Crónica Ana Lúcia Silva #08

Ana Lúcia Silva, mulher de um apaixonado por motos

De zero a duas

Já aqui mencionei que para os apaixonados por motos, por vezes, é-lhes difícil explicar certas decisões que tomam. Principalmente quando as partilham com um comum dos mortais. Só mesmo outro apaixonado por motos para conseguir entender o que lhes vai na alma.

Ainda que o protagonista desta história seja um grande amigo nosso, devo frisar que o apaixonado por motos cá de casa terá sido o grande instigador. Não por uma, mas por duas vezes! Ora prestem atenção.
O João planeava fazer a N2. Não queríamos ir sozinhos e resolveu enviar uma foto da N2 ao Bessa a dizer o seguinte: “Bora lá?” (pequeno pormenor: o Bessa estava sem moto! Enfim, detalhes…). Eis que ele responde: “Quando? Estou sem moto!”. Resposta do apaixonado por motos cá de casa: “Desenrasca-te”!

Passadas duas semanas, liga o Bessa: “Pronto, já está! Já tenho moto. Quando é que arrancamos?”. “O quê?” Pensei eu. “Tá doido! Talvez vá alugar uma moto para o efeito”. Mas não. Eis que passadas duas semanas, o Bessa era o feliz proprietário de uma Yamaha Diversion, de 1993! É verdade que o investimento não foi avultado, (até conseguiu um desconto por um dos escapes estar roto!), mas comprar uma moto em duas semanas, só para não perder a oportunidade de viajar e andar de moto, é de coração! Ou então não, é só irracional! Bom, adiante.

Não fizemos a N2, mas acabámos por dar uma volta por Trás-os-Montes. A Yamaha Diversion portou-se muito bem. Até que resolveram trocar de motos. O João fez uns quilómetros com a Diversion e o Bessa passou para a Ducati Multistrada. Bom, o que se passou a seguir só poderá ser explicado por apaixonados por motos. O Bessa delirou com a vibração da moto. E com tudo o que a rodeava. E o bichinho de ter uma moto nova, que lhe proporcionasse as mesmas emoções ficou lá.

Um ou dois meses depois, numa das idas à escola dos miúdos, o João passa por uma Yamaha FJR (modelo novo). A FJR sempre foi a perdição do Bessa. O João liga-lhe de imediato, a dizer que tinha visto a moto e que estava muito gira. Pronto, era só o toque que faltava. O Bessa começa de imediato a pesquisar na internet e a conversa dos dois durou o tempo suficiente para deixar o Bessa num êxtase que nem ele conseguia explicar.
Claro está que tudo isto me escapa completamente. Respeito, mas não consigo entender. Por mais que tente, não consigo. Talvez fazendo um (pequeno) paralelismo entre a excitação de ter uma moto nova e um par de sapatos novo ajude, ainda assim, é difícil! (Se bem que, por mais que eu me esforce, não consigo gastar tanto dinheiro num par de sapatos! Ou em vários!).

Em menos de um mês, novo telefonema: “João, já está!”. “O quê?” Pensei eu. “Outra?”. Oh, sim. O amigo Bessa era novamente o feliz proprietário de uma Yamaha, mas desta vez, uma Yamaha FJR, nova, azul baço, top case, malas laterais, linda de morrer. “A minha menina”, como ele lhe chama. Feliz, feliz, feliz.

E assim se passa de zero a duas motos, num espaço temporal de 4 meses. Palavras para quê? É o coração a falar!

Até à próxima e Boas Voltas!