Contacto Harley-Davidson Livewire

O projecto LiveWire da Harley-Davidson entra numa fase crucial, com o início da produção da primeira moto eléctrica da mítica marca americana. O nosso colega Alan Cathcart, que rodou em praticamente todas as motos eléctricas que foram aparecendo na última década, foi aos Estados Unidos conhecer a H-D Livewire.

Texto Alan Cathcart • Tradução e adaptação Vitor Martins

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Sensações

Sentar a bordo da LiveWire é fácil, dada a magreza da moto e o assento acessível, a 780 mm do solo – e existe um assento 25 mm mais baixo, como opcional. Não temos a sensação de estar em cima de um mamute carregado de baterias, que chega aos 249 kg. O conjunto de baterias pesa 113 kg, o que naturalmente pode causar alguns problemas de equilíbrio, mas a Harley resolveu isto ao optimizar o centro de gravidade e distribuição do peso para fazer com que o peso da LiveWire não se sinta, mesmo a baixas velocidades manobrando pelo trânsito, ou no parque de estacionamento.

O guiador é relativamente plano e largo, encorajando uma posição de condução ligeiramente inclinada para a frente, numa posição semi-desportiva, com os pousa-pés altos e recuados. Este é sem dúvida o modelo mais desportivo do catálogo da Harley-Davidson, assim como o mais potente, e se – e quando – a Ducati decidir electrifi car a sua Diavel, provavelmente vamos ter a mesma sensação de que na LiveWire. A qualidade de construção parece muito boa, com iluminação LED à frente e atrás, e boas montagens e acabamentos, exceptuando alguns cabos desprotegidos nos piscas dianteiros.

 

 

 

 

 

A tomada colocada no centro do ‘depósito’ é um design inteligente e que ajuda na acessibilidade: o sítio onde ligamos a ficha para carregar a Livewire é o mesmo local onde tradicionalmente enfi amos a pistola para abastecer de combustível. Nesta altura acho que devo imodestamente reivindicar que já conduzi mais motos eléctricas (não scooters), em estrada e circuito na última década que qualquer outra pessoa no planeta. Por isso a minha avaliação da condução da LiveWire tem alguns pontos de referência, e fi cou rapidamente aparente após os primeiros quilómetros que a equipa de E-engenharia da Harley, liderada por Glen Kovac, fez um fenomenal trabalho no desenvolvimento da LiveWire.

Logo ao arrancar em modo Road mostrou que o acelerador está bem mapeado, com a lendária ligação entre a nossa mão direita e a roda traseira evidente em todas as posições do acelerador. Apesar do seu peso, a LiveWire é fácil de conduzir com os pés nos pousa-pés a muito baixa velocidade, como num parque de estacionamento, mas assim que chegamos à rua, um rodar rápido do acelerador catapulta a moto para a frente de modo totalmente controlável. Como noutras E-bikes, esta aceleração espirituosa rapidamente se torna viciante, e ainda mais pelo facto de acontecer estranhamente ao som do silêncio, até rodarmos a 80 km/h ou mais. É aí que o ruído do vento nesta moto sem protecção aerodinâmica toma conta de tudo, até aos 185 km/h de velocidade máxima a que a LiveWire avidamente me levou.

Viciante é certamente a palavra que descreve isto, e o modo como a LiveWire aparentemente tem sempre prestações extra em reserva para quando precisamos, mesmo em modo Road, para utilização diária, é simplesmente impressionante. Embora cada modo de condução seja claramente diferente, acho que os engenheiros da Harley falharam um pouco no modo Sport. Isso porque, apesar do estelar conjunto Brembo, adicionaram travagem regenerativa extra neste modo, e o resultado é que é difícil manter alguma suavidade numa série de curvas. Isto porque quando desaceleramos mesmo que pouco apenas para ajustar a velocidade, a travagem regenerativa é intrusiva e temos que acelerar de novo para o ápice da curva.

E de novo na curva seguinte, tornando difícil conduzir com suavidade. É possível ajustar a regeneração através da app, mas eu preferia um ajuste na própria moto, disponível em andamento. Por outro lado, o modo Rain praticamente não tem travagem regenerativa, forçando-nos a usar os travões para abrandar no molhado, em vez de deixar a regeneração ajudar-nos. No entanto, a vantagem de ter três modos personalizáveis é que podemos ajustar os mapas para os adequar aos nossos gostos para um determinado conjunto de condições, por isso eu sei como faria o meu modo Rain Plus mais eficaz! No tempo seco que apanhámos no dia em que a conduzimos, a excelente maneabilidade da LiveWire chegou-se à frente. Com 1490 mm a distância entre eixos é relativamente contida, especialmente pelos padrões da H-D, e a geometria de direcção foi bem escolhida para tornar a moto responsiva e inspiradora de confiança.

A forquilha invertida Showa Big Piston/SFF-BP de Ø43 mm está a 24,5°, com 108 mm de trail, e o resultado é um surpreendente nível de agilidade para uma moto tão pesada – só que nunca se sente pesada. A direcção é muito boa, especialmente a baixa velocidade, onde o guiador largo se faz valer ao ajudar a mudar de direcção com facilidade e precisão, e para além disso consegue manter a trajectória durante a curva, e é estável sob forte travagem. Mas enquanto que a suspensão dianteira parecia estar bem configurada para as superfícies irregulares que abundam na zona metropolitana de Portland, a traseira parece ser menos complacente, e fazia-me saltar no assento nas lombas mais pronunciadas. Não há qualquer ponto de exclamação sobre o sistema de travagem, que é um dos melhores da Brembo numa moto eléctrica, com pinças monobloco de montagem radial que mordem dois discos flutuantes de Ø300 mm (um de Ø260 mm atrás), com muito tacto. A Harley resistiu à tentação de substituir a manete da embraiagem inexistente por uma que operasse o travão traseiro, e isso torna a LiveWire mais ‘normal’ quando a conduzimos. Todo o conjunto é acessível e eficaz.

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