinco meses a minha vida era da cama para o sofá, e foi um período mentalmente difícil. Nos últimos quatro ou cinco anos aprendi a lidar com isso e a gerir a minha energia. No ano passado estive muito melhor e comecei a fazer mais coisas, mas depois ficava cansado nas duas semanas seguintes. Às vezes ficava exausto sem qualquer explicação, e estava a apenas 60% das minhas capacidades», confessa Stoner.
O australiano revela que parou a sua carreira no momento certo. «Se me tivesse forçado a correr mais uma temporada, iria estar muitos anos sem querer montar-me numa moto. Não me arrependo da minha decisão».
É possível que venhamos a ver Casey Stoner mais vezes. Há muitos anos que o australiano tem vontade de trabalhar na formação de jovens pilotos, e só ainda não o fez porque «não é fácil, com a família na Austrália, e não quero fazer essa atividade em part time. Gostava muito de trabalhar com jovens pilotos, porque sei o que é preciso, porque razão as coisas acontecem. Eu gostava de ter tido alguém que me tivesse ajudado quando eu era mais novo. È algo que gostaria mesmo de fazer».