Texto Domingos Janeiro • Fotos KTM
Porta de entrada
Fomos das primeiras publicações a nível planetário a apresentar as primeiras impressões de condução sobre este modelo, na edição 1472, com o contacto em exclusivo feito pelo nosso colaborador Alan Cahtcart, que embora tenha sido num modelo de pré-produção, era já a versão definitiva. Ficámos com a clara ideia de que a KTM tinha conseguido fazer “algo de bom” logo à primeira e por isso, a nossa curiosidade ficou ainda mais aguçada.
Não foram poucas as vezes que diversas pessoas me transmitiram algum receio sobre a qualidade dos acabamentos e por isso, foi das primeiras coisas que fui comprovar assim que tive a oportunidade de lhe pôr a vista em cima. Posso-vos assegurar que não há nada neste conjunto que mostre falta de cuidado ou que transpareça falta de qualidade. Os indianos sabem trabalhar e com um apertado controlo de qualidade feito pelos austríacos, só poderia dar este resultado! Não se esqueçam que há muitos outros modelos da laranja KTM a serem produzidos na neste país Asiático e com qualidade comprovada. Nada a temer!
Ao olharmos para a nova 390, temos a sensação de estarmos a ter um “dejá vu”, pois o corpo remete-nos para a nova 790. É fácil confundi-las, principalmente para os menos experientes ou recém-chegados ao meio. É de facto um modelo que causa impacto, não só pela silhueta, mas também pela estética. E a forquilha invertida dianteira? Pois é, é o que dá ter bons produtos em casa que podem ser facilmente utilizados sem que isso signifique um preço exorbitante. Outra surpresa chega-nos quando olhamos para o preço final (6743€)! Embora seja ligeiramente mais cara que grande parte das rivais, tudo o que nos oferece torna-a ainda mais apetecível.
Entrada perfeita
Nascida para encurtar a distância entre as cilindradas disponíveis até então na gama KTM, este é um modelo que aponta, essencialmente, aos jovens que pretendem evoluir das pequenas 125 cc. Os 32 kW do motor (44 cv) abre portas aos encartados A2, que passam a ter uma trail de aventura de grande qualidade, a preço competitivo, com consumos e manutenção económicos e com um nível elevado de prestações. Além disso, em termos técnicos e tecnológicos não dá hipóteses, pois além do ABS (off road e cornering), obrigatório, disponibiliza controlo de tracção, e um painel TFT de última geração com ligação aos smartphones. Tudo o que é desejado e “obrigatório” nos dias que correm…
Através deste modelo a KTM pretende captar a atenção dos mais jovens, mais cedo, no segmento das trail, onde ainda não possuíam oferta, assegurando assim depois a continuidade para as cilindradas superiores. A polivalência do estilo trail, permite aos utilizadores gozarem de boas prestações nas deslocações diárias para as cidades, um desempenho confortável e muito prático nos centros urbanos, oferece a possibilidade de se fazer as primeiras grandes viagens de forma confortável e abre horizontes fora de estrada, de forma incrivelmente eficaz. Versatilidade que reproduz fielmente os valores base da KTM.
Misturar conceitos
Inequivocamente, o segmento trail é dos que mais tem estimulado a economia e o que mais fãs continua a ter, repartidos pelas diversas cilindradas, idades e, naturalmente, marcas. Tendo por base este ponto de partida, a KTM não se limitou a acrescentar mais um modelo à gama, foi mais além, quis criar um modelo com substância e capaz de manter os pergaminhos da marca.
Assim, olhou para os ingredientes que tinha disponíveis em casa e “cozinhou” um modelo que foi buscar a versatilidade do motor da Duke 390, a estrutura da 790 Adventure e até alguma inspiração à 450 Rally. O motor monocilindro é muito versátil, estreando- -se agora num contexto mais lato, onde se incluem as incursões fora de estrada, acompanhado por uma ciclística de elevado nível. Uma ergonomia cuidada e um conjunto com baixo peso, deram origem então à mais pequena das aventureiras austríacas.
Sem surpresas
Chegámos à Ilha de Tenerife, um dos melhores locais possíveis para testar motos deste estilo, devido à qualidade das estradas e também graças aos infindáveis troços fora de estrada, para todos os gostos e níveis, com as expectativas em alta e à espera de muito, por parte deste novo modelo da KTM. Não ficámos defraudados e tal como já referimos no início deste trabalho, estamos perante o novo alvo a abater no segmento. No primeiro contacto, notamos que é corpulenta e algo alta, mas a boa distribuição dos seus 158 kg a seco torna-a leve e ágil.
No entanto, os menos experientes vão agradecer o assento mais baixo. Posição de condução natural, embora a colocação do guiador nos tivesse parecido baixa. No entanto, a ergonomia é muito confortável, natural e descontraída em qualquer cenário (estrada ou cidade) mesmo depois de muitos quilómetros consecutivos.
O conforto fica também a dever-se ao conjunto de suspensões, com destaque para a forquilha invertida instalada na frente, da WP, com bainhas de 43 mm, com 170 mm de curso, totalmente ajustável e o amortecedor traseiro, também WP e com ajuste da recuperação e da pré-carga da mola. Ágil leve e equilibrada, leva-nos a enfrentar as curvas e contracurvas de forma segura, permitindo-nos ganhar muita confiança ao ponto de começarmos a olhar para as motos de maior cilindrada que seguem à nossa frente e que num cenário de montanha, dificilmente nos fogem. Aqui, temos uma palavra a dizer sobre os pneus, os Continental TKC 70 que mesmo nas zonas húmidas nunca escorregaram.
O quadro em treliça faz-se notar rígido e sem torsões, que contribui para esta agilidade e segurança apreciável. O conjunto de travagem, composto por um disco dianteiro de 320 mm, com pinça radial de quatro êmbolos e um disco traseiro de 230 mm com pinça de êmbolo simples, mostram bom tacto e potência de sobra, principalmente o dianteiro, onde ficamos surpresos com a potência. O capítulo do equipamento fica fechado com o ecrã dianteiro ajustável em duas posições, com recurso a ferramentas, protecções para as mãos e para o cárter, também de série. O sistema de quick shift já vem equipado de série mas desactivado, pelo que os interessados terão que pedir ao concessionário que desbloqueie essa função, mas com um custo associado.
Motor enérgico
A Duke 390 criou grande parte da reputação graças ao motor que a equipa e que transita agora para a nova Adventure. Por isso, não ficámos surpreendidos com a alegria e disponibilidade deste monocilíndrico de 373 cc de capacidade, que coloca à disposição 44 cv, o equivalente a 32 kW, enquadrando assim este modelo na classe A2. Os 37 Nm de binário fazem-se sentir desde cedo, mostrando um regime baixo/médio de rotação indicado para uma utilização em cidade.
Se é verdade que é um bloco cheio, redondo e muito linear, também é verdade que se queremos emoção, temos que o levar a subir ao patamar das 4000 rpm e se quisermos uma condução mais desportiva, temos que passar para as 6000 rpm. Na prática significa que quando ganhamos confiança e passamos a exigir mais naquelas estradas pejadas de curvas, teremos que recorrer com alguma frequência à caixa para manter o motor acima das rotações indicadas.
Embora tenhamos os pousa-pés revestidos com borracha (desmontável para quando utilizarmos fora de estrada), sentimos algumas vibrações nos pés e mãos, mas sem causarem desconforto. Numa toada despreocupada e num cenário de utilização mista (cidade, auto-estrada, curvas e off road), obtivemos um consumo de 4 litros aos 100 km.
No geral, surpreende pela eficácia com que enfrenta todos os cenários, principalmente quando rodamos bem depressa em estradas de montanha, com um forte carácter do motor, acompanhado por uma ciclística que permite correcções de trajectória já a meio da curva, graças ao Cornering ABS. A caixa de seis velocidades oferece um bom escalonamento, com bom tacto, com o quick shift a apresentar algumas falhas, que nos obrigam a ser determinados na hora de passar de caixa, tanto para cima, como nas reduções. A embraiagem deslizante ajuda a reduzir o saltitar da roda traseira nas reduções mais bruscas e é muito confortável de operar.
Equipamento
Da 790 Adventure herdou também o painel, completíssimo, TFT, com toda a informação necessária, de fácil leitura e com comandos intuitivos. Ao lado deste encontramos uma tomada de 12V e por cima, a pré-instalação do sistema de GPS.
Ainda no que diz respeito à informação disponível, temos tudo o que é necessário para controlarmos todos os aspectos da moto, com a possibilidade de podermos ligar, via Bluetooth, os smartphones. A partir desse momento passamos a ver as chamadas, mensagens, indicações de GPS no painel e música, tudo isto graças à aplicação KTM My Ride, através da qual podemos fazer ajustes e gravar as nossas viagens e dados da nossa 390 Adventure. Basta conectar um intercomunicador ao sistema e desfrutar de todas as potencialidades.
Curta mas muito divertida
Depois de alguns quilómetros aos seus comandos, começamos a notar que o motor acaba por apresentar algumas limitações, mas ainda assim, não podemos esquecer que estamos a bordo de uma 390, que por sinal até tem o motor mais interessante do segmento… O problema é que a moto é tão fácil, segura e ágil, que acabamos por chegar, com alguma rapidez, aos seus limites e querer mais.
Mas para os menos experientes, é sinal que vão ter uma adaptação muito rápida e fácil. Quando sentirem que a 390 ADV começa a ser curta, estão preparados para dar o passo seguinte e passar à 790!
Ficha Técnica
KTM 390 ADVENTURE | |
PREÇO | 6 743 € |
MOTOR TIPO | um cilindro, 4T, refrigerado por líquido |
DISTRIBUIÇÃO | duas árvores de cames à cabeça, 4 válvulas |
DIÂMETRO X CURSO | 89 x 60 mm |
CILINDRADA | 373 cc |
ALIMENTAÇÃO | injecção electrónica |
IGNIÇÃO | electrónica digital |
ARRANQUE | eléctrico |
CAIXA | 6 velocidades |
FINAL | por corrente |
POTÊNCIA MÁXIMA | 44 cv/9000 rpm |
BINÁRIO MÁXIMO | 37 Nm/7000 rpm |
QUADRO | treliça em tubos de aço |
DIMENSÕES (C/L/A) | n.d. |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1430 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 855 mm |
SUSPENSÃO DIANTEIRA | forquilha invertida WP, Ø43 mm, ajustável, curso 170 mm |
SUSPENSÃO TRASEIRA | monoamortecedor ajustável, curso 177 mm |
PNEU DIANTEIRO | 100/90-19” |
PNEU TRASEIRO | 130/80-17” |
TRAVÃO DIANTEIRO | disco de Ø320 mm, pinça radial de 4 êmbolos, ABS |
TRAVÃO TRASEIRO | disco, Ø230 mm, pinça de um êmbolo, ABS |
DEP. DE COMBUSTÍVEL | 14,5 litros |
PESO (A SECO) | 158 kg |
CORES | branca e laranja |
GARANTIA | 2 anos |
IMPORTADOR | Jetmar |