A Yamaha de vez em quando tira um coelho da cartola e apresenta algo inédito. Quem não se lembra da TDR 250? Ou da GTS 1000? Da TDM 850? E mais recentemente, a Niken continuou essa saga de originalidade, concebendo motos que são difíceis de catalogar num determinado segmento, ou que cabem em mais do que um. A própria Tracer nasceu com essa dicotomia. E agora aparece como Yamaha Tracer 9 e Tracer 9 GT.
Em 2015, a Yamaha pegou na MT-09 e fez uma espécie de trail. Muitos aceitaram a MT-09 Tracer 900 como uma sucessora moderna da incatalogável TDM 850/900. E em termos de filosofia, até era uma definição acertada. Era uma trail estradista – por causa da estética e posição de condução – com aspirações touring. Essa faceta touring acabou por sobrepor-se a tudo o resto, e em 2018, a Tracer 900 deixou de ser uma MT, e a própria Yamaha reposicionou-a na sua gama: era agora assumidamente uma sport touring; tanto que nesse ano apresentou a versão GT.
Recuperamos este contacto com a Yamaha Tracer 9 e Tracer 9 GT da edição Nº 1505 (Maio de 2021) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1505/
Agora chegou a hora de renovar o modelo, e a Tracer volta a mudar de nome, passando a chamar-se apenas Tracer 9. Continua a existir em duas versões, a standard e a GT. A comprovar a decisão acertada da orientação touring do modelo estão os números: as vendas na Europa dividem-se entre 25% para a versão standard, e 75% para a GT.
Para além disso, a Tracer 9 ganha nova responsabilidade, uma vez que a histórica FJR 1300 meteu os papeis para a reforma. Com o desaparecimento deste modelo será a Tracer 9, a par da mais exclusiva Niken, a assegurar as ânsias turístico-desportivas dos clientes Yamaha.
Apesar das sport touring serem um segmento que globalmente tem perdido quota de mercado – especialmente para as mais versáteis trails – no caso da Yamaha é o segundo mais popular, atrás apenas das Hypernaked, representando 21% das vendas da marca japonesa na Europa (43% para as Hypernaked, 15% apenas para o segmento Adventure – quando é que a Yamaha se decide a renovar a provecta Super Ténéré?). A renovada Tracer 9 tem tudo para manter essa tendência. Usa o aclamado motor CP3 viu a sua cilindrada aumentada em 42 cc, tendo agora 889 cc. O aumento de cilindrada, conseguido graças ao aumento de 3 mm no curso (agora 78 × 62,1 mm) trouxe consigo um aumento 4 cv na potência máxima, que é agora de 119 cv às 10 000 rpm, com um binário de 93 Nm às 7000 rpm, um valor 6% superior ao anterior e conseguido 1500 rpm mais cedo.
Apesar do aumento de cilindrada, o motor pesa menos 1,7 kg que a versão anterior. A Yamaha diz que este motor está 9% mais eficiente em relação ao anterior, com um consumo de 5 litros por cada 100 km. Os coletores de escape e admissão foram redesenhados, não só para refinar as prestações mas também para melhorar a sonoridade.
Apenas na GT, a caixa de velocidades está equipada com quick shift em ambas as direcções, e as duas primeiras velocidades foram alongadas. O motor de três cilindros em linha é montado num quadro totalmente novo. É mais leve que o anterior, mas proporciona mais 50% de rigidez lateral, com paredes que chegam a ter apenas 1,7 mm de espessura. A coluna de direção está 30 mm mais baixa, mas mantém a mesma geometria de direção da geração anterior. Mantém também a mesma distância entre eixos, apesar de um braço oscilante 64 mm mais longo do que na MT-09, de quem se afasta um pouco mais nesta geração.
Para cumprir ainda melhor a sua faceta touring, o sub-quadro traseiro é agora em aço para poder receber mais carga. As jantes também são diferentes, e não apenas no design. Agora são forjadas em rotação, um processo mais económico mas que permite uma espessura mínima de 2 mm no material, ao contrário dos 3,5mm de anteriormente. Com isto, o par de jantes é 1 kg mais leve do que o conjunto usado anteriormente. A poupança de peso nalguns componentes contrabalançou a introdução de outros componentes que aumentaram o peso, mas mesmo assim o saldo é positivo: a versão standard pesa 213 kg em ordem de marcha, menos 1 kg que a versão anterior.
Para que todos se sintam confortáveis a bordo, a Tracer 9 tem um certo nível de ajuste na posição de condução. Não só o assento pode ser ajustado em duas posições distintas, 810 e 825 mm de altura em relação ao solo (mais baixo do que na geração anterior), como os pousa-pés podem avançar e recuar 4 mm e ser ajustados em altura em 14 mm.
O guiador pode também ser montado em duas posições mais à frente, ficando 4 mm mais alto e 9 mm mais longe do condutor. Para isso basta inverter os suportes do guiador. A posição de condução deixa-nos o tronco vertical, com os pés ligeiramente mais altos e recuados que numa verdadeira trail.
À nossa frente o novo painel de instrumentos dá nas vistas. É composto por dois ecrãs TFT, de 3,5 polegadas cada um, com um formato que faz lembrar o simpático robot WALLE do filme de animação da Pixar com o mesmo nome. À frente deste o vidro dianteiro de generosa dimensão é ajustável em altura, manualmente, bastando apenas uma mão, podendo ser feito em andamento.
Tecnologia e conforto
Pode ser apenas o efeito placebo em resultado daquilo que foi reivindicado na apresentação técnica da Yamaha, mas o motor parece mesmo mais cheio ao longo de todos os regimes, com um empurrão muito respeitável. Graças à IMU de seis eixos, o conjunto de sistemas eletrónicos está mais avançado do que na geração anterior da Tracer 9.
O D-Mode oferece agora quatro modos diferentes de condução – mais um do que anteriormente -, do mais agressivo 1 ao mais calmo 4, que é o único em que o valor de potência máxima é reduzido.
A Yamaha considera o 2 o ‘standard’, o mais polivalente, mas na verdade o controlo do novo acelerador eletrónico APSG (Accelerator Position Sensor Grip) e o seu tato são tão bons, que quase bastava existirem apenas os modos 1 e 4 (este último para usar em condições de pouca aderência, como num dia de chuva).
Isto porque o sistema proporciona uma ligação tão direta da mão direita à roda traseira, e tão controlável, que tornam os modos 2 e 3 praticamente desnecessários: conseguimos controlar com precisão aquilo que queremos que a Tracer 9 acelere, com o motor a responder exatamente na medida certa.
Melhor do que isto só accionando o acelerador com o pensamento! E no caso de um possível exagero da nossa parte, o resto da eletrónica ajuda a corrigir o erro e regressar à normalidade.
Para além do controlo de tração, a eletrónica da Tracer 9 ajuda ainda a controlar a patinagem da roda traseira (TCS – Traction Control System), as escorregadelas laterais (SCS – Slide Control System) e os cavalinhos (LIF – LIFt control system). Cada um deles tem dois modos pré-programados, e outro totalmente personalizável em três níveis, podendo ainda ser desligados.
Para além disso, outra novidade na Tracer 9 é o BC (Brake Control), que na verdade é um sistema de travagem combinada gerida eletronicamente, graças à IMU. Quando é detetada uma pressão excessiva na manete do travão dianteiro ou no pedal do travão traseiro, o sistema modula automaticamente a pressão em ambos os travões, de modo garantir o máximo de estabilidade possível.
O BC é ajustável em dois modos. No primeiro o ABS funciona de modo tradicional, evitando o que as rodas bloqueiem numa travagem de emergência a direito, com a moto vertical. No modo BC2, há maior intervenção do sistema, que controla a pressão em situação de curva em caso de travagem brusca.
Máquina de traçar curvas
A resposta pronta ao acelerador acompanhada de uma banda sonora estéreo, pois graças às alterações o ronco da admissão é propositadamente bem audível, acompanhado por outro ronco do escape, ainda que ligeiramente abafado, mas ‘alegre’. E tudo isto beneficia a faceta sport da Tracer 9, que é uma verdadeira máquina de traçar curvas.
A versão standard está equipada com suspensões KYB que são firmes sem chegarem a ser desconfortáveis, e que permitem um comportamento dinâmico irrepreensível. E é aqui que está a maior diferença para a Tracer 9 GT.
As suspensões não são a única diferença entre as duas versões, mas talvez a mais significativa.
A GT possui malas laterais de origem (de 30 litros, bem integradas e com elas montadas a Tracer 9 não ultrapassa os 96 cm de largura), cornering lights – ou luzes de curva – e punhos aquecidos (em 10 níveis!), quick shift bi-direcional e suspensões semi-ativas KYB Actimatic Damper System (KADS).
Estas foram claramente pensadas para uma utilização mais touring do que sport. São ajustáveis eletronicamente em dois modos de amortecimento – A1, ‘sport’ e A2, ‘confort’ -, mas mesmo no mais firme, são ligeiramente mais macias que as da versão standard, beneficiando mais o conforto, à custa de perder alguma eficácia dinâmica em determinadas condições, como piso ondulado ou degradado.
Para além disso, a eletrónica controla apenas o amortecimento, ajustando- o constantemente às condições da estrada e ao tipo de condução. Mas a pré-carga da mola, quer na forquilha quer no amortecedor traseiro, tem que ser ajustada manualmente, requerendo ferramenta no caso da forquilha, e com um manipulo acessível do lado esquerdo para o amortecedor traseiro.
Por outro lado, as KYB ‘analógicas’ das versões standard parecem ter uma boa taragem de origem para um condutor a rondar os 80 kg, como eu. São ajustáveis em recuperação e pré-carga manualmente, mas o amortecedor não tem controlo remoto para a pré-carga.
Revelam um comportamento que beneficia mais a faceta sport, mas sem beliscar a faceta touring. Assim num primeiro contacto parecem ser mais polivalentes que as da GT, mais focadas no conforto de uma utilização turística.
O assento da GT é também ligeiramente diferente, mas são ambos igualmente confortáveis. Antes o cruise control estava reservado à versão GT, mas para 2021 a Yamaha decidiu equipar ambas as versões com este sistema, bem útil para quem faz muitos quilómetros.
Recuperamos este contacto com a Yamaha Tracer 9 e Tracer 9 GT da edição Nº 1505 (Maio de 2021) da Motojornal em https://fast-lane.pt/produto/motojornal-1505/
O vidro dianteiro oferece proteção q.b., mas devido ao desenho do seu suporte, com os quatro parafusos muito concentrados perto uns dos outros, trepida bastante, a qualquer velocidade. Nem quero imaginar o opcional, ainda maior… a GT é também ligeiramente mais pesada: 220 kg em ordem de marcha, uma diferença de 7 kg para a versão base que não se nota.
Depois de cerca de 180 km percorridos nas reviradas estradas da Toscânia num dia soalheiro mas frio, a Tracer 9 deixou muito boas impressões.
A sport touring japonesa não só beneficia da ‘jóia da coroa’ chamada CP3, como tem uma ciclística mais refinada, ao mesmo tempo que reforça a sua filosofia turística. Para além disso, oferece ainda uma vasta lista de acessórios, com os quais a Yamaha propõe três packs diferentes para a Tracer 9 e dois para a Tracer 9 GT.
Visite o site da Yamaha para Portugal para conhecer o preço atualizado destas duas versões do modelo.
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