Incontornável, o segmento das motos de aventura, as trail, recebe todos os anos novos modelos, remodelações de anteriores unidades, tudo para atrair a atenção dos muitos utilizadores. Só temos a ganhar com esta dinâmica, podendo usufruir a cada evolução de melhores motos, que têm comportamentos mais eficientes e são mais fáceis de utilizar.
O nível de equipamento e as ajudas à condução são elementos que evoluem também de forma evidente e que cada vez tornam mais seguras as saídas em aventuras. Entre as grandes trails existem ofertas que vão desde os 700 cc até perto dos 1300 cc.
No ano passado, o qual não conseguimos disfrutar plenamente devido ao início da pandemia, uma das grandes novidades do mercado foi a renovação da Triumph Tiger, que passou de 800 para 900. É um modelo profundamente alterado, que procura ganhar preponderância entre as opções de média cilindrada. A outra novidade foi a Suzuki V-Strom, que evoluiu tecnicamente, mas foi no seu visual que residiu a grande diferença. Ganhou cilindrada, sendo agora 1050, e algumas características que procuram torná-la um pouco mais apetecível.
Para conhecermos melhor estas duas novidades de 2020, juntámo-las com uma referência do segmento, com provas dadas e bem cimentada entre o público português, a CRF 1100 L Africa Twin. Se bem que pelas diferenças das suas cilindradas, perto de 200 cc entre a de menor e maior capacidade, a verdade é que as suas capacidades dinâmicas são muito semelhantes. Além do mais, os seus preços alinham-se muito proximamente, pelo que deste ponto de vista, acabam por concorrer muito directamente – e quando chega o momento de ir ao concessionário finalizar a escolha este é um aspecto de grande importância.
De fora ficou a BMW F 850 GS, cuja cilindrada a coloca próxima da Triumph, mas demasiado distante das restantes. Por esta razão optámos por deixar este confronto “brito-germânico” para um futuro frente-a-frente.
Honda CRF 1100 L Africa Twin
Face à variante Adventure Sports, esta versão, a mais simples, sem surpresas adiciona mais diversão à utilização, em especial quando se vai para fora de estrada, devido sobretudo ao seu peso mais reduzido.
O motor da Honda faz-se valer da maior cilindrada nesta situação para nos encantar com uma capacidade de aceleração mais alegre e intensa. Esta geração mais recente do motor (1100) ganhou uma resposta mais imediata a qualquer solicitação.
Tal como a Triumph, a Africa Twin faz uso de uma jante de 21 polegadas na frente e suspensões de curso bastante longo, claramente focadas numa utilização fora de estrada. Neste trabalho focamo-nos mais em estrada, até porque a opção de pneus montados nas Suzuki e Triumph a isso aconselhavam.
Mas do que testámos, Tiger e Africa Twin são claramente pensadas para o uso fora de estrada. A Africa Twin mostrou-se sempre muito estável. Ainda que as suas suspensões se “mexam” bastante, fazem-no sempre de forma controlada e previsível. Muito embora o seu peso seja mais elevado que a Tiger, a verdade é que esta moto consegue disfarçar muito bem esta massa. Garante uma boa agilidade que se traduz numa grande flexibilidade e facilidade em mudar de trajectória.
A posição de condução da Honda é francamente pensada para o uso fora-de-estrada, com o guiador numa posição alta, que se torna muito confortável na condução em pé. Para estrada acaba por não ser má, com os braços bastante elevados leva a que percamos um pouco o tacto da frente, mas garante um excelente efeito de alavanca.
Suzuki V-Strom 1050 XT
Este ano a V-Strom vê-se profundamente alterada no capítulo estético, adoptando um desenho de inspiração revivalista. Além das questões estéticas este modelo recebeu também melhorias significativas ao nível da electrónica, já que passa a ter um sistema de alimentação com “ride by wire”.
Com ele junta-se uma unidade de medição inercial que garante controlo de tração e ABS que atuam de acordo com o ângulo de inclinação da moto a cada momento. Este sistema que a marca apelida de Suzuki Intelligent Ride System inclui também o prático Cruise Control.
Na sua essência, a V-Strom mantém uma apetência própria para funcionar muito bem em estrada, preterindo a utilização fora dela, devido à escolha de jante 19” para a roda da frente e de suspensões de curso mais reduzido.
A Suzuki apresenta uma resposta fácil de controlar capaz de respirar bem em regimes mais elevados, mas falta-lhe o ímpeto a baixos e médios regimes apresentados pela Honda.
Embora declare mais potência que a Honda, parece ter um pouco menos de fôlego no topo do conta-rotações. A Suzuki V-Strom faz uso de umas suspensões com um curso muito mais curto que o das restantes trail aqui presentes. Tem um comportamento mais firme que a torna mais precisa e agradável de pilotar em estrada.
A travagem da Suzuki é sacrificada por um tacto inicial demasiado progressivo, que acaba por retirar um pouco de mordida, obrigando a que se use mais força para a deter.
A protecção aerodinâmica proporcionada é a que melhor conforto garante, com um ecrã que tem a altura e a largura certa para garantir uma quase total cobertura do condutor.
Triumph Tiger 900 Rally Pro
Totalmente renovada nesta nova versão, a Triumph Tiger mudou um pouco o seu foco e centrou ainda mais as suas características na utilização fora de estrada.
Continua a haver três versões distintas, uma base [ndr. em 2021 substituida pela Sport), uma mais focada na utilização em estrada, a GT, e esta Rally pensada para quem quer sair de estrada.
O motor de três cilindros da Tiger 900 recebeu uma profunda alteração nesta nova versão, tendo a Triumph procurado encontrar uma resposta mais próxima de um bicilíndrico. Pela negativa ganha-se um certo desequilíbrio que acarreta algumas vibrações extra que se tornam mais notórias quando se roda a uma velocidade constante em autoestrada.
Com Jante de 21 polegadas na frente, umas suspensões bastante longas e com um amplo curso a Tiger está preparada para enfrentar os desafios mais duros fora de estrada, com as suspensões a mostraram-se sempre capazes de digerir as grandes irregularidades.
Em estrada garantiram um excelente controlo, sendo capazes de ultrapassar as irregularidades com suavidade, garantindo um elevado nível de conforto.
O tacto não é excelente, normal numas suspensões tão longas. Mas a afinação da forquilha faz-se de forma muito simples, sem ferramentas com a compressão num lado e a extensão no outro. Os travões da Tiger são muito potentes, e diretos a partir de meio do curso da manete
Na Triumph a posição de condução continua a ser a ser marcada pelo guiador algo afastado, que obriga a esticar um pouco os braços para o alcançar. Com uma protecção aerodinâmica que não é tão boa quanto a da Suzuki, acaba por satisfazer bem.
O comparativo entre a Honda CRF 1100 Africa Twin, Suzuki V-Strom 1050 XT e Triumph Tiger 900 Rally Pro encontra-se na edição Nº 1485 da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1485/
Outros artigos: